#episodioanterior
Muito tempo passou desde a última vez que Simey falou com Jennie e terminou tudo entre eles do jeito mais babaca possível – embora tenha tido fortes motivações pra tomar essa e outras atitudes.
Agora estava num outro momento, ainda mais porque – depois de muito tempo conseguiu estar em casa, só de boas, em pleno sábado. Aquele parecia mesmo o bom dia pra aproveitar e ler bastante. Então ele resolve ir pro lugar mais apropriado da cidade pra continuar o livro enquanto entardecia, porém, ao chegar lá tem um encontro inesperado.
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A melhor coisa que aconteceu com Jennie – após sentir que não há dor maior pro coração quando se ama, sem o sentimento ser recíproco – foi Luke ter aparecido. Ele acabou por preencher todo tempo vago, evitando restar espaço pra perder com lembranças e resto de sentimentos.
Se antes Jennie tinha sossegado em casa – um dos motivos pelos quais a mãe queria que ela arrumasse logo um namorado – voltou sair direto e a causa era justamente o namorado.
Tudo bem que ela começou a trabalhar numa lojinha de vestuário feminino – que ficava no centro da cidade – depois da escola, chegando só a noite, mas no tempo que sobrava entre os estudos e séries – as mais legais, Luke fazia questão de assistir com ela – ele monopolizava total.
Os amigos até ficaram meio com ciúmes, mas ela conseguiu contornar. O jeito era levar ela junto quando marcavam algo – o único problema é que ele não queria desgrudar, apesar de fazer amizade facilmente, além de ser comunicativo.
O bom de Luke, é que ele sempre estava ali por ela, incentivando, ajudando, presenteando, apesar de ser meio possessivo – não no sentido de querer domá-la, até porque ela era bem dona de si mesma. Devido à necessidade de a ter pra iluminar-lhe o mundo, ele exigia constante atenção.
Fazia já mais de dois anos que eles estavam juntos – ela lembrou ao sair da loja – encostado no poste de luz estava Luke, ela sorriu e ele se aproximou. Todos os dias ele a buscava no serviço e eles iam conversando pelo caminho como tinha sido o dia, mas dessa vez quem falava mais era ela.
— Jennie, preciso falar com você.
— Ué, a gente já não tá falando? – Ela riu.
— Não, é uma parada, pique séria…
“Não há dor maior pro coração quando se ama, sem o sentimento ser recíproco.”
Luke contou que no fluxo em que foi com os amigos – a umas semanas atrás – bebeu demais e ficou com uma garota. Ao ouvir isso Jennie entendeu por que ele andava meio distante nos últimos dias.
— Tudo bem, môr isso acontece, o que importa é que cê me disse.
— O problema não é esse, Jennie…
— E qual é? – Ela estranhou.
— É que a gente não parou de conversar desde aquele dia e agora tô a fim dela.
No mesmo instante, um carro em alta velocidade a atingiu, fazendo Jennie voar vários metros de distância, atingindo um prédio com um imenso impacto – pelo menos foi essa a sensação que teve ao ouvir aquilo – mas independente do que sentiu, ela contornou e ainda conseguiu sair por cima, como se aquilo não fosse nada de mais.
Quando começou a namorar ela nem gostava de Luke, fez isso mais por incentivo dos amigos que viram o quanto ela ficou mal.
— Só um novo amor pra curar um sentimento mal resolvido. – Vee aconselhou.
Já James achou que se ele estava a fim dela valia a pena tentar.
Cheia de dúvidas, Jennie contou do pretendente pra mãe e que a geral dizia pra namorar ele.
— Jennie, você tem que ver se realmente gosta dele.
— Gostar mesmo, não! Mas ele é tão legal comigo, quem sabe com o tempo o sentimento não rola?
A mãe ponderou que talvez isso podia não acontecer, além disso, mal tinha tempo pros garotos por causa dos estudos e do trabalho. Só que depois de pensar bastante, Jennie acabou aceitando a proposta de Luke, a partir disso era difícil ver um sem o outro.
Apesar do grude, Jennie se perguntava o motivo de estar com Luke, já que ainda não sentia nada por ele, mas como mal não lhe estava fazendo – embora se pega impaciente com o namorado diversas vezes. Assim, continuou tentando até sua profecia se cumprir, mas quando surgiu o tal do sentimento e ela já não se via sem o namorado sempre tão presente, Luke terminou daquela forma fria e insensível.
A campainha tocou e Vee foi atender, ela mal abriu a porta e Jennie disparou pro seu quarto, agoniada pra conversar. Era perceptível o estado de aflição sela, tanto que mal esperou a amiga trancar a porta e foi logo contando o que aconteceu.
— Nossa, pensei que ele fosse melhor que isso, se soubesse nem tinha dito nada quando cês se conheceram… opa! – Vee ficou tão decepcionada que acabou falando demais, mas já era tarde.
“Só um novo amor pra curar um sentimento mal resolvido.”
— Falou o quê? Explica essa história direito! – Jennie quis saber, com uma das sobrancelhas arqueadas.
Vee contou que depois que se conheceram, Luke a elogiou, por mensagem, dizendo que ela era gatinha demais. Sabendo que a amiga precisava de alguém depois do que passou e que ele era de se interessar fácil só precisou dizer que uma das amigas estava a fim dele, daí ele começou enchê-la de perguntas e ficou perturbando durante uma semana, enquanto ela achava tudo engraçado e ia dando pistas, esperto como era Luke juntou tudo e começou a conversar com Jennie e ser todo atencioso.
Após saírem duas vezes, as quais Jennie só foi porque não tinha mais o que fazer e sair um pouco ajudava a espairecer – pelo menos foi o que Vee aconselhou – ele fez o pedido de namoro. Só depois de Luke comprar as alianças foi que ela disse que a garota a fim dele era Jennie.
— Vee, não creio que cê me jogou pra cima dele?
— Miga, cê tava na bad por causa daquele féla, aí achei que um empurrãozinho ia ajudar.
— E que belo empurrão cê deu, hein?
— Não foi isso, miga, só queria te ver melhor.
— Mas tudo bem.
— Mesmo? – Vee não acreditou muito.
— Sim, acho que não amava mesmo o Luke. Claro que doeu o fora que levei, mas acho que feriu mais meu orgulho que outra coisa.
— E cê não vai sentir falta dele?
— Claro, né, miga! Já tinha acostumado ver ele todo dia, mas de resto tô de boas.
— Que bom, miga, porque ele vale nada mesmo! Onde já se viu te trocar por aquela piriguete magrela e feia? Cê é muito mais bonita e vitaminada! – Vee estendeu as mãos na frente da amiga. – Olha só o filé que ele perdeu, pra roer osso!
— Ai, Vee, ainda bem que tenho você como amiga! – Jennie rachou de rir.
— A melhor de todas! – Ela piscou. – Mas certeza que tem mais nada?
— Sim… por quê? – Até Jennie pareceu duvidar da própria afirmação.
— Sei lá, cê parece decidida em relação ao Luke, mas parece que algo tá te incomodando.
— É que, sei lá… é muita coisa pra digerir, tá tudo recente.
— Pode ser, miga, pode ser…
Mas havia, sim, algo a mais que Jennie ocultou. Logo após Luke terminar – enquanto equilibrava os sentimentos a caminho da casa da amiga – ela recebeu mensagem de um número desconhecido.
— Oi, tudo bem?
— Olá, tudo e você?
— Ótimo! Quem é?
— A Jennie. – Ela achou engraçado a pessoa ter seu número e não saber quem era. – E você, é quem?
— O Simey.
— Ah… – Foi tudo que conseguiu dizer.
Já em casa e um pouco mais certa – ou nem tanto assim – quanto aos próprios sentimentos, bastou entrar na cozinha pra mãe lamentar o término do namoro e querer saber o que tinha acontecido, já que Luke era bonzinho e eles estavam se dando tão bem.
— A senhora já tá sabendo? – Ela se impressionou.
— Vi no Face. – Cindy mostrou no celular.
— Ah, é! – Ela ficou meio sem jeito. – Acredita que ele… – E ela contou tudo que aconteceu.
— É, coração de mãe sempre sabe, previ que o relacionamento de vocês não ia dar muito certo, mas como você resolveu tentar, não me intrometi.
— E cê tinha razão, mãe. – Ela se aproximou de Cindy. – Prometo te ouvir mais a partir de agora. – E, abraçando lhe deu um beijo.
— Vai ficar tudo bem, filhinha linda! – Cindy retribuiu o carinho. – Quem sabe se você tivesse dado chance pro Simey vocês não estavam juntos?
— Para, mãe! – Apesar de ser pega de surpresa, Jennie conseguiu disfarçar e revirou os olhos, mas a vontade foi olhar pro chão ao lembrar que ficaram.
— Vocês não têm mais contato? Você nunca mais falou dele.
— Tenho ele no Face, mas como a gente vive ocupado nem se falou mais. Ele nem deve lembrar de mim, aposto que se me visse não ia me reconhecer.
— Isso é verdade, você mudou bastante, mas ele ainda lembra de você.
“Ter um pouco mais de produção não significa falta de personalidade, mas lapidar a essência de forma a ficar ainda mais interessante.”
Depois que começou a trabalhar, Jennie ficou estilosa e começou a se preocupar mais com a aparência e percebeu que ter um pouco mais de produção não significa falta de personalidade, mas lapidar a essência de forma a ficar ainda mais interessante.
“Oi? Se é assim porque ele perguntou quem era se eu mesma salvei o número no iPhone dele?”
— Mãe, já passou vários anos.
— Pois digo que lembra.
— Como cê tem tanta certeza?
— Por que, outro dia, quando fui entregar uns produtos, ele perguntou como você estava.
— Ah, sim… – Ela havia esquecido que a mãe era consultora de Simey.
— Então, menina deixa de bobeira e fala com ele!
— Tá, mãe, vô pensar!
— Lembra que coração de mãe não se engana. – Cindy piscou.
— Depois de hoje não dá pra discordar, mas agora vô tomar banho pra tirar essa nhaca de ex. – Com isso, deu-se por encerrado o assunto.
Jennie saiu antes de falar mais do que devia. Até hoje Cindy não sabia do que rolou entre ela e Simey, no começo achou melhor ocultar o fato pra não atrapalhar o relacionamento da mãe com o cliente, mas foi deixando pra depois até esquecer, agora tinha passado tanto tempo que era melhor deixar como estava, afinal, a possibilidade de se reencontrarem era praticamente nula mesmo.
Conforme os dias passaram Jennie viu o quanto tinha se acomodado com o relacionamento e criado dependência afetiva por Luke – não por menos, ele não a largava.
Só quando se viu sem o ex, percebeu o quanto os sentimentos andavam uma bagunça, como antes vivia ocupada, não conseguiu avaliação a situação. Então, ao invés de se envolver com algum garoto a acabar machucando-o ou mesmo se ferir, escolheu ficar só e envolver-se mais com si mesma.
Jennie mudou bastante – já não parecia uma garota – agora tinha um ar de mulher, com corpo escultural, cabelos compridos em cachos dourados. Passou a se olhar mais no espelho, a gostar mais de si mesma e a reconhecer a própria beleza e valor que tinha, algo que antes tinha dificuldade em fazer – embora não passasse de uma grande mentira que ela aceitou, se achava feia e pouco interessante, por isso a necessidade de se fazer lembrar.
Com horas na casa, ela saiu mais cedo e vendo o clima melhor do quando acordou – por volta das seis o céu estava nublado e um vento gelado circundava a casa, entrando pelas frestas das janelas – mas agora o tempo estava agradável, então se permitiu aproveitar aquele sol de fim de tarde.
E o melhor lugar pra fazer isso, os pés conheciam de cor, bastou passar na Starbuks e pegar um venti de “Doce de leite Latte” pra eles direcionarem o caminho. Fazia tempo que não aparecia por lá.
Nem o fato daquela ser a praça mais bonita da cidade a atraiu de volta, pelo menos enquanto esteve namorando e agora sabia o motivo, não foi porque pegou raiva por ela ser o local onde conheceu Simey, mas, porque não quis que outras memórias felizes substituíssem as que viveu ali.
Saudosista, sentou no banco que tinha tanto a contar sobre o que testemunhou dela e, entre os sussurros, se deixou mergulhar nas lembranças.
Passou-se um tempo e ela permaneceu imersa entre as músicas tocadas no fone, os goles de café e os momentos marcantes de quando era apenas uma garota que não acreditava no amor – pra não dizer quando Simey surgiu em seu campo de visão e tomou-lhe o coração.
— Como me apaixonei por quem mal conhecia? – Ela murmurou, enquanto ria da própria ingenuidade.
Apesar do volume dos fones não estar alto, ela não ouvia nada ao redor, diante de lembranças tão vividas a mente abriu os ouvidos pras elas, fechando-os pra qualquer estímulo externo.
Foi quando ela sentiu uma fragrância cítrica rodeá-la, instantaneamente um frio lhe tomou a espinha e ela congelou a mão na posição que estava, sem a boca poder sorver o último gole de café.
— Hey, cê tá bem? – Ela ouviu alguém perguntar baixinho, enquanto sentiu uma mão lhe tocar o ombro.
“Será que não respeitam mais o momento de flexão alheio?” – Jennie resolveu ignorar o importunador.
Com isso pensou ter deixado claro não querer assunto, foi quando ele se colocou diante dela.
O garoto estava de boné floral, aba reta, no rosto aviador azulado, camiseta henley slim long sleeve, cinza azulado, de gola V e capuz, sobrepondo uma branca, com um JBL Everest branco em volta do pescoço, pulseiras de couro no braço direito, acompanhando um Galaxy Watch Active, calça cáqui skinny e nos pés um Nike SB Check Solar preto. Como toda garota, nem precisou se mexer pra fazer uma análise completa do boy e concluir que, além de estiloso, ele era uma cremolícia.
Mas a surpresa mesmo veio quando ele tirou a aviador e deu um sorriso que, se ela estivesse sem óculos, era capaz de ter a visão ofuscada. Ela mal acreditou no viu diante dos olhos.
“Será que tô vendo coisa porque misturei muito café com lembranças passadas?” – Ela começou a se questionar se aquilo tinha feito bem ou não.
— Tá tudo bem? – Simey perguntou, preocupado.
“Não pode ser!” – Mas o chacoalhão e a voz dele a fez perceber não se tratar de mera projeção mental. – “Como é possível ele tá ainda mais gato? – Ela sentiu um frio na barriga, então levantou decidida a fugir antes de ser tarde demais e ele também reconhecê-la.
Mas ao se colocar de pé e fazer carão – jogando o cabelo pra trás – um dos AirPods caiu da orelha e ela abaixou pra pegá-lo, Simey fez o mesmo. Nervosa pra sair daquela situação, tentou ser mais rápida, mas desajeitada que era, os óculos caíram ao abaixar a cabeça, daí olhou assustada pra ele e quando sentiu as mãos se encontrar o olhar do garoto também achou o seu.
— Jennie, é cê mesma? – Mais nervosa ela não podia estar, principalmente de ser descoberta por ser desastrada, tanto que nem soube como reagir.
#proximoepisodio
Pega de surpresa, Jennie tenta fugir do inesperado encontro na praça, mas Simey não vai deixá-la escapar tão fácil assim, então eles serão forçados a ter de encarar algo maior que eles mesmos. Será que os corações, pele e desejos conseguirão resistir a mais essa peça pregada pelo destino?
Independente da resposta – afirmativa ou não – nada do que aconteceu passou despercebido das lentes e dos dedos de alguém que compartilhou todo o ocorrido, nem da galera que se reuniu na praça pra contemplar as flores da Sakura cair.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.