Sem asas, o que lhe restava era contemplar a imensidão celeste, onde a ave mais majestosa carregava o alvorecer, tornando belo o horizonte e cheio de cor de um dia perfeito. Até o céu se revoltar e o vento vir com violência sobre ele.
Não sendo suficiente vagar pra dentro das trevas, o barco é surpreendido por uma tempestade que revoltou as águas. Em meio ao desespero uma ordem estranha lhe abre os olhos, cegos pela escuridão, mas sua descrença quase bota tudo a perder.
Ele não sabia se ainda habitava um corpo ou havia se transformado numa consciência vagante indo em direção a escuridão. Tudo estava impregnado de trevas. O pior: ele não sabia quem era ou há quanto tempo estava nas entranhas da obscuridade.
Ao decidir por algo corremos o risco disso se mostrar oposto ao esperado porque a vida não é feita de certezas; os alicerces estabelecidos tanto podem funcionar como ruir de uma hora pra outra sem aviso algum, assim ser maleável é saber viver.
Pronto pra ceifar vidas, esse dia se aproxima dispersando trevas e pavor pelo mundo. Estejam esperando ou não, implacável ele virá fazendo vítimas e causando carnificina onde passar; e a única forma escapar dessa mortandade é estando alerta.
A obscuridade que ronda, levando a tristeza e a solidão – até fazendo desejar a morte – pode ser o desejo de ir além da aparência, quebrar padrões e formas, e conhecer a profundidade que dá sentido a vida.
Com tantas opções, pode ser que a escolhida, ao invés de trazer luz, esteja nos deixando mais perdidos, levando a confusão dos sentidos. Pior: e se a iluminação encontrada não passar de trevas?
Antes da luz surgir, tudo que se enxerga é trevas. Cobertos por um manto de escuridão, mesmos nossos olhos desejando encontrar a luz, tudo o que surge não passa de confusão que obscurece os sentidos.
Ao vagar pela escuridão, pode até ser que a gente não sinta mais o frio na pele, ou o arrepio que aumenta o torpor, deixando de perceber que a sombra da morte é carregada por nós.
Tanta coisa acontece longe dos olhos alheios, no silêncio do pensar, nas práticas desinteressadas; no tempo de ócio, quando a gente se encontra apenas conosco e as sombras.
Ao imergir no "eu", é possível ver estrela a se contrair em treva, resultando em buraco negro, que apesar de seu poder destrutivo, possui a mesma matéria que nós, mas em colapso.
Ela conta sobre a existência de um lugar maldito, evitado por todos em sã consciência, até mesmo o mais cabra-macho. Porque além de ser habitado pelo total esquecimento, a noite o lugar era tomado por uma escuridão aterradora.