Há quem diga que trevas não brilham,
Como enganados em seu querer estão.
Com suposição a refletir o que esperam,
Não há verdade alguma nesse desejar.
Mentiras que no negrume das nuvens
Se desfez em chuva que se distanciou.
Quem validou tal sentença proferida?
A ignorância da cegueira ousou dizer,
Há, sim, verdade que falta se buscar.
O palpite aponta o que lhe incutido foi,
Meias verdades redigidas em floreios,
Servindo de sepultura da interpretação,
Teorias que não contém rastro de vida.
Queria não me ter lançado no lamaçal,
Mergulhado em direção ao redemoinho.
Por vezes me inundam pensamentos,
Estrondando não mais retorno haver.
Os olhos se voltam em direção ao alto,
Pela densidade das trevas não há luz,
Apenas o turvo brilhar da escuridão,
Sombreado com contornos de sofrer,
Essa luz impede de ver o Sol brilhar.
Sentido ainda há aqui permanecer?
Dor maior que o peito pode suster,
Escapa olhos afora, num cortante,
Espada de dois gumes dilacera alma,
A escorrer pelos dedos vira palavras.
Forçando os olhos, posso enxergar,
Se encontra ainda nem tão distante:
Sepulcro com nome e sobrenome,
Feito pelas mãos que as palavras dilui
Seu parecer se mostra tão convidativo.
Em sedução as trevas surgem famintas,
Beleza que ofusca, do abismo o borrar.
Quem a viu tomado por seus laços foi,
O terceiro grau queimastes sob a luz.
Não foi por querer que aqui cheguei,
Mas fui carregado por escolhas ruins.
Vida procrastinada, imenso rascunho,
Que se revela sem direito a final feliz.
Que contentamento existe no fim?
Vida a se rabiscar os dias corridos,
Esquece o espetáculo do amanhecer.
Oportunidade não há em reescrever:
Ou se vive, ou há tempos está morto.
#papolivre
Nem todos os dias são bons. Num mundo decaído, onde a escuridão e a maldade se espalham, é de se esperar dificuldades – como recorda o artigo “As cores quentes e frias da vida“. Inclusive, uma das certezas que temos ao chegar nessa dimensão é estarmos sujeitos ao sofrimento [João 16.33] – algo que Lourdes descobre da pior forma em “Interrompido – O vale da sombra da morte“. Mas, mesmo os piores momentos nos dá oportunidade de ser luz – é o que o artigo “Forças disfarçadas de tragédias” aborda com a profundidade do mar.
Porém, ainda que as coisas ao nosso redor estejam bem, pode acontecer da gente se encontrar na bad, em lutas que ninguém nos vê passar – como compartilhei no artigo “37 danças ao redor do Sol” – ao ponto do pessimismo berrar que a vida não é tão boa quanto nos fizeram acreditar ou que não passa de uma piada de mau gosto – ideia essa que pode se intensificar, conforme o artigo “A falta de sentido e humor da vida” relata.
Foi num momento desses que esse poema me escapou – pra você ter noção de quanto tempo isso faz, foi no tempo do MSN Messenger. Após filosofar bastante no chat, entre conversas costuradas com doses de pessimismo e alguns conselhos, me pus a escrever um pouco de tudo que tomava minha mente naquele momento. Porém, a primeira versão, escrita pra uma terceira pessoa que nunca fiz ideia de quem era, tornava os versos iniciais agressivos demais – algo que em nada tem a ver com meu estilo, e que tratei de remover.
O processo, me ajudou a enxergar as coisas com uma clareza maior, porque a escrita possibilita melhorar a percepção das coisas. Quando tiramos o que sentimos de nós e parimos palavras, isso dá uma visão de fora, clareando a mente – algo experimentado por Asafe [Salmos 73]. Escrever possibilita experimentar outra percepção do que sentimos, trazendo melhora cognitiva e emocional, além de nossas dificuldades resultarem em poesia – algo abordado no artigo “Cada luta é um novo poema“.
Muitas vezes nossas noções se confundem, o mesmo acontece com os outros. O problema são as pessoas querendo impor suas suposições como veracidade – perdidas ao ponto de dizer que a verdade é relativa e cada um tem a sua, quando na real o que existe são diferentes percepções da realidade, que pode ser distorcida por crenças limitantes, resultando numa consciência morta [1 Timóteo 4.1-2].
É preciso cuidado com quem fala bem o suficiente pra entortar as coisas e criar sua própria versão da realidade [Isaías 5.20-22] – o poema “Das profundezas do abismo” alerta sobre isso – dos que trazem uma iluminação que cega por completo [Mateus 6.22-23] – o perigo dessa inversão é abordado no poema “A ilusão que acreditei ser liberdade“. Afinal, uma pessoa perdida pode cegar muitos e os levar pro buraco [Mateus 15.14] e a perdição [Mateus 23.15] – por isso, quando se está em pé é preciso cuidado pra não cair [1 Coríntios 10.12].
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.