Poesificando: Desde que você se foi algo parece faltar
Jose de la Cruz/ Unsplash

A falta que ficou, desde que você se foi

Frios passaram a ser os dias,
Um mais intenso que o outro,
O amanhecer já não quer despertar,
Desde que, pra longe, você se foi.

O dia surge apenas em tons sombrios
Confundindo-se com a madrugada.
Onde está o sol, é a pergunta que faço,
A resposta vem num cortante vento
Que dilacera a pele, já alva como neve.

Sem o calor que vem de teus braços
As flores se escondem aos passos meus
Já não exalam o inebriante perfume
Que descaradamente roubavam de ti.

Na margem do caminho sigo eu
Tentando não ser tragado pela névoa,
Mas o escuro está cada vez mais ermo
Difícil me é continuar sem você aqui.

Você não voltou
Woody Van der Straeten/ Unsplash

Desde que você se foi, o sol partiu,
Sem o astro os dias vão congelando,
Tudo esfria sem o teu calor aqui,
Nem há primavera ou mesmo verão.

Não só no outono as folhas caem no quintal,
Murchando a verdejante beleza das árvores
Que caem a qualquer soprar do vento,
Mas também quando você se foi.

Tua ausência escurece tudo,
Destituída me foi do coração a luz,
Entre espessas trevas estou a caminhar
Não sei em lama ou mar me encontro.

A verdade é que perdi a direção,
O rumo se foi, sem ter como voltar
Não existe retorno, nem placa
Que possa indicar a posição que estás.

Desde que você se foi tudo parece faltar
A luz, o calor, a alegria, o perfume,
Não há mais som de felicidade
Os pássaros emudeceram de vez.

Não há mais quem os possa inspirar,
Desde que você se foi o canto cessou,
Apenas o corvo insiste em grasnar
Arrepiando os pelos de quem ouvir.

O pior desde que você se foi
Jose de la Cruz/ Unsplash

O pior do que já não se pode achar
Nem é o colorido das flores ou do céu,
A doçura que amargou também não é,
Mas tua ausência que tudo embotou.

Se antes havia prazer em ver o dia nascer,
Varando a noite só pra vê-lo acordar
Pela noite adentro caçando vaga-lumes
Enquanto o frio esquentava de calor.

Agora, em diversos tons de cinza
A lua que no céu ficou pregada
Colore o que os olhos conseguem tocar
Até que a escuridão engula toda luz.

Mas experimentas voltar que vais ver
O tempo voltar a se mover alegremente
Num aconchegante abraço de luz
Com flores a desabrochar nas orelhas,

Enchendo o caminho de pétalas e perfumes,
Aos teus pés se lançando em devoção
Porque é você a razão dos dias amenos
Daquele colorido ao nascer e pôs do sol.

Volta trazendo o tudo que sua ausência deixou
Me arranca dos olhos as escamas que impedem ver
Faz-me novamente enxergar a beleza de ter aqui
Enchendo os olhos de cor e a vida de amor.


#papolivre

É fato mais do que comprovado que, quando amamos, a gente passa a ver tudo com outros olhos – ficando mais sensíveis – e passamos a perceber beleza onde antes parecia não ter nada demais ou só haver o que desagrada a visão. Mas e quando o ser amado se vai como é que a gente fica?

As coisas parecem perder o sentido, pois o objeto que causava as sensações que despertava uma graça maior em tudo já não está ali, assim aos poucos toda aquela beleza começa a desaparecer.

Ainda que não seja fácil vencer a vontade de ter novamente o ser amado, é importante lembrar que mesmo sem o colírio que permitiu os olhos enxergar melhor, a visão permanece, por isso não tente remediar com solução paliativa – tentando encontrar outra pessoa – o essencial é ajustar o foco pra ver a beleza oculta no que nos cerca.

Quem sabe assim, não encontramos alguém que valha a pena ocupar o coração – mais do que encher os olhos, o que a gente precisa é de um amor que preencha nossa vida e todos nossos dias.

Ósculos e amplexos,

Mishael Mendes Assinatura
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