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Minissérie Fragrante – Quando a lágrima secou (Episódio 09) - .inversivel
Fragrante – Quando a lágrima secou (Episódio 09)
Mishael Mendes/ Inversível

Fragrante – Quando a lágrima secou (Episódio 09)

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Mesmo com a amiga sendo do contra, Jennie seguiu o instinto e partiu pra encontrar o crush, mas após chamar bastante, descobriu que levou um bolo. Pra não perder viagem, resolveu andar pelo bairro, foi aí que conheceu Chuck – o gatinho da sorveteria.

Se ela tinha saído de casa sem certeza de que ia rolar algo, o tempo só pareceu confirmar ainda mais essa sensação – aquele não parecia ser o dia tão esperado – foi quando uma resposta positiva mudou toda perspectiva e o final foi tão extasiante que ela até caiu no buraco.

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Jennie estava tão empolgada que parecia balão de ar quente, assim deslizou até em casa, ao chegar lá precisou disfarçar pra ninguém perceber, se não ia chover de perguntas querendo saber o motivo da felicidade gratuita. Despistar o irmão e o pai era o de menos, o difícil era a mãe.

— Vai jantar não, Jennie!? – A mãe mandou de surpresa, assustando-a.

— Tô com fome não, depois vejo alguma coisa. – Ela continuou andando.

— E como… – Mas a filha nem chegou a ouvir, já tinha fechado a porta.

— Detesto deixar a mãe falando só, mas se ela olhasse minha cara ia saber.

Como a felicidade era grande demais pra conter em si, bastava um olhar da mãe pra se desfazer em sorrisos, então correu pro quarto, se trancou lá, aí ficou jogada na cama, sorrindo feito boba pro teto.

Após passar um bom tempo nesse estado, vendo menos o que os olhos captavam e mais o que a memória tinha registrado, como se no teto passasse as melhores cenas daquele dia incrível, ela voltou várias vezes o final – que tinha sido ainda melhor que qualquer série. Após suspirar bastante, lembrou que tinha que contar pra alguém e ligou pra Vee.

— Cê não sabe o que aconteceu!

— Ainda não, mas conta aí.

— Vô dar uma pista: cê tava errada.

— Não vai dizer que cê ficou com o boyzinho lá.

— Siiiim! – A voz exalava felicidade.

— Ai, miga, acho que cê não devia ter feito isso.

“Amor não é apenas dor, mas também não é somente flores.”

— Credo, vô mó feliz contar e cê vem com balde de água fria.

— Não é isso, só acho que depois de tudo, cê devia ter esperado mais.

— Esperar pra quê?

— Pra não parecer tão interessada, mas já eras. E aí, como foi!?

— Ah… foi bom. – Jennie respondeu vagamente.

— E onde foi?

— Ele me trouxe em casa, aí rolou o beijo, mas agora preciso desligar, depois a gente se fala.

— Tá, beijos!

— Beijos.

Se Jennie quisesse, podia ficar a noite toda pendurada no celular que ninguém ia incomodar, mas ela ficou tão chateada com a amiga que perdeu a vontade de contar o que houve e do quanto foi especial o instante que ficou com Simey, onde o tempo deixou de fazer sentido, assim, por mais que o desejo fosse gritar pros quatro ventos o que tinha acontecido, respirou fundo e guardou apenas pra si mesma.

Bom, mais ou menos isso, inspirada como estava resolveu compartilhar tudo o que tinha acontecido até ali, desde como aconteceu o encontro inesperado, na praça central, até o beijo. Então recuperou o blog, que andava abandonado a alguns anos, onde escrevia poemas e contos – partes de si mesma em poesias e risos.

Ao escrever, Jennie se sentiu mais dona de si, colocar em palavras aquela imensidão de sentimentos e sensações era libertador. Sabia que ali não precisava ter medo de ser recriminada, tudo não passava de palavras que podiam ou não condizer com a realidade.

Dificilmente ia dar pra associar a ela, a autoria do blog ficava oculta e no conto, envolvendo ela e Simey, foram alterados nomes, fatos e lugares pra dificultar saber se a história era verdadeira ou tinha sido apenas fruto de uma mente bem criativa, sem falar que a maioria estava em inglês, pois isso lhe ajudava a praticar o idioma.

A semana foi bem corrida, com Simey atarefado e Jennie fazendo prova todos os dias, assim, os dois mal se falaram. Com pouco tempo pra respirar, ela nem cobrou atenção, até porque a lembrança estava viva a ponto de disparar o coração toda vez que recordava dos lábios dele tocando os seus, enquanto a mão do crush segurava sua cabeça por baixo dos cabelos.

— Cê não vai me convidar pra entrar? – Jennie soltou após encarar Simey por um tempo e ele não dizer nada.

Pra compensar a falta de conversa, no sábado, por volta das quatro – quando ela sabia que o crush tinha chegado do serviço – apareceu na porta dele. Havia sido tão bom quando ficaram e ela tinha certeza que não foi a única a sentir isso, então ficou contente ao vê-lo, esperando uma recepção melhor que a da última vez, mas ele parecia diferente.

— E aí, parça, bora lá? – O amigo dele apareceu de mochila, na porta.

— Foi mal, tô indo acampar com os amigos. – Simey disse, sem jeito.

— Ah… é que como a gente não se falou na semana, pensei em passar aqui.

— Pois é, como a gente não se falou, esqueci de avisar, mas a gente se vê! – Simey ergueu a mão e se afastou.

— Te mando mensagem, então.

— Nem adianta, lá não tem sinal e não sei quando volto.

— Tendeu… então a gente se fala depois. – Jennie encarou, esperando pelo menos um beijo.

— Sim, a gente se fala na semana! – Bem na hora, o resto dos amigos chegou num Duster preto. – Preciso ir, tchau!

— Ah… tchau! – Jennie acenou e observou ele brincar com os amigos, todo contente, até o carro sair de seu campo de visão.

“Comer com vontade, sem deixar sobrar do prato preparado é o melhor elogio pra quem cozinha.”

Jennie se sentiu estranha, mas ignorou, afinal, depois de uma semana puxada tudo que alguém ia querer é aproveitar o fim de semana com os amigos e foi isso que Simey fez, ele só esqueceu de avisar – talvez se ela tivesse puxado conversa já estivesse sabendo. Só após embarcar no ônibus foi lembrar que podia ter aproveitado pra ver Chuck, mas agora estava a caminho de casa.

Como tinha tempo de sobra, aproveitou pra colocar as séries em dia e se empolgou tanto que foi deitar com o sol despertando, mas não tinha problema, já que os domingos foram feitos pra dormir até tarde e foi exatamente isso que ela fez. Quando acordou, foi só o tempo de escovar os dente e tomar banho, que o almoço estava pronto – e olha que o rango costumava sair bem mais tarde de domingo.

Naquele dia, Cindy realmente caprichou, ela fez um macarrão à bolonhesa – com direito a azeitona – polvilhado com uma boa porção de queijo ralado e, ainda por cima, gratinado. Pra acompanhar o prato principal havia salada de alface americano e tomate, temperados com azeite e limão, um suculento frango assado e pra beber suco de laranja.

Jennie aproveitou pra tirar uma foto da mesa e postar no Status. Enquanto a geral gostava de ostentar os panos, pisantes e até gadgets, preferia fazer isso com comida boa, ainda mais a da mãe que rendia vários comentários.

A macarronada estava tão gostosa que só se via as serras em cima dos pratos, teve até quem repetiu, deixando Cindy contente – comer com vontade, sem deixar sobrar do prato preparado é o melhor elogio pra quem cozinha.

Após um almoço gostoso, que a fez sujar toda a boca de molho, Jennie foi ler um pouco, mas o cansaço pesou e ela acabou cochilando no meio da leitura. Algum tempo depois, o qual ela não soube precisar, apenas que se sentia mais disposta, foi saborear um delicioso pudim, daí voltou ao livro, foi quando surgiu uma notificação de mensagem de Simey.

Ao perguntar como estava lá, ele disse que por causa da chuva intensa precisaram arrumar uma casa pra ficar, nisso Simey aproveitou pra saber se ela estava a fim de ir na Starbucks, perto da praça.

— Vô chegar de noite, aí te aviso.

— Beleza, vô esperar.

O tempo passou até rápido, a noite foi chegando e nada de Simey mandar mensagem. Jennie abriu a conversa e viu as últimas mensagens, só aí se deu conta que ele tinha dito que se ela fosse ele ia agarrá-la, mas afoita como estava, querendo saber as novidades, nem percebeu a direta, se não teria aproveitado o embalo.

Como escureceu e nada de chegar mensagem, ela perguntou se Simey tinha chegado, ele confirmou, mas disse que não ia dar pra sair porque estava cansado, mas que marcavam depois, ela apenas respondeu que tudo bem.

Com as notas fechadas, Jennie nem precisava ir pra escola, só foi mesmo pra fazer aquela baguncinha básica, de lá passou as tardes curtindo com os amigos, já que ultimamente andava caseira demais, dessa forma a semana se foi num pulo e mensagem nenhuma chegou.

Ficou surpreso

— James, hoje é seu dia de sorte! – Ela disse ao entrar na cozinha.

— É mesmo?

— Sim!

— É nada!

— Claro é!

— Como cê sabe?

— Porque vô te acompanhar no curso hoje.

— E a sorte tá aonde, nisso?

— Que cê vai ter minha companhia!

— Assim, de graça?

— Sim, ué! Não posso querer ir junto do meu irmão lindo?

A resposta não convenceu muito James, ele suspeitou das reais intenções e logo começou a zoar, mas Jennie nem ligou e foi assim mesmo.

A aula foi dinâmica e animada, igual à primeira que assistiu. Simey parecia sempre tão inteligente – era até difícil saber o que se destacava mais nele, o intelecto ou a beleza.

“Ainda dizem que gente bonita não é inteligente. Se isso é verdade, ele é a melhor exceção.” – Jennie suspirou enquanto o crush explicava.

No outro lab, Simey a cumprimentou beijando-lhe o rosto e disse estar contente dela reaparecer, a geral aproveitou pra zoar, e se o beijo a envergonhou, isso a deixou mais vermelha, mas como Simey era da zoeira, desviou o assunto. O resto da aula Jennie se contentou em apenas observar o boy interagir com os alunos – a sala mais parecia um encontro de amigos.

Quando a aula acabou, Jennie aproveitou pra se despedir, Simey deu um beijinho no rosto dela e disse pra aparecer mais vezes, daí virou pra falar com outros alunos, então ela correu pra acompanhar James. Dali a galera ia pra praça, mas ela inventou uma desculpa qualquer e foi pra casa.

— Por que ele tava assim? – Jennie não entendeu. Ela imaginou que, pelo menos, ele ia acompanhá-la até lá fora, onde podiam conversar um pouco e, quem sabe, até rolava um beijo, mas acabou que Simey a tratou como uma de suas alunas, foi simpático, sim, lindamente, mas apenas isso.

— Mãeee, cheguei!

— Oi, Simey, como foi o dia?

— Ah, de boas!

— Que bom! – A mãe sorriu.

— Prepara pra mim abacate com leite, mãezinha?

— De novo, filho?

— Ué! Quando foi a última vez que tomei?

“Amor não é apenas sobre flores, mas também não é somente espinho, mas quando espetam a ferida é profunda e demora a sarar, porém, uma hora cicatriza.”

— Ontem.

— Então já posso tomar hoje! – Ele piscou, sapeca.

— Você não acha que está tomando muito abacate com leite?

— Mãe, além de ser uma delícia, abacate é gordura saudável, ele reduz o estresse, o colesterol, a chance de desenvolver diabete e rugas, prevenindo o envelhecimento precoce da pele, regula o intestino, é anti-inflamatório, melhora a memória, a capacidade de concentração, a visão e o sono, projete contra o câncer, tem ação direta nos ossos e articulações, aumenta a quantidade de massa magra que define o shape, recupera o tecido dos músculos e gera energia e saciedade, diminuindo o apetite e ajudando no emagrecimento. Fora que ele ainda tem uma porrada de vitaminas, fibras e minerais.

— Está bem e… ah, você tem visita!

— Eu!? Mas não tô esperando ninguém. – Simey estranhou. – Quem é?

— Uma garota ruiva, ela está na cozinha.

Após tomar uma deliciosa batida de abacate com leite, iogurte natural, mel e gelo, Simey e Jennie foram pra sala, onde ficaram jogando “Need for Speed”, antes de escurecer ela disse que precisava ir e ele a acompanhou até a porta, foi quando ele falou que era melhor se afastarem, pois, era velho pra ela, além de várias outras desculpas tão esfarrapadas quanto essa – ele tinha apenas cinco anos a mais.

Jennie não conseguiu escutar, no momento em que ouviu a palavra afastar, não prestou mais atenção em nada, o que chateou mesmo foi nem o término, mas os motivos sem sentido.

Teria doído menos se ele simplesmente falasse que não estava mais a fim, agora falar que não a resistiu? Foi demais!

“É importante cuidar do coração, pra não deixar qualquer um entrar nele.”

— Tendi… tudo bem, agora preciso ir, tchau!

— Tchau! – Foi ela dar as costas e Simey fechou a porta.

No mesmo instante ela percebeu o erro que foi ter decido no meio do caminho de casa e pegado o ônibus pra lá – às vezes o destino que a gente deseja pode ter um fim tão ruim que era melhor nunca ter seguido até ali.

Quando estava a uma boa distância, aquela coisa entalada na garganta, mostrou que ela não estava em condições de fazer a compreensiva por mais tempo, então, sem poder mais segurar os sentimentos, eles vazaram pelos olhos, mas mesmo com a visão embaçada, Jennie conseguiu chegar na sorveteria e pediu pra Chuck levá-la em casa.

Todo amigo, ele deixou alguém na sorveteria e acompanhou Jennie, consolando-a enquanto o ônibus percorria o caminho. Na esquina, ela se despediu e o abraçou forte, agradecendo pelo cuidado, daí secou o rosto e subiu pra casa, mas quando chegou no portão, a coisa voltou na garganta, como não dava pra desabar ali, precisou buscar refúgio em outra parte, então respirou fundo e só foi.

Bastou Vee abrir a porta pra vê-la com as lágrimas prontas a se precipitar rosto abaixo, ela puxou Jennie pra dentro e só deu tempo de entrar no quarto pro choro descontrolado começar. A única coisa que Vee pode fazer foi abraçar a amiga e lhe emprestar o ombro pra ela ter um pouco de segurança onde derramar as lágrimas.

— Por que ele ficou comigo se ia fazer isso? – As lágrimas não paravam de cair.

— Vai saber, miga, talvez ele só quisesse te dar uns pegas e depois… – Vee ia dizer que ele tinha perdido o interesse, mas isso só ia fazer Jennie se sentir pior. – Por isso disse pra não ficar com ele. – Ela esclareceu, cheia de compaixão. – O pior é cê tava gostando dele.

— Então isso que é amor?

— Sim, miga, ele é meio estranho mesmo.

— Mas dói!

— É, às vezes ele pode ser bem doloroso, por isso é importante cuidar do coração, pra não deixar qualquer um entrar nele.

— E agora, como faz? Não quero essa coisa ruim.

Muito triste
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— Calma, Jennie! Amor não é apenas dor, mas também não é somente flores. – Ela acariciou a cabeça da amiga. – Tudo tem seu tempo, mas isso que cê tá passando vai te deixar mais forte. – De repente, Vee começou a rir.

— Que foi doida? – Jennie parou de chorar e ficou sem entender.

— É ironia de mais, logo cê que é mó desapegada, que não acredita em amor, foi ficar assim. – Ela riu novamente, mas a amiga continuou séria.

— Vee, como cê é horrível! – Jennie disse depois de um silêncio constrangedor que até fez a amiga esquecer a localização da graça. – Eu aqui na bad e cê rindo da minha cara! Primeiro cê acha graça e agora racha a bolacha, pode isso!? – As duas ficaram se encerrando, aí caíram na risada.

Depois de uma boa dose de risadas, conselhos e de julgar o quando toda espécie do gênero masculino não valia nada, Jennie foi embora se sentindo melhor. Já no próprio quarto, ela só quis saber de dormir.

Assim, pra quem não acreditava em termos como amor e coração, ela descobriu do jeito mais arrasador possível que era tudo verdade e que amor não é apenas sobre flores, mas também não é somente espinho, mas quando espetam a ferida é profunda e demora a sarar, porém, uma hora cicatriza.

No começo o buraco no peito doeu um bocado, mas desde que a última lágrima secou, na casa de Vee, ela decidiu esquecer Simey de vez, ao fazer isso o processo ficou menos complicado – embora não tenha sido tão rápido quanto ela gostaria que fosse.

Até que no dia que foi no boliche com os amigos, Jennie conheceu um garoto legal e engraçado – amigo de Vee – e eles acabaram namorando. Luke Cochon, era fofo, carinhoso e sempre fazia de tudo por ela, os olhos até brilhavam ao falar da namorada.


#proximoepisodio

O tempo passou, deixando atrás de si, um imenso rastro de marcas e momentos, alguns ruins, outros nem tanto, mas também vários instantes bons, enfim, muita história pra ser contada. Havia bastante coisa pra recordar e outras que não dava pra esquecer, principalmente após ficar com Jennie.

Mas se foi mesmo assim tão bom pra Simey, como foi pra Jennie, por que ele sumiu? Por que foi cretino a ponto de tratá-la tão friamente e inventar desculpas ruins pra se separarem? Será que no fim das contas, ele não passava de mais um moleque-pirinha, do qual ela queria distância?

Ósculos e amplexos,

Mishael Mendes Assinatura
Mishael Mendes
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