#episodioanterior
Empolgado com as fotos de Kylie, Jean perde a noção do tempo e só vê que dormiu quando o pai lhe chama pro compromisso que tinham marcado e a dificuldade de levantar acaba gerando mó climão entre eles.
Embora tenha superado algumas coisas no domingo, ele viu que ainda não estava preparado pra conseguir falar com Kylie, segunda de manhã – ele até tentou, mas algo parecia atrapalhar.
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O professor iniciou a chamada, conforme foi falando os nomes uma a uma as vozes foram respondendo e as presenças marcadas, isso até chegar em Jean. Após o nome ser dito, seguiu-se um intervalo de silêncio, enquanto o mestre aguardava a resposta.
— Jean? – O professor chamou novamente, procurando pela sala e nada do aluno. – Alguém viu o Jean?
— Aqui, profe! – Ele surgiu na porta, bem a tempo dela fechar na cara.
Diante a cena, geral rachou de rir.
— Ai… ai! – Jean disse ao empurrar abri-la novamente.
— Perdão, migo! Não pensei que cê fosse aparecer logo, se não tinha segurado a porta.
— Tudo bem! – Ele massageou os lábios.
— Pensa o lado bom, Jean, agora cê tem uns beição sem precisar de plástica. – A sala caiu na risada.
— Valeu, Allan, amigão cê, hein!?
— Tá ligado que nóis é parça!
— Só que amigo da onça, isso sim! – O comentário fez a galera rir.
Após terminada a chamada, o professor começou a explicar a matéria, Jean mal conseguiu se concentrar, só ficou pensando que precisava mesmo falar com Kylie e isso tinha que ser logo, antes daquilo perder o sentido ou dele nunca mais conseguir fazer isso – té porque ninguém vai ter saco pra esperar mais um episódio pra isso acontecer – então só esperou dar o intervalo e a puxou de canto.
— Jean, que cê tem hoje? – Kylie riu.
— Nada! – Ele tentou disfarçar.
“Será que tá tão óbvio que quero algo?”
— É que cê tá todo mistério me arrastando pra lá e pra cá, além de tá meio agitado.
— Ah…! É mesmo, né!?
Ele percebeu que assumir seria menos suspeito que negar.
— Sim… – Ela levantou a sobrancelha.
— Por causa das provas, aí fico desse jeito.
“O medo tem costume de botar uma lente que exagera na proporção das coisas, assim, quando perceber que tá pensando demais, melhor calar a mente e se jogar, afinal, é melhor perder por ter tentado que permanecer com dúvidas do que podia ter acontecido caso tivesse tido atitude pra isso.”
— Bom, nunca te vi assim antes, té porque cê sempre tira as melhores notas.
— Cê acredita que té esqueci disso?
— Te vendo assim, acredito sim!
— E aí, cê recebeu as fotos?
— Sim, todinhas! Agradece, mais uma vez!
— Nada! – Ele sorriu. – E cê vai postar elas?
— Sim, no meu Insta.
— Ué, no Insta? Cê não disse que detestava rede social?
— Pois é! Cê acredita que cabei fazendo um?
— Faz tempo isso?
— Semestre passado. Não tinha te passado já?
— Não! Tô sabendo agora só.
— Nossa! Cabeça minha, cabei esquecendo. Passa seu insta aí.
Jean passou, mas como a conta dele era fechada, apareceu a solicitação liberá-la pro perfil de Kylie, depois de fazer isso ele aproveitou pra segui-la também.
— Agora fica melhor pra gente conversar, fico mais no Insta. Se precisar só vir de direct. – Ela piscou.
— Tá bom! – Jean sorriu, meio sem jeito.
Mas antes de poder dizer qualquer coisa, Ellis surgiu de repente e arrastou Kylie.
Enquanto isso os garotos aproveitaram pra zoar Jean, principalmente Allan, porque ele andava colado demais em Kylie, puxando ela de canto.
— Cê tá dando uns catas nela, né, safadinho!?
— Aff! Allan, nada ver! A gente é só amigo.
— Tendeu! Amizade colorida, então!? – Timmy aproveitou.
— Nada a ver, cabeção! – Jean lhe deu um pedala. – É só admiração mesmo, maior inteligente a Kylie.
— E cremosa também! – Phael piscou.
“Alguém é belo pelo que nos faz sentir, não pela quantidade de olhares que atrai a si.”
— Vai, confessa logo que cê tem um crush por ela. – Earvin incentivou
— Meu, cês são mala demais! Xô ir na biblioteca que ganho mais.
Os garotos ficaram vendo-o ir, sem se quer olhar pra trás.
— Bom, ele não negou! – Earvin destacou.
— Isso é! – Os outros concordaram.
Já em casa, sem ninguém pra pegar no pé, Jean aproveitou pra adiantar as atividades, daí lembrou do insta de Kylie.
— Se soubesse que era tão fácil conseguir, tinha pedido antes.
É, no fim, foi nem um pouco assustador como ele imaginava, aliás, teve nada ver com o que pensou – o medo tem costume de botar uma lente que exagera na proporção das coisas, assim, quando perceber que tá pensando demais, melhor calar a mente e se jogar, afinal, é melhor perder por ter tentado que permanecer com dúvidas do que podia ter acontecido caso tivesse tido atitude pra isso.
— Peraí! Essa é a Kylie mesmo?
Ele precisou ver todas as fotos pra acreditar. Se ele já a achava uma graça, ficou de boca aberta total.
Kylie tava tão diferente, sem o costumeiro ar de castidade que impedia vê-la como mulher que era – e que mulherão da poh@! Tudo aquilo acabava ficando oculto no off-line, escondida por detrás dos óculos Wayfarer.
Aquela Kylie era tão despojada e desinibida, posando com shortinhos curtos, tinha até foto fazendo topless – embora as mãos cobrindo os seios impedissem mostrar algo demais.
— Kylie, esse seu lado não conhecia nem nos meus pensamentos mais impuros.
Se foi uma surpresa ver tanta desinibição naquelas fotos? Pra não ser tão repetitivo, ele só não ficou mais bobo, porque já tinha estocado o estoque de bobeirice pro resto da vida.
— Por isso ela faz tanto sucesso no insta!
Ele notou que mesmo com pouco tempo de criação a conta, ela já tava maior famosinha e isso o fez sorrir, ele sabia bem a causa disso, um poeta, o tal do @mishaelmendes, disse certa vez que alguém é belo pelo que nos faz sentir, não pela quantidade de olhares que atrai a si, e nisso ela conseguia ser ainda mais linda.
Era foto demais pra quem não curtia toda essa parada de rede social, mas não importava a pose que fizesse, Kylie ficava bonita em todas. Jean ficou admirando as caras e bocas, poses e mais poses, que ela modelava com ar sapeca e inocente, capazes de lhe despertar o desejo de proteção – ao olhar o sorriso dela a vontade foi tomá-la nos braços.
Kylie manjava mesmo dos paranauê de fotografia, usando diferentes regras de composição, ao invés da básica regra dos terços, que permite posicionar e destacar o assunto, ele também percebeu o uso de alinhamento central, que ajuda a manter a simetria e da moldura na moldura que dá profundidade.
Além de outras regras, como balanço de elementos que destaca um elemento maior em primeiro plano, com um menor em segundo, de quadro preenchido que fecha a foto no assunto, mostrando menos informação em volta, minimalismo que mostra mais espaço negativo e a da proporção áurea, que segue o padrão usado na natureza pra dar mais consistência e humanidade.
Já ele que curtia fotografar paisagens, gostava principalmente da regra das linhas guias, que possui bastante versatilidade, como curvas em S, que trazem sensualidade a composição, linhas triangulares, usadas pra convergir longas distâncias num ponto, linhas verticais, que ajudam a dar ênfase e causar impacto, linhas diagonais, que direcionam o olhar do espectador, adicionando trama, e seguir as linhas, que levam o olhar a um ponto principal.
Ele ainda usava a regra das metades, que dá a sensação de equilíbrio, do sol nascente, que destaca o assunto, facilitando na rápida identificação dele e da interseção de linha, quando pontos diferentes se encontram, causando uma impressão mais forte.
Deixando a nerdice de lado, Jean reparou que os lábios vermelhos de Kylie pereciam ganhar volume, se projetando pra fora da tela, pedindo pra ser tocados, acariciados, provados e até beijados. Foi aí que Jean sentiu uma sede que o obrigou a hidratar os lábios com a língua, enquanto algo quente começou a pingar dentro dele, logo aquela sensação espalhou, até transbordar por todo corpo.
— Será que os caras tão certos?
— PAF! – Ele bateu na própria testa.
— Tá, poxa! Tô xônado na Kylie mesmo.
Não é que os caras tinham razão?
— E agora, José? – Jean mordeu os lábios sem ter como solucionar esse mistério.
Apesar do dia amanhecer brilhante, estava chuvoso, mas nem isso foi suficiente pra desanimar Jean que, sorrindo, abriu a janela, como a chuva estava no sentido contrário dava apreciar o vento refrescante, sem encharcar o quarto.
Ele então ficou admirando as árvores dançar nas calçadas, havia uma porção delas na rua, mas só agora ele reparou o quanto elas davam um colorido interessante, embelezando a paisagem.
Quando o despertador do Mi Note começou a tocar, ele saiu da janela e seguiu pro banheiro, ao passar pelo espelho, deu uma boa olhada no cara ali e se achou mais bonito.
— Acho que hoje vô com o cabelo assim. – Ele despenteou um pouco mais e gostou do resultado.
— Olha só! – Allan se admirou.
“Amigos não servem apenas pra zoar a gente, mas também pra nos colocar na direção certa, ajudando a enxergar alternativas que não tinham sido percebidas.”
— Quem é o carinha novo aí? – Foi a vez de Earvin.
— Para de ser bestas, sou eu!
— Eu quem? – Foi a vez de Tmmy.
— O Jean, oras!
— Desse jeito? – Paphael ergueu a sobrancelha.
— Não! Nem de longe. – Allan não podia ter sido mais irônico.
— Tá descolado demais! – Earvin destacou.
— O Jean que a gente conhece é certinho demais pra isso aí! – Timmy concordou.
— As pessoas mudam, pai! – Ele piscou e saiu andando, deixando os amigos pra trás.
— Tem alguém xônado mesmo! – Earvin coçou o queixo.
— Ò, se tá! – Allan deu ênfase na vogal.
A geral reparou que ele tava mais atencioso que o normal com Kylie e, lógico que não deixaram escapar a oportunidade de zoar o amigo, mas dessa vez ele nem se importou.
— Cês faz um belo par, hein!? – Allan sentou no meio dos dois.
— Shippo muito! – Phael parou na frente deles, mas saiu correndo. – Bora, Allan. – Ele convidou ao olhar pra trás e ver que o amigo tinha ficado lá.
— Pode ir! Quero acompanhar de perto a novela aqui.
— Para de ser mala! – Ele puxou o amigo pela orelha.
— Ai! Ai! Tá bom!
Jean e Kylie ficaram vendo os amigos se afastar e só deram risada.
— Cê tá bem diferente nessas fotos, Kylie! – Ele mostrou o celular. – Tava nem te reconhecendo.
— É que na frente da lente me solto.
— Percebi! – Ele abriu a foto do topless.
— Cê já vai logo na específica, hein!?
— Foi mal. – Ele ficou vermelho. – É que não resisti. – Kylie deu um sorriso que o deixou sem graça. – Quer dizer que cê tava me stalkeando, né? – Ele mudou de assunto.
— Tava dando uma olhadinha. Cê não fez o mesmo?
— A diferença é que não curti nada pra não deixar provas! – Ele riu.
— Bobo! – E aquele sorriso lindo se espalhou no rosto dela.
Empolgado como tava ele começou a falar do quanto o Mi Note era incrível, do que dava pra fazer e vários outros blábláblás só pra chamar a atenção dela.
— Licença, Jean, preciso ir ao banheiro, depois a gente se fala.
— Ah… ok! – Ele murchou, mas aceitou.
“Poxa! Que mina, difícil!” – Foi tudo que ele conseguiu pensar.
Aí que eles acabaram nem se falando mais.
“Que será que tô fazendo de errado? Poxa, toda vez que o papo tá legal, do nada ela desconversa e some!”
#proximoepisodio
Jean sacou que os amigos tavam certos, ele tava mesmo xônado por Kylie, mas perceber isso não ajudou muito, embora quisesse estar mais próximo, as investidas resultaram em nada – apesar da simpatia ela parecia fugir dele.
Como os amigos não servem apenas pra zoar a gente, mas também pra nos colocar na direção certa, ajudando a enxergar alternativas que não tinham sido percebidas, seguindo com o baile. Depois de uma ajuda pra acertar o tom, Jean vê a coisa fluir e consegue sair com Kylie – será que agora vai?
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.