Volto meus olhos pras nuvens
Contemplo o topo dos montes,
Mas de onde meu socorro vem?
Observando do céu tons azuis,
O dia perfeito se vai formando
E o sol começa a raiar intenso.
Ergo os olhos pra contemplar
Ardência no Sol do meio-dia,
Que na friagem da madrugada
Lanças raios a todas as direções,
Rasgando a densidade do breu,
Enquanto as lágrimas corriam,
Pontuou o que não tinha um fim.
O rosto se eleva e os olhos veem
Lá do alto, vem luz resplandecer.
A visão se permite mirar o Sol,
Antes cego pela luz vinda dali
Que ter visão pra dor enxergar!
Toma-me nos braços, junto a ti,
Enxergar já não importa mais.
Tranquei as portas do coração,
As saídas da vida, as bloqueei,
Por onde nada mais irá passar.
Paralisando o tempo, vai o Sol
Continuar na mesma posição,
A aquecer e iluminar trajetos,
Enquanto a luz segue lutando
Com o escuro até lhe dar fim.
Os olhos mantêm-se imóveis
No rosto, atentando pra cima,
Enquanto desejam ali orbitar.
Leva-me à calmaria das águas,
Pela mão, guia até teu querer.
Agora não me pertenço mais,
Vontade e desejo desfizeram.
Cego e necessitado sou de ti,
De servir alguém melhor que eu.
Cansei daquilo que antes queria:
Ambições, sonhos, necessidades,
Que escureciam os passos meus;
Sem tua luz, aqui, escuro se faz.
Vontade maior é perder a visão,
Por ficar de constante a te olhar,
Podendo ouvir afeto em tua voz,
Que guia os passos e me limpa;
Do que vendo, errar o caminho,
Perdendo-me onde jaz escuridão,
Sem a dimensão da luz, habitar.
#papolivre
Apesar de parecer contraditório, a liberdade pode conduzir às trevas, e nos deixar perdidos, quando se usa a capacidade de escolha pra optar pelo engano – como mostra o poema “A ilusão que acreditei ser liberdade“. Feitas sob uma ótica de olhos errados, que cortam a melhor opção, nossas decisões podem tornar os passos escuros.
Até a luz se revelar, atravessando tempo, espaço e dimensão, permanecemos cegos, tropeçando na noite mesmo na claridão do dia [Isaías 59.10]. Ainda que nossos olhos busquem claridade, um manto de escuridão só faz encontrar trevas [Isaías 59.9]; e por mais esclarecidos que a gente acredite estar, o que vemos não passa de sombras. As direções seguidas, são uma projeção distorcida, borrões gravados nas paredes pela dança das sombras.
Quando surge a luz no horizonte, pode causar cegueira e dor, mas sua chegada traz novas cores e sensações, trazendo descobertas e desfazendo toda dúvida e sombra. Não existe concordância entre luz e trevas – cujo poema “Em extremos de sombra e luz” mostra. Enquanto as trevas saem correndo, a gente encontra o que nem sabia precisar, e fica nítido que o problema não era a procura, mas a rota que levava ao lugar errado, onde a gente nem devia estar [Salmos 130.1].
Existe um preço a ser pago pra cada escolha, mas cegos pelos desejos seguimos buscando a ilusão da liberdade. Porém, perder algo valioso pra encontrar o que precisamos e pode nos salvar [Mateus 18.9] é melhor que ter tudo e nos perder em nós [Lucas 9.25]. Que a visão se vá, porque quando o Sol brilha, além de tudo o que pode fazer – como mostra o poema “Quando a luz se materializou” – traz cura sob suas asas [Malaquias 4.2] e carrega nossos passos com luz [Salmos 119.105].
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.