Poesificando: Em pedaços me vejo fragmentado
Bernard/ Unsplash

Me vejo em pedaços fragmentar

Deixei de ser alguém que traz a felicidade
Meu sorriso já não mais significa alegria
Aliás, já não quer dizer mais coisa alguma!
Não consigo confiar em quem quer que seja,
As pessoas nunca são aquilo que fingem ser.

Você pode até pensar que me compreende,
Mas não sabe nem o mínimo do que acha,
Na verdade, você vês apenas o que quero!
Meus sonhos, desejos, vontades são ilusões,
Meu sorriso, palavras e amparo não passam

De algo pra te induzir a cometer mais erros.
Se pensa que um dia chegou a me conhecer
É porque efetivamente consegui te ludibriar.
Não se ache por acreditar saber quem sou eu
Só porque passarmos alguns bons momentos.

Não espere saber qualquer coisa de mim
Só porque os lábios meus te confessaram.
Não presuma nenhuma sentença que seja
Por me ter visto prostrado e sem ter brilho
Não pense de mim, conhecer nem um terço

Se não sabes o peso das trevas aqui dentro.
De mim se foi o amor, o coração não tolera
A ferida por ele deixada é difícil remediar.
Confiança é algo que não tenho pra perder
Pois o laço que se arma te torna presa sua.

Não confiar nos lábios que asseveram o amor
É o jeito de não me ter levada novamente a luz.
O que habita o coração destila-se em palavras
Vazias, sem sopro, trazem o cheiro de inanição
Evocando fortes odores, lembranças que doem.

Enquanto as pessoas se acham e se encontram
Estou cada vez mais perdido e vazio em mim,
Sou só mais um sem rumo em meio a multidão.
Já não preciso de ajuda, perdido me encontrei,
O que me resta é somente isolamento e solidão.

Sei o que quero, mas não o caminho a percorrer.
Morte já não causa medo, tão pouco é ponto final,
Óbito, antes pesadelo, é apenas estado no espírito.
Cores e tons já não transmitem nenhuma emoção,
Não expressam nada, só servem de camuflagem,

Pra confundir, levando-lhe ao que deves acreditar.
Não vou esconder tanta tristeza vivendo em mim,
Não mais ocultarei o descontentamento que sou.
Que diferença faz se a tempos venho afundando,
O próximo só fecha os olhos e muda de direção?

Ocultar o erro que virei
Joanna Nix-Walkup/ Unsplash

Por que ocultar o erro em que me transformei?
Sou hoje o que quero e não o que um dia já fui.
Eis o que esperavam, mas que eu não queria ser,
Agora quero mais do que nunca pude presumir.
Quanta dor a gente acaba ocultando no interior,

Tanto sofrimento retraído pra evitar dor alheia,
Mas todos esses sacrifícios realizados por outros
Ao invés o fazermos por nós podem até não valer
E acabar resultando num grande e desolado vazio.
A dor ensinou que solidão é afeiçoada companhia

E que esperar a mesma quantidade de compaixão
É o mesmo que se firmar além do que suporta a fé.
Espere o julgamento na mesma medida que julgas,
Só não espere de voltada todo amor que dispensou.
Talvez te caiam algumas gotas no deserto de solidão,

Mas jamais irá jorrar uma fonte pra lhe refrescar.
Todos os fragmentos que hoje restaram de mim,
São apenas peças perdidas do que sempre fui,
Juntando-se aos poucos, vão se unindo pela dor.
Antes de chegar ao fim é que me desconstruí…

Hoje fragmentado, apenas os cacos me compõem
Perdida algumas partes já nem sei onde encontrar,
Ainda assim sinto-me inteiro, mesmo despedaçado.
Não há como prosseguir, sem deixar algumas partes
Toda escolha implica em ganhos e percas também

Algumas mais, outras menos, mas sempre algo fica.
Ainda não sou livre, então sigo a liberdade a buscar,
Mas ao me aproximar das grades começo a sonhar.
Me debater contra paredes e barras causou feridas,
Porém, a sensação de correr para a liberdade aliviou.

O que hoje se exterioriza são profundos sentimentos,
De dor, paixão pela vida, ainda que seja malsofrido,
Já não preocupa o quão chocante me seja o exterior
Desejo apenas que vejam que apesar de todo pesar,
Da dor e da perseguição que foram infligidos a mim

Nada pode me subjugar
Andrew Neel/ Unsplash

Nada disso foi capaz de conseguir me subjugar
Fazendo com que me sepultasse dentro de mim.
Estou abrindo asas e preparando pra fazer o voo
Um dia sei que valerá a pena ter ido tão distante
E será reconfortante me ver tão alto ter subido

Todo frio experimentado será recompensado
Cada prova e ingratidão que precisei suportar
Também as privações, danos, percas e desprezo,
Também as quedas sem ter uma mão estendida
Virá a recompensa por escalar o mais alto monte

Enfim, asas abertas vou me lançar a liberdade
Sem cera pra esconder as partes remendadas
Me desfarei na incerteza da imensidão etérea.
E ainda que não consiga a sonhada libertação
Perecerei tentando, mas não vou viver em vão!


#papolivre

Quem nunca se sentiu impróprio em si mesmo, abandonado e sem qualquer perspectiva – ainda mais quando tais percepções são profundas, prolongadas e sem perspectiva de fim?

Enquanto as minhas não findam, sigo compartilhando o que sinto, deixando palavras escorrerem da alma, passando pelos dedos até alcançar você. A melhor forma de aliviar a dor é cravá-la em versos, pois apenas a exposição, ao invés do aprofundamento no sofrer e em traumas, irá possibilitar alcançar a liberdade.

Ósculos e amplexos,

Mishael Mendes Assinatura
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