#episodioanterior
Depois de tanta espera, desencontros e mensagens sem respostas, o tão esperado beijo aconteceu, Jennie mal cabia em si, tamanha a felicidade. Mas nem todo contentamento do mundo foi capaz de evitar do coração doer como nunca – ao ouvir Simey pronunciar aquela palavra.
Assim, o relacionamento terminou – antes mesmo de começar. Felizmente ela pode contar com a ajuda de Vee e descobriu que a dor não significa o fim, mas o começo de algo novo, maior e logo depois algo muito bom acabou acontecendo.
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O tempo passa deixando marcas e emoções, instantes registrados pelo olhar, carícia nos gestos, saudades no orvalho, novidades ao amanhecer, tons no céu e vida a cada respirar.
Mas algumas coisas, por mais que a gente persista, mudam em absolutamente nada, a não ser em ficar mais crônicas, como no caso de Simey que por mais que tentasse não conseguia deixar de ser distraído, talvez sua morada fosse numa dimensão idílica, afinal, nunca conseguia manter a atenção prolongada na realidade a não ser nas artes – que são mais elevadas que os sentimentos.
Ao abrir os olhos, Simey viu um sol convidativo pintar de luzes amareladas até onde pode ver pela janela, ele se espreguiçou, sentindo-se energizar e foi tomar banho e escovar os dentes. Quando voltou pro quarto, estava tão claro que a mão foi direto no interruptor, daí percebeu que a luz estava apagada, todo aquele brilho vinha do sol lá fora, todo animado, como se celebrasse o feriadão de sábado.
“Dor não significa o fim, mas o começo de algo novo e maior.”
Ainda se espreguiçando, chegou na cozinha vestindo apenas samba-canção, aquela hora os pais e a irmã ainda estavam dormindo, então aproveitou o silêncio e preparou um waffle, mas substituiu os ingredientes ultra processados por trigo integral e açúcar mascavo, pra dar um pouco de refrescância adicionou algumas folhas de hortelã.
Depois de pronto, dividiu o waffle em quatro partes e colocou no prato, finalizando com uma generosa cobertura de mel e pra acompanhar uma xícara de leite com chocolate e canela, os quais devorou rapidamente, daí pegou um livro e ficou na frente de casa, na companhia dos raios de sol.
Mesmo tendo acordado cedo, enquanto lia concentrado “O Segredo das Eras – Despertar“, o tempo escorreu a ponto de não conseguir chegar nem na metade do livro.
Logo a tarde começou a dar as caras, convidativa, com um sol dourado, acompanhado de baforadas de vento – ora frio, ora refrescante – fez lembrar Simey que a Sakura da praça central devia estar florindo, exalando uma fragrância envolvente. Ali, o canto das aves formava uma trilha sonora cheia de vida, tendo como plano de fundo o clima que se estendia no céu, brincando de ciranda com as estações, então julgou que seria uma boa continuar a leitura por lá.
Simey sabia da importância das coisas belas sobre o pesar da vida, ele não era de levá-la a sério, afinal, com tantas guerras e sons de guerra espalhados pra todo lado – além da compaixão atingindo um nível glacial – não havia melhor forma de encará-la do que rindo de cara feia dela.
“Algumas coisas, por mais que a gente persista, mudam em absolutamente nada, a não ser em ficar mais crônicas.”
A única coisa que fazia questão de levar a sério era a poesia dos instantes, deixava-se tocar pelo belo e verdadeiro nas lágrimas e sorrisos – o que não o impedia de ficar com várias garotas, já que precisava preencher a própria necessidade de carinho, mas era um bom amante.
Ele também não ligava de derramar algumas lágrimas quando algo o tocava – as meninas o achavam fofo, até porque não chorava por tudo, mas sabia ser forte o suficiente pra demonstrar os sentimentos.
Apesar de conquistador, as paqueras não costumavam durar, logo as garotas perdiam a graça, ele tentava amar, mas elas pareciam vazias de mais pro nível de profundidade que buscava.
Simey queria uma garota que o fizesse se sentir mais do que era – ele não acreditava na bobagem de alma gêmea, inventada por Platão que, apesar de parecer bonitinha só faz as pessoas se sentir incompletas. Fomos feitos inteiros, não algo rachado em duas ou mais partes, assim, só a nós compete a responsabilidade por nossa própria felicidade.
O que Simey desejava, acima de tudo, era uma mina que o fizesse sentir-se diferente, pra juntos somar a quantidade de felicidade e da qual ele pudesse ser a causa do sorriso.
Mesmo ficando com várias, preferia não se gabar, achava besteira alastrar pra geral quem ou quantas pegou, deixava isso pra quem precisava reafirmar masculinidade. Ele preferia ficar de boas, assim não tinha como dar ruim os esquemas, mas mesmo sendo cuidadoso a fama de pegador espalhou.
Apesar das ficadas durarem pouco, quando Simey estava com uma garota, colocava os contatinhos em stand-by, já que exigia exclusividade, então tinha que fazer por onde. Mas como humano acabou errando e traiu os próprios princípios.
Desde que viu Jennie, ela prendeu-lhe a atenção de uma forma, como nunca aconteceu antes e nem tão rápido com qualquer outra garota, alguma coisa lhe disse que era ela quem ele tanto procurava, por isso insistiu em vê-la novamente, mas tudo que conseguiu, foi afastá-la de vez.
“As artes são mais elevadas que os sentimentos.”
Disposto a não perdê-la, encontrou uma forma de conseguir atenção, sem correr o risco dela se recusar atendê-lo, só que conciliar facu, trabalho, academia e vida social exigia bastante tempo – de todos o mais carente era o trânsito, por isso a BMW era parte de si, a moto permitia deslocar-se com agilidade mesmo com a distância grande entre cada local que frequentava todos os dias – daí ficou ruim dar atenção direito e eles mal se falaram.
Apesar de não parecer, Simey ficava aguardando ansiosamente o momento de poder entrar e ver uma mensagem dela, até Jennie não respondê-lo mais, ele ainda esperou uma semana, logo depois começou a correria do TCC, onde precisou virar as madrugadas pra entregar tudo dentro do prazo, com a cabeça cheia, acabou abandonando o Face e esqueceu a garota de olhos grandes.
Até que numa das aulas, da turma preferida, uma garota ruiva lhe rouba a atenção, foi até difícil continuar as explicações, ele só queria saber dela e ficou procurando uma desculpa pra chegar mais perto, vontade essa que só piorou ao reconhecer aqueles misteriosos e atraentes olhos grandes.
Quando a viu do lado de fora, com a galera, tentou encontrar o melhor lugar, o momento ideal e a desculpa perfeita pra tirar uma foto com Jennie, até ver a Sakura onde se conheceram. Então foi se despedindo sem levantar suspeitas – pelo menos por parte de Jennie – e o resultado foi uma foto “espontânea” que ele tinha no celular e guardada na agenda e ela pregada no mural de fotos.
E se ele já se sentia atraído pela garota, piorou depois de tocá-la aí que ficou difícil resistir, então correu pro Face e a procurou nos amigos, mas ela não estava lá, quando resolveu abrir as conversas havia várias notificações, mas só uma importou dar atenção, ao abri-la havia um link, foi ouvir a música e sentir algo diferente. Ele gostou tanto da música que a deixou em looping, ouvindo-a inúmeras vezes.
Depois de adicioná-la novamente, voltaram a conversar, até que, acabaram ficando e, se pra Jennie o beijo foi tão bom, o que Simey sentiu não foi menos especial. O problema veio depois disso, ele se sentiu mal e, por mais que fosse o que tanto desejasse, achou melhor não ficar mais com ela – então tentou não dar tanta atenção, deixando-a falar só e demorado nas respostas, foi até mesmo meio cretino quando ela apareceu atrás dele, ainda assim acabou dando algumas brechas.
Durante a semana parece que a tática funcionou, mas daí veio o sábado e ela apareceu no curso, Simey precisou se segurar, sendo simpático sem dar atenção de mais, mas quando Jennie surgiu na casa dele, viu que precisava dar um basta – ser liso não ia adiantar com ela. Assim inventou desculpas que não convenceram ele mesmo quando lhe saíram da boca.
Acostumado apenas a sumir, nunca precisou dar fora, apenas parava de trocar ideia e pronto. Até nisso Jennie era diferente, o que só a tornava especial, mas também complicava terminar com ela.
Enquanto dava vagarosos passos sobre o piso paralelepipedal, formando desenhos no chão da praça, permanecia absorto, sendo guiado, pouco a pouco, pelos pequenos trechos da vida tocados no fone, músicas que falavam tanto de si mesmo e dos instantes vividos, até a atenção se prender numa flor de Sakura que caía, ergueu a mão em reflexo – antes mesmo do olhar – onde ela suavemente pousou.
Quando as pétalas lhe tocaram a pele, sentiu um déjà-vu, só que mesmo forçando a mente não conseguiu recordar em que local do espaço-tempo tinha aberto uma fenda que o fazia retornar a lembranças que se quer lembrava ter vivido, transformando aquele acontecimento e lugar simplórios em algo especial e instigante.
A memória não permitiu recordar com a devida atenção que os esforços mereciam, tinha a sensação que aquele era um lugar diferente, embora, das vezes que esteve antes ali não teve essa impressão. A praça lhe era um local de comum frequência, onde se permitia deixar levar pelas palavras que voavam das páginas dos livros físicos ou digitais, sopradas pelo vento.
Ao baixar os olhos viu sóis saltar de madeixas encaracoladas, apesar dos óculos escuros, deu pra notar que o rosto angelical parecia triste, os lábios vermelhos brincavam distraidamente no copo de café, enquanto ela mantinha o olhar perdido no horizonte. Ele não soube o que, mas algo parecia destoar da luz emanada pela garota.
Furtivamente lhe passou pela memória uma lembrança meio gasta, onde, nessa praça e naquele mesmo banco, alguém perguntou se estava triste quando ele apenas lia concentradamente.
Pensou se a garota podia estar distraída – ocupada com as próprias reflexões – resultando no rosto sério – então resolveu sentar em outro lugar, pra não atrapalhar, embora a vista dali tornasse a Sakura mais atraente, já que o banco se localizava exatamente abaixo da árvore. Quando foi se afastar, algo o impulsionou a fazer o mesmo que fizeram com ele e que agora não passava de um borrão na memória.
Colocou o fone no pescoço, aproximou-se e chamou, mas a garota não o ouviu, então pousou suavemente a mão sobre o ombro dela e perguntou se estava tudo bem, mas não houve reação alguma. Ele ficou assustado.
Estaria ela distraída a ponto de não sentir nem mesmo o toque ou tinha congelado naquela posição? A segunda opção não pareceu fazer sentido, ela estava de sobretudo marrom claro e botas, sem falar que o tempo estava bom – ela que tinha superestimado o frio.
Acreditando que o toque não devia ter sido percebido, ficou de frente pra ela, tirou os óculos, mostrando o melhor sorriso e chacoalhou com um pouco o ombro da garota, mas a reação que conseguiu, foi fazê-la levantar e se afastar.
“Fomos feitos inteiros, não algo rachado em duas ou mais partes, assim, só a nós compete a responsabilidade por nossa própria felicidade.”
“Então ela tava me ignorando?” – Simey ficou sem acreditar e sentiu-se transparente, mais um pouco e a mina o teria atravessado como se ele fosse feito apenas de vento.
— Tá tudo bem? – Ele insistiu se colocando na frente dela.
A resposta dela foi empinar o nariz, e jogar o cabelo pra trás, nisso uma coisa branca caiu da orelha, então ele viu que era um AirPod sem fio.
“Por isso ela não me ouviu, mas por que tá me ignorando agora? – Ele abaixou pra pegar o fone e a garota fez o mesmo, nisso os óculos dela caíram e ela levantou os olhos assustada. Quando os olhos deles se encontraram, as mãos fizeram o mesmo sobre o AirPod.
— Jennie, é cê mesma? – Simey ficou tão surpreso que os sentimentos acabaram embolando, ele mal soube o que sentir naquele momento.
#proximoepisodio
O tempo passou trazendo estações, com elas os meses se foram e várias mudanças chegaram, Jennie não era mais a mesma, tinha mudado tanto fisicamente, quanto a mente – já não lembrava aquela garota com necessidade de ser lembrada e meio ingenua. O namoro a fez aprender bastante, os novos ares também – o serviço fez repensar até a forma de se vestir.
Mas quando tudo estava indo bem, uma notícia a surpreende e ela se vê sem chão – ou pelo menos sem o pano que lhe costumava ser estendido pra evitar as poças – isso a fez repensar os sentimentos, mas enquanto fazia isso Simey reaparece e ela tenta fugir antes de ser reconhecida.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.