Tanta coisa acontece longe dos olhos alheios, no silêncio do pensar, nas práticas desinteressadas; no tempo de ócio, quando a gente se encontra apenas conosco e as sombras.
Tentar descrever o amor só arranharia sua superfície, além de impedir experimentar a essência que transforma quem ignora regras e significados, se deixando por ele tocar.
Mirar o espelho pode revelar algo que nada lembra quem fomos, ou que não desejamos ser. É que, enquanto corre o tempo, a gente se distancia do que foi até se desconhecer.
Com a chegada do amor, os estímulos se fortalecem a ponto de um aceno nos desmontar. Mas, e quando o ser amado parte, fazendo restar solidão? Como fica o que sobrou?
Ainda que curto, um encontro de olhares pode durar o suficiente pra espalhar cor ao nosso mundo e despertar desejos, deixando saudade quando chega a distância.
Cada sentença a inundar a realidade de poesia, com beleza e criatividade, também pode criar elos, formando corrente que aprisiona e suga, quando intenções e foco distorcem.
A fissura pelo ser amado o faz surgir em diferentes lugares, esperando a gente olhar só pra ter mais um motivo pra sorrir, porque lhe ver basta pra nos inundar de prazer.
É preciso força dobrada pra se manter caminhando quando os pés cansam e a vontade não alcança a espera. Porém, não é preciso ir longe pra obter mais disposição.
Ao imergir no "eu", é possível ver estrela a se contrair em treva, resultando em buraco negro, que apesar de seu poder destrutivo, possui a mesma matéria que nós, mas em colapso.
Fazer tudo o que se quer pode levar a um lugar melhor que a gente estava no começo? E se não for possível alcançar o paraíso seguindo a própria vontade, como retornar pra lá?
A imagem no espelho reflete quem somos, ou o que os olhos enxergam? Poderia essa miragem experimentar dor e tristeza, alegria e desejo, ou só retratar que mistério seremos?
Cabe à gente decidir o que pode fazer morada em nós. É preciso manter a porta do coração fechada, só abrindo ao que faz bem, pois após estabelecido fica difícil remover o mal.