Bitcoin nada mais é do que uma criptomoeda, ou seja, uma moeda digital que utiliza criptografia para garantir alto nível de segurança nas transações, além de ter seu gerenciamento realizado de forma anônima e descentralizada, o que exclui a possibilidade de seu uso ser rastreado.
Apesar do valor do bitcoin ter caído bastante ele ainda permanece com uma alta de 1.700%, no último ano. Atualmente, 1 bitcoin está avaliado em mais de US$ 8.000 (+ de R$ 32.000), valor esse que o papel moeda nunca poderia alcançar sem ferrar a economia mundial e se isso não parece assustador, talvez seja porque você foi criado a leite e filme de terror.
E essa supervalorização só tende a crescer, segundo especialistas, o bitcoin pode chegar ao fim de 2018 valendo US$ 50.000, embora haja quem acredite que ele pode alcançar os US$ 100.000. Apesar do valor surpreendente, pode parecer que isso não tem nada a ver com você, mas antes de parar a leitura por aqui já adianto que isso tem tudo a ver contigo, mesmo que você nunca vá usar bitcoin.
Um dos motivos que teria impulsionado a corrida pelo ouro digital é a ganância e “facilidade” de enriquecer, como não há uma entidade central no controle, o governo não pode taxar ou congelar dinheiro de quem quer que seja, o que significa que ele é uma grana livre de impostos e inflações, possibilitando maiores ganhos – o que é algo bem atrativo, ainda mais se você considerar que além do aumento de taxas e impostos o governo tem expandido a vigilância sobre nós.
A febre começa a queimar 🤒
Essa coisa de fazer “dinheiro fácil”, na verdade, não é tão simples assim, pois a mineração tem exigido cada vez mais o uso de máquinas de alto desempenho – com uma mineradora moderna dá pra de minerar 0.036 bitcoin/mês ou 0.44/ano – ainda assim houve um aumento na busca por placas de vídeo, elevando seu preço, algumas chegaram a subir quase 90% do valor original, levando a Nvidia a pedir pra varejistas limitarem a quantidade de peças vendidas a mineradores, enquanto Samsung e AMD, comemoram a demanda e intensificaram a produção.
A necessidade de processamento é tanta que crackers chegaram a infectar apps da Google Play pra utilizar os dispositivos que os instalassem na extração criptomoedas, até sites estão sendo usados pra fazer o mesmo com computadores alheios, exatamente pra evitar essas ações Opera e AdBlock tomarem medidas que bloqueiam scripts de mineração, enquanto a Google ainda estuda implementar o recurso em seu navegador.
O desespero por conseguir mais moedas chegou até mesmo a fazer dois cientistas nucleares russos tentar utilizar o supercomutador da usina que trabalhavam pra poder mineração de bitcoin – e olha que pela capacidade da máquina isso aconteceria bem rápido – mas eles foram pegos antes mesmo de começar.
Quando surgiram os primeiros sintomas 😷
A aposta cada vez maior numa moeda virtual, apesar de preocupar especialistas do mercado financeiro, não passa de reflexo de uma mudança profunda em nossos hábitos de consumo.
Tempos atrás, pra que um bem fosse considerado nosso, a gente precisava ter sua posse, assim, se você quisesse músicas, comprava um CD, pra filmes, DVD ou Blu-ray, pra histórias, livros, quadrinhos, pra informação, ia de revista ou jornal e pra games, além do console, mídias com os respectivos jogos. Mas com a expansão da conexão banda larga, dispositivos cheios de recursos e o aumento do poder de compra, passamos a consumir cada vez mais o digital.
Se a princípio, trocamos o físico por seu equivalente virtual, lotando dispositivos com arquivos de áudio, vídeo, etc., nos últimos anos temos preferido o streaming ao download, por isso abrimos mão da posse, em troca de serviços que fornecem conteúdos, seja pela praticidade ao acessá-los ou despreocupação com armazenamento. Assim dá pra ter a discografia de uma penca de artistas mais a saga completa de “Star Wars”, incluindo as animações, tudo em 4K, sem precisar de vários dispositivos pra isso.
Em nível mundial o consumo de streaming já ultrapassa 60% – no Brasil o download ilegal está 31% menor – e é graças a ele que o Spotify salvou a falida indústria da música, a Amazon revolucionou a indústria de livros digitais e as experiências de compras, o YouTube revolucionou a TV e a Netflix tem desbancando os canais por assinatura.
Num mundo cada vez mais conectado, onde tudo é compartilhável, era impossível imaginar que o download pudesse acabar, mas acredite, estamos caminhando pra isso, em parte pelo aumento de opções legais de distribuição de conteúdo, mas também porque baixar arquivos, além de ilegal, consome tempo e espaço, coisas cada vez mais escassas.
Num mundo globalizado, só não compartilha quem não tem net 📱
A busca por praticidade, aliada a falta de tempo, aumentou a quantidade de produtos e serviços de conveniência, que vão desde frutas já cortadas, refeições que levam apenas 3 minutos pra ficar prontas, passando por clube de assinatura de café e produtos importados, até compras de supermercado on-line. Inclusive fez surgir a economia compartilhada, onde serviços como Airbnb, que oferece acomodações e hospedagem e o Uber (Cabify, Lyft) pra transporte, têm conquistado cada vez mais espaço e feito os antigos serviços se moverem pra continuar existindo.
Algo incrível da tecnologia é que ela possibilita avanços antes do previsto pela ficção, assim não será necessário esperar até 2084, como previu Philip K. Dick no conto “Podemos recordar para você, por um preço razoável” (We Can Remember It For Your Wholesale) que ficou famoso com o filme “O vingador do futuro” (Total Recall) estrelado por Arnold Schwarzenegger, pra ter carros autônomos, pois Google, Uber e Lyft já desenvolveram automovéis que podem se auto conduzir e que, graças a Elon Musk e suas empresas, poderão ser movidos a eletricidade e recarregados em postos movidos a energia solar.
Os aerocarros – como Philip K. Dick os nomeou em seu conto – também irão chegar antes de 2062, o ano em que se passa “Os Jetsons”, a empresa Ehang já desenvolveu um drone autônomo que transporta pessoas, além de Amazon, Boing e AirMule terem desenvolvido drones autônomos pra transportar produtos.
Pra ter noção do quanto essa convergência em troca da praticidade é forte, nem precisa ir longe, basta olhar agora mesmo pra sua mão, o smartphone que você tem aí substitui coisas como agenda, telefone, pager, álbum de fotos, câmera fotográfica, assistente pessoal, etc.
A galinha pintadinha dos ovos de ouro 🍳
Apesar de nossa dependência cada vez maior de serviços, a gente ainda depende de eletrodomésticos, mas enquanto serviços como 5àsec não se tornaram mainstream, substituindo de vez os eletros, outro dispositivo, querido por muitos, pode estar com os dias contados.
Pensando na praticidade, em breve os consoles poderão ser substituídos pelo streaming, já que não dependem da capacidade de máquina pra rodar jogos, tudo acontece nos servidores parrudos das empresas, o que vai deixar uma boa grana pra você gastar com a assinatura de serviços e jogos. Isso já é realidade com o PlayStation Now e GeForce Now, da Nvidia, mas em breve Google e Microsoft também lançarão suas próprias plataformas.
Tanta praticidade resultou numa profunda mudança em nossos hábitos, afetando diretamente o sistema econômico, que tem se reinventado pra tornar transações pela internet mais práticas e seguras. Foi assim que o PayPal se tornou o maior sistema de pagamentos online.
Esse tipo de transação tem crescido tanto que recentemente a PagSeguro, concorrente nacional do PayPal, arrecadou 2,7 bilhões de dólares ao se lançar numa IPO – oferta pública inicial – no mercado de ações dos Estados Unidos, além disso, grandes empresas de tecnologia já possuem soluções pro gerenciamento de pagamentos virtuais, como Apple Pay, Samsung Pay, Google Pay, LG Pay, que permitem pagar um cafezinho com o celular.
Até mesmo o WhatsApp entrou na roda – pelo menos na Índia – pra permitir o envio e recebimento de dinheiro, aqui no Brasil há o PicSay, mas lá fora além do Facebook Messenger há também o Apple Pay Cash e Venmo, do PayPal.
“Nossa personalidade não é formada apenas pelo que cremos ou aprendemos, mas também por aquilo que a gente possui.”
Seguindo essa tendência, o Banco Central do Brasil, estabeleceu como meta o aumento de pagamentos através de meios eletrônicos, reduzindo pra isso taxas nas transações com cartão de débito pra reduzir cada vez mais o uso do dinheiro em espécie, o que em teoria, vai diminuir a disseminação de notas falsas.
Só no ano passado, numa única investigação, foram apreendidos R$ 52 bilhões em notas falsas, assim, com uma circulação menor, além de reduzir esse tipo de ocorrências, ainda inibirá roubos, lavagem de dinheiro, pagamento de propinas e permitirá formalizar a economia. Sem falar na redução de custos com impressão de dinheiro, em 2016 o gasto foi de mais de R$ 505 milhões, já em 2017 passou de R$ 625 milhões, a Índia é outro país que tem tomado medidas semelhantes, além da Suécia que espera extinguir o papel moeda até 2030.
Ou seja, apesar da corrida pelo bitcoin ser intrigante, é uma tendência global e mais do que popularizar uma criptomoeda ela mostra como o atual sistema financeiro necessita de mudanças e o quanto estamos familiarizados ao virtual.
A brincadeira começa a ficar sem graça 😅
Estamos num caminho sem volta, rumo a uma praticidade cada vez mais abrangente, onde o hype será se desfazer totalmente de posses em troca de aparelhos constantemente conectadas à internet (IoT) em regime de commodity, ou seja, emprestados por prestadoras de serviços, afinal, essa troca pouparia gastos com manutenção, ajustes, local de armazenamento e necessidade de compra por desgaste, quebra ou mesmo perca, além de facilitar o acesso que pode ocorrer a qualquer hora e lugar.
Não dá pra negar o quanto Nubank e Neon, por serem bancos totalmente digitais ou um aplicativo de comida, permitem agilizar as coisas sem que a gente precise se estressar ou ter que sair do conforto de nossos lares.
Talvez o mais assustador nisso tudo, seja perceber o quanto essa constante conexão tornará mais fácil o monitoramento das massas, onde estaremos num Big Brother da vida real – previsto por George Orwell, no romance 1984 – onde o governo tem utilizado cada vez mais métodos pra nos espionar, contando pra isso com a ajude de órgãos de inteligência e grandes corporações e quando os engenheiros dificultam o acesso, são tratados como gênios do mal.
“Aquilo que nos torna alguém também diz respeito ao que temos, afinal, onde está o que damos valor, também poderá ser encontrado nossos desejos, sentimentos e motivações.”
Se isso realmente te causa medo, provavelmente você deve ter um adesivo na webcam, pra evitar ser vigiado, mas sinto desapontar, pois isso ainda não é o pior da distopia – onde a tecnologia é usada pra controlar a sociedade – o verdadeiro problema está mesmo na substituição da posse por um serviço.
A dependência de serviços, nos obriga a depositar informações pessoais e bancárias a terceiros que podem ser hackeados – tendo informações vazadas – prejudicando nossa segurança, além do governo poder acessar facilmente esses dados, sem falar que eles ainda podem ser facilmente furtados.
Exatamente o que houve com uma das maiores bolsas de criptomoedas do Japão, resultando numa grande desvalorização do bitcoin, o prejuízo foi de US$ 532 milhões (quase R$ 2 bilhões), sem contar que por mês, em torno de US$ 1,5 milhão em criptomoedas é roubado por cyber criminosos.
Erro 404 – Conteúdo não localizado 🙀
Já não temos mais controle sobre o que fazemos, dependemos de empresas que fornecem o acesso as ferramentas que usamos no dia a dia, como o Google Docs, Drive, Word Online, Dropbox e caso o acesso seja interrompido temos que correr atrás de alguma alternativa que talvez possa suprir nossas necessidades – você já deve ter experimentado isso pelo menos duas vezes com o WhatsApp.
E essa perca de controle não afeta apenas a gente, mas também as prestadoras de serviço, já que boa parte dos conteúdos distribuídos ali pertencem a grandes produtoras que cada vez mais tem feito exigências, onde não existe a opção de não serem cumpridas, centralizando cada vez mais o poder nas mãos de poucos, como já avisou Peter Sunde, um dos fundadores do Pirat Bay, por isso a Netflix tem apostado tanto em produções originais.
Ao abrir mão da posse de um bem, temos deixado de ser quem somos, pois nossa personalidade não é formada apenas pelo que cremos ou aprendemos, mas também por aquilo que a gente possui. A origem da palavra pessoa, que significa o indivíduo com suas particularidades, vem de personalidade, que por sua vez vem do grego persona, que eram as máscaras usadas nas apresentações, ou seja, aquilo que nos torna alguém também diz respeito ao que temos, afinal, onde está o que damos valor, também poderá ser encontrado nossos desejos, sentimentos e motivações [Mateus 6.21].
Num exercício mental, imagine que certo minerador resolve acessar sua conta pra ver o quanto sua riqueza tinha aumentado, mas ao fazer isso descobre que não há mais um centavo se quer, pior, aquela criptomoeda na qual ele investiu tanto tempo e dinheiro já não existe mais, a cena é perturbadora, mas totalmente possível daqui alguns anos, segundo o grupo financeiro Goldman Sachs.
Só que ao invés de se refrescar com a pimenta no olho do outro é melhor eu te dizer de uma vez que essa pessoa pode ser você, só que ao invés de perder criptomoedas você pode perder tudo o que imaginou possuir – seus arquivos e informações – já que todo conteúdo digital não passa de um amontoado de códigos que só existem enquanto os servidores estiverem funcionando, ou seja, caso o serviço seja interrompido por falhas técnicas, ataques maliciosos, furto ou falência da empresa e seus dispositivos também deem defeito, tudo que você levou anos pra conquistar deixará de existir num piscar de olhos e aí você terá de enfrentar a dura realidade de que nunca teve nada de verdade.
E se você acha isso improvável, provavelmente não passou pelo Plano Collor, um dos maiores golpes de Estado dado por um presidente, que confiscou a grana de muita gente – joga no Google ou pergunta pros teus pais e você vai ficar impressionado que, quando dependemos de terceiros, tudo é possível.
Por isso, guarde pelo menos uma moeda, pois daqui alguns, com a extinção do dinheiro em espécie, ela valerá bastante, afinal, com todas nossas informações e conteúdos nas mãos de grandes empresas quem tiver a real propriedade de um bem será mais rico do que o que tem um mundo virtual que pode desaparecer a qualquer instante, já dizia o ditado “em terra de cego, quem tem um olho é rei”.
Ósculos e amplexos,
Com informações de:
Estadão – 1, 2, 3, 4
Investing
Portal do Bitcoin – 1, 2, 3, 4,
Guia do Bitcoin
TecMundo – 1, 2, 3, 4
Tombatch
Canaltech
Hardware
G1
O Globo
Notícias ao minuto
MacMagazine – 1, 2
InfoMoney – 1, 2, 3
Adrenaline
Exame
Wikipédia – 1, 2
Origem da Palavra
Filosofia.com.pt
Techtudo – 1, 2
Codificar
Tecnoblog
IDG Now
Olhar Digital
Criptomoedas Fácil
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.