#episodioanterior
Emie é cancelada e com a ajuda de Red consegue enfrentar trolls e haters. Um presente misterioso agita a internet e rola até paródia, enquanto isso Zie anda estranha e os garotos ficam de olho pra descobrir o que rolava.
Acompanhe a minissérie » EP 01 • EP 02 • EP 03 • EP 04 • EP 05 • EP 06 • EP 07
O tempo é regado a lembranças e saudades, desejos e vontades, e passa a gente se movendo ou permanecendo estático, conforme ocorre cada escolha. Com a noite livre, Red chamou os parças pra uma partida do game mais insano de todos, “Sekiro: Shadows Die Twice”. Ainda mais jogado no Xbox, onde era possível setar as configurações no talo e ter um desempenho fluído, com gráficos realistas cheios de vida que numa tevê de trocentas polegadas, tornava a experiência animal.
Mesmo optando pelo console mais potente, havia a questão dos exclusivos, mas como a Microsoft vinha fazendo parcerias e comprando estúdios, o número de jogos pesados crescia na plataforma, fazendo Red achar que compensava pagar a mais pelo brinquedo.
Só que antes de convocar partida com os amigos ele devia ao menos ter visto algum gameplay, porque mesmo com a jogabilidade fluída e intuitiva, e diferentes opções pra cumprir o objetivo, logo ele perdeu a vez, assim só deu pra ter um gostinho. Aceitar um desafio não é garantia de vencê-lo, ainda mais quando não há preparação pra isso, e no caso de Red que andava sem paciência pra regras e desatento, ele não aprendeu com os próprios erros e acabou fazendo coisas que só noob faz.
O que restou foi ficar vendo os amigos controlar o Lobo, utilizando o gancho pra escalar praticamente tudo; criando situações de stealth, fuga e batalhas sensacionais. E enquanto exploravam cenários realistas, aprofundados nas raízes japonesas, Red prestava atenção aos diálogos pra descobrir mais daquele universo.
No começo, ele assistia empolgado, até se tocar que sua vez não chegaria tão cedo, daí perdeu o interesse. Além dele, ali na sala outra coisa estava solitária e esquecida, então ele foi em sua direção, a ligou e sintonizou sua estação favorita, apenas pra ter o que fazer, porque nem prestou atenção no que rolava.
Lembrando que aquela hora Emie devia ter chegado da festinha da prima, discou seu número. Após se informar de como foi o rolê, rir um pouco e falar sobre outras amenidades, sem qualquer planejamento, Red soltou algo que há um tempo andava preso na garganta, também no coração.
“O tempo é regado a lembranças e saudades, desejos e vontades, e passa a gente se movendo ou permanecendo estático, conforme ocorre cada escolha.”
— Gosto muito de você, Pimentinha. – O perigo de sentimentos cultivados é sua capacidade de crescer a ponto de transformar uma conversa aleatória em confissão.
— Também gosto de você, Red.
— Sei disso! – Ele buscou as palavras certas – …só que não é… só desse jeito…
— Poxa, Red! Não acredito que cê também se apaixonou por mim! – A decepção se evidenciou em sua voz.
— …é, tentei, mas seu jeitinho me pegou total… – O que acontecia ali era consequência do carinho entre eles, e com a forma de Emie tratá-lo difícil seria não gostar dela, mesmo se esforçando pra isso não acontecer.
— Que música é essa? – Ela mudou de assunto. Red, cuja atenção estava na voz de Emie e nem percebeu estar tocando nada, apurou os ouvidos.
— É Apologize, do OneRepublic. – Ele informou após usar o Shazam pra identificá-la e aumentou o volume, deixando a trilha sonora envolver as desculpas pra um relacionamento entre eles não vingar.
— Red, a gente mora longe um do outro. Muito longe mesmo. – Ele escutou quieto, discordando por dentro, afinal, isso não era problema, o sentimento por Emie podia encurtar distâncias e ultrapassar o que fosse necessário.
Quando a música terminou, Red estranhou ouvi-la tocar outra vez, já que a estação não costumava repetir música em sequência. Ao perceber que o som vinha do telefone, desligou o rádio e os dois ficaram em silêncio, apenas a ouvindo soar. Red escutara antes a canção, sem lhe dar a menor importância, mas o momento a tornou marcante pra Emie desde os primeiros acordes.
Após a apreciação musical compartilhada, ambos ficaram sem saber o que dizer. As palavras que antes saíam de forma espontânea, agora pesavam na língua. Red se esforçava pra dizer o quanto era difícil se imaginar sem Emie, e ela pra falar que mesmo eles não tendo um romance, seu sentimento por ele era intenso, além de ser grata por permanecer ao seu lado, com palavras gentis e sendo paciente e atencioso.
“Garotos não são bons com sentimentos, assim, preferem ignorá-los ou dar espaço pra reflexões sem necessitar de exposição.”
Desde o começo Red se destacou, sendo maior fofo e fazendo Emie se sentir especial, sem tratá-la como objeto de conquista, como os demais garotos. O que a fez querer sua amizade que podia levar a algo mais duradouro que as incertezas da intensidade de um relacionamento amoroso.
A cada repetição da música, eles ficavam mais sensíveis ao instrumental a acompanhar a voz melodiosa do Ryan Tedder e a participação especial do Timbaland fazendo “ie, ie” de fundo. Mesmo sem a compreensão total da letra, ambos foram envolvidos pelo som que tapou o buraco deixado pela ausência de palavras.
Sem jeito, Red olhou na direção da TV, só aí viu o jogo pausado, o interesse da geral tinha se voltado pra ele. Quando viram o olhar de Red na direção deles, os garotos sopraram dicas do que dizer e torceram pra tudo dar certo, mas sem algazarra pra não serem ouvidos.
— Desculpe, Red, mas não ia dar certo. – Emie teve coragem suficiente pra retomar a conversa.
— Mas…
— Só espero não perder sua amizade, ela é importante demais pra mim.
— Tá bem… – Embora sua resposta fosse afirmativa, o tom usado e a economia de palavras demonstravam estar nada bem.
Percebendo o climão após Red desligar, os amigos salvaram o jogo, o cumprimentaram e se foram – garotos não são bons com sentimentos, assim, preferem ignorá-los ou dar espaço pra reflexões sem necessitar de exposição.
Em companhia da solidão, Rede teve que aturar as últimas palavras de Emie repetindo em sua cabeça. Ele até tentou lhe dizer que não temia o sacrifício que se fizesse necessário, mas foi interrompido e acabou ficando sem palavras. Sua resposta saiu no automático, sendo enviada antes do cérebro processar o que foi ouvido, devido ao curto que a decepção causou nas sinapses nervosas.
Red acabou contando tudo pra Zack, que o chamou de podre por se apaixonar por alguém que nem chegou a conhecer pessoalmente, que pra ajudar ainda morava maior longe.
— Esquece ela, parça! – Ele abraçou seu ombro. – Melhor coisa.
— Como se isso fosse fácil de fazer. – Red entortou a boca, contrariado.
— Sabia que isso ia dar ruim. A Emie é fofa demais e esse negócio de muita amizade só podia dar nisso. – Ele balançou a cabeça. – Pelo menos fiquei com ela, e você, Red, que teve além de um amor platônico? – Ele ergueu a sobrancelha.
“O interrompimento inesperado de um relacionamento, pode doer tanto que o melhor é cortar os laços pra deixar de sentir e avançar.”
Com as palavras furtadas, Red se afastou, tentando não se chatear mais e com a certeza que não devia ter dito nada pra Zack. Pra distrair a mente, foi ler as últimas notícias do universo dos quadrinhos.
No meio da leitura, um estalo o fez lembrar de Apologize e pesquisando a letra a traduziu, só pra vê-la falar de si mesmo. Ele havia se apegado a algo frágil, como uma corda prestes a se romper, onde foram colocados e empurrados seus melhores sentimentos.
Mas nem deu pra refletir direito sobre a coincidência trágica de tudo aquilo, logo Zie apareceu, cheia de sorrisos, falando de vários assuntos. A surpresa pegou Red de jeito, que imaginou que ela é quem mais ia perturbar por não lhe dar atenção quando tentou afastá-lo de Emie. Mas mesmo sabendo de tudo, Zie agiu de forma contrária e se quer tocou no assunto, o fazendo ficar grato por sua amizade e compreensão.
Zie se chateou com o que houve após tanto avisar, mas agora era amiga de ambos e como jogar na cara do amigo a responsabilidade por sua teimosia só ia aumentar o peso, escolheu fingir que nada tinha acontecido ao invés de tentar consolá-lo e aumentar as proporções da bad que tentava nocauteá-lo.
O correr dos dias, trouxe mudança de tempo, também de sentimentos. Antes qualquer notificação de Emie era desculpa pra Red não parar mais de falar, ainda mais quando estava de boas, agora por mais que ela enviasse mensagem ele ignorava. O interrompimento inesperado de um relacionamento, pode doer tanto que o melhor é cortar os laços pra deixar de sentir e avançar.
Pra ficar na moita, na opção visto por último ele selecionou ninguém, ocultando a exibição de há quanto tempo estava sem usar o aplicativo, além de desativar a confirmação de leitura e a opção de exibir quando ficava on-line, assim, mesmo que visualizasse as mensagens, não dava pra Emie saber se tinham sido lidas ou quando isso aconteceu, evitando ser incomodado na hora em que conversava com alguém.
Todo aquele sentimento a agitar um oceano de sensações foi se transformando num maremoto de mágoa, assim, ele escolheu deletar Emie de vez da memória – começando por excluir o histórico de mensagens trocadas e tornar o processo menos doloroso.
“Não é o tempo, mas a intensidade que permite a gente conhecer alguém melhor.”
Dando a geral no quarto, Red achou uma pilha de desenhos nos quais Emie aparecia como diferentes heroínas de HQ, que ele nem chegou a mostrar pra ela. Ao espalhar as folhas sobre a cama, lembranças que imaginou excluídas o inundaram, então recolheu tudo de qualquer jeito e meteu no fundo da gaveta – de onde não pretendia tirar mais.
Esquecendo a limpeza, mandou e-mail pra Emie, dando um basta de vez na história que havia ficado em aberto, sem uma conclusão. Após isso, o incômodo reduziu, tanto que conseguiu focar na pilha de tarefas que tinha pela frente.
Sábado estava chegando e lá estava Red, com a tela de abertura de “Sekiro: Shadows Die Twice” pausada, a olhar o console, exausto. Ele ainda não estava bom o suficiente, mas não podia fugir mais uma vez da partida com os amigos – o estoque de desculpas pro ano todo já tinha esgotado.
Após se estressar com o nível de dificuldade do jogo – algo no qual o game foi bastante criticado – e de queimar massa encefálica bolando estratégias, chorar pela morte de pessoas próximas ao Lobo – devido à capacidade dele retornar dos mortos – e derramar mais lágrimas de raiva mesmo, Red desligou o console antes de quebrá-lo de vez.
Pra arejar a mente, foi pro quarto e deu play em “Amor não correspondido“. Apesar da série com suas reviravoltas possuir paralelos com a sua história, distraído como estava, enxergou aos borrões o que passava na tela.
Quando o borrão estava prestes a ser obscurecido pelo sono, o telefone na sala pareceu tocar. Acionando o mudo no controle, ele teve a comprovação que alguém ligava. Sem vontade alguma de largar o conforto onde estava jogado, Red se arrastou escada abaixo, e retirou o aparelho do gancho só pra ouvir uma voz feminina perguntar por ele.
Ao se dar conta de quem era, ficou sem reação. Ele imaginou que depois da mensagem enviada, Emie o esqueceria de vez.
— Red, que e-mail foi aquele? – Pelo silêncio ela soube com quem falava.
— Eu… – Ele tentou começar, mas foi interrompido.
— Cê acha certo mandar aquilo depois de me ignorar total?
— Fiz isso porque achei que era melhor…
— Pra quem? Só se foi pra você, porque fiquei mó mal! – Ela soltou o ar com força. – Poxa, Red, por que cê fez isso?
Apesar de ficar calado, ele lembrava da mensagem, bem como cada palavra e sentença impressas na tela.
Desde que postei aquilo no Stories, você ficou meio estranha e pensei que eu tivesse feito algo errado, agora entendo e sou grato por você deixar claro que a culpa não foi minha. Se abri mão do que sentia por você, foi por me dizer pra fazer isso, não porque desisti, pois quando precisa eu faço o necessário, como te deixar ir – uma das coisas mais difíceis que já fiz, mas também a melhor.
Conforme nos relacionamos com as pessoas, adquirimos vícios e virtudes e, contigo, aprendi a ser mais atencioso, mas a garota com quem falei nos últimos dias nada tinha a ver com a menina maravilhosa que conheci.
Como não escolho por você, me afastei, até porque nossa última conversa me deixou mal. Sempre achei bobagem aquela coisa da gente não mandar no coração, mas quando te conheci provei a verdade disso, já que não planejei gostar de você, não desse jeito. Ainda tentei me conter, por isso não ficava de ideia e das vezes que disse te amar, foi mais em retribuição ao que você dizia, que pelo que eu realmente sentia.
Não sei se você vai ler ou aceitar isso, mas o que dizia o desenho que te mandei é verdade: você sempre estará no meu coração. Só agora estou dizendo essas coisas porque da última vez que a gente conversou não consegui falar nada disso, pois a cada frase minha, uma palavra sua me emudecia total.
— Red, cê pode não ter percebido, mas fazer isso me machucou. – Emie o trouxe de volta das memórias.
— Pensei que fosse melhor pra gente cortar relação.
— Nem vem! Sei que cê também não tá bem com isso!
— Como assim!? – Ele se espantou.
— A Zie contou que cê não anda legal, apesar de disfarçar bem.
— Ah! Sim… – Red ficou sem jeito. – Mas talvez esquecer seja melhor, a gente mal se conhece mesmo.
— Poxa, como cê fala assim!? Não é o tempo, mas a dedicação que permite a gente conhecer alguém melhor. Pode ter sido pouco, mas foi o tempo suficiente pra eu me apegar a você.
— … – Ele nem teve o que dizer.
— Isso foi injusto da sua parte, Red, gosto muito de você e não acho certo cê fazer isso com a gente. E as horas que ficamos conversando até de madrugada, não significou nada pra você?
Aquelas palavras lhe furtaram o chão, ele pensou que Emie não se importava a esse ponto, por isso escolheu esquecê-la. Nunca imaginou que a tivesse cativado a ponto de sua falta se fazer presente.
— Melhor assim, não tava me sentindo bem. – Ele explicou, sentindo um mal-estar desagradável.
— Certeza, Red? Gosto demais de você, mas cê que sabe. – O peso daquelas palavras lhe deram forma, assim ele não apenas as ouviu, também experimentou a dor delas ao socar a boca de seu estômago. Principalmente porque o gostar de Emie trazia apenas o significado de amizade, já seus sentimentos por ela eram mais profundos. Ainda assim, entre idas e vindas, aprender a lidar com as decepções é o caminho pra evitar os extremos; e isso é algo que ele precisará sofrer na prática pra aprender com propriedade.
#proximoepisodio
Red guardou tanto sentimento que acabou por virar peso, o problema agora será se manter firme em esquecer Emie de vez. Mas entre tantas reviravoltas amorosas, ele receberá uma proposta que o fará experimentar a mesma dificuldade na qual meteu Emie.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.