Nasce o dia, e a invasão do Sol vem despertar;
Um quinto, do quarto, aquece o meio da cama,
Devido a sua intensidade, me ardem os olhos;
Tempo onde pulsa a paisagem em convocação.
A vida é poesia, sob a qual minha alma destila.
Poesia é sentir, é contentamento descontente,
Que recorda a profundidade nos sentimentos,
Oscilação de escala 7.0, de alegrias e tristezas.
Erguido sou pelo frescor do vento que soprou,
Quando assopra, carrega algo que gela a alma,
‘Inda assim essencial ao impulso de meu pesar.
Diante do espelho estaciono, me vejo assunto,
Me assusta desconhecer semblante ante a mim.
Face a brilhar revela o registro de dias que vão,
Revelando o quanto desconheço a mim mesmo.
Pensei me conhecer, hoje estou certo não saber.
![De frente pro espelho](https://inversivel.com/wp-content/uploads/2019/09/inversivel.com-posificando-de-frente-pro-espelho.jpg)
Desconheço o ser que em enigma é revelado ali.
Alguém me conheceu quando nem eu consegui?
A noção que pensei ter de mim se mostra longe.
Mão no peito, circula fenda que sob os dedos dói.
Maior não foi o dano, por racional ser o coração.
A hollowficação te é a necessária pro caminhar?
Escorre o restante do que um dia significou vida.
Olhando ao redor, pessoas diversas, me cercam,
Família, parentes, amigos, até os desconhecidos,
Ainda assim a solidão vem me soprar na mente:
O mar que refresca no calor, é o mesmo que ilha.
Torço pras memórias, que seguem e perseguem,
A repetir não existência, serem sopradas daqui.
Na imensidão onde me lanço, vago sem direção,
Mergulho em sua beleza, enquanto se vão dias,
Escorrendo entre os dedos, escapam das mãos.
![Antes de dormir fico pensando](https://inversivel.com/wp-content/uploads/2019/09/inversivel.com-poesificando-antes-de-dormir-fico-pensando.jpg)
No fim é dia, me ponho a contemplar vastidão,
Vejo o escuro da noite estelar que me aguarda,
Única a me aceitar do jeito que não sei em ser,
Afinal, qual a forma certa? Ainda não descobri.
Assopro o vapor da caneca de leite nas mãos,
Em minha frente a sombra a repete esse gesto.
Um arrepio dispara, e levanta pelos no corpo,
Talvez de espanto ou pelo vento calor a furtar.
Entre dúvidas e incertezas desloco as cortinas,
Insistente, um agito concede vida aos tecidos,
Existência rascunhada pelo vapor que soprei.
Então, a fumaça e o tecido são empurrados;
O vento pressiona a fragilidade na bairreira,
Sem resistência alguma elas o cedem acesso,
Durante a sua invasão o reflexo se movimenta,
E me perco no esplendor celeste em seu olhar.
#papolivre
O que leva a mudança não é a argumentação, e a insistência nessa etapa pode até fazer a gente se agarrar com força maior às nossas crenças internas, que podem ser boas ou ruins e até nos limitar, ao distorcer as coisas, como relata o artigo “O espelho nos outros“, já que envolve como enxergamos a nós e o mundo – daí a importância do autoconhecimento que gera evolução, abordada no artigo “A maturidade que os anos não trazem“. E a coisa piora quando se trata de crenças centrais, conceitos tão internalizados, que sua existência passa despercebida, apesar de se tornarem parte de quem somos, guiando nossa personalidade a ponto de parecer que renunciá-los resultará na perda de nossa identidade.
A sabedoria pop afirma que ninguém convence outra pessoa de qualquer coisa que seja – a não ser quando isso convém. Quanto mais um argumento provar os pontos fracos da crença alheia, ainda que estruturado na lógica, essa imposição fará o outro entrar no modo defesa e se agarrar com mais convicção ao que acredita, lembra Dale Carnegie em “Como fazer amigos e influenciar pessoas” (“How to win friends and influence people“, de 1936), já o escritor Louis L’Amour afirmou que isso faz as pessoas criarem “novos motivos pra manter antigas posições e se tornarem mais defensivas”.
Crenças estão acima da lógica, por isso nos agarramos a elas mesmo sem fazer sentido algum – como tentar manter uma bagagem quando o barco está prestes a afundar, algo ocorrido em “Abisso – Quando o pavor agita as águas“. O processo de mudança acontece quando nos convencemos, encontrando razões pra isso, assim, indagar é mais eficaz que expor argumentos. Esse processo de questionamento é o que move a ciência, bem como a psicologia e a psicanálise que buscam mudar a forma de pensar ao guiar com perguntas que nos possibilitam encontrar as respostas em nós.
Assim, toda transformação começa com um ato de refletir. Quando estamos receptivos a isso, a contemplação surge de forma espontânea: uma olhada no espelho – a revelar marcas impressas pelo tempo ou vaidade, estilo ou a falta de tudo isso – basta pra trazer a tona percepções sobre o quanto a gente mudou e precisa se tornar, porque a transformação de quem somos começa quando alteramos a mentalidade [Romanos 12.2].
Todo esse processo de transformação tem muito a ver com arrependimento, apesar da forma usual vir do latim repoenitere, re-, usado pra intensificar, mais poenitere, significando “sentir contrição ou mágoa por uma má ação”, seu uso original tem a ver com metanoia, do grego metanoein, metá, “além, depois”, e nous, “pensamento, intelecto”; trazendo o conceito de mudar a mente com intencionalidade; pra obtermos uma transformação completa de pensamento, atitudes e comportamento, até de direção, caráter e temperamento, nos levando a uma evolução constante de forma permanente. No hebraico, as palavras usadas pra arrependimento são nachum, “entristecer-se”, e o termo shuwb, “voltar-se, mudar de rumo ou direção”, indicando que a ação envolve sentimento, mas também mudança de rota. Além disso, a atitude serve pra definir a individualização da nossa psique, operando cura de forma inconsciente, ao nos transformar total, conforme apontou Jung.
Essas metamorfoses têm muito a ver em como nos sentimos, envolvendo nossas experiências, sentimentos e emoções; por isso, o convencimento é um processo interno, que tem mais a ver com seu conceito grego elegchō, que envolve constranger, ao incluir sentidos e razão pra nos levar ao resultado que algo precisa mudar [João 16.8], e a gente passar a sofrer uma alteração; impelidos à rota e atitudes a serem tomadas. Por esse processo interno envolver experiências, é preciso atentar pro que vemos e ouvimos, pois esses estímulos alimentam a alma e o intelecto – despertando sensações que podem nos convencer a aceitar o engano, como alerta o poema “A ilusão que acreditei ser liberdade” – como as saídas da vida procedem da mente, é preciso a protegermos [Provérbios 4.23], de influências invasoras que tentam se infiltrar em nossos pensamentos.
No fim, pode ser que a percepção adquirida nos faça ver que o eu de agora tem nada a ver com o esperado, mas mudanças possuem a capacidade de nos impulsionar pra frente, mesmo quando acontecem desvios de rota. Então o jeito é colher o melhor de onde estamos, a partir daí, traçar novos rumos e metas até alcançar uma estatura de excelência [Efésios 4.13-15].
Ósculos e amplexos,
![Mishael Mendes Assinatura](https://inversivel.com/wp-content/uploads/2030/05/misahelmendes_assinatura-1024x177-1.png)
![Mishael Mendes Assinatura](https://inversivel.com/wp-content/uploads/2030/05/misahelmendes_assinatura-1024x177-1.png)
![Mishael Mendes](https://inversivel.com/wp-content/uploads/2023/09/inversivel.com-avatar-mishaelmendes-2023.jpg)
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.