Que liberdade é essa que chega trazendo deleite,
Naquilo que me consome e aos poucos destrói?
Que liberdade é essa que me torna mesquinho,
Prendendo apenas em minha própria vontade,
Enquanto ignoro necessidades alheias a mim?
Que liberdade é esse que me vicia na solidão,
Enchendo a alma até ela tombar de tristeza?
Que liberdade é essa que me arranca valores,
Oferecendo beleza na essência apodrecida?
Que liberdade é essa que tudo torna acessível,
E reduzindo distância desfaz contato pessoal?
Que liberdade é essa, cuja felicidade é perspectiva,
Propagando a aparência como o ápice pra se viver?
Que liberdade é essa que de obrigações traz isenção,
Deixando restar tempo pra maquinar divagações?
Que liberdade é essa que desfaz leis e preceitos,
Desobstruindo as barreiras e antigas limitações,
Enquanto a mente, confusa, vagueia sem direção?
Que liberdade é essa que ensina verdade relativa
Deixando sem parâmetro e sem chegar a exatidão?
Que liberdade é essa que condiciona a dependência
De algo que só possui a sensação de curto momento,
Mas a enrubescer a face, causa isolamento, repúdio?
Que liberdade é essa a despertar interesse e desejo
Por algo ao qual não tenho ou nem a mim pertence,
Me desfazendo em desejo, me sacrifico pra obtê-lo.
Que liberdade é essa a impedir de crer no não visto,
Dando coceira por ouvir meias verdades e sofismas;
O ouvido transborda engano até a mente cauterizar.
Que liberdade é essa que deixa ser feliz como quero,
Mas sua entrega vem a custo de dor e humilhação?
Que liberdade é essa que liberta do jugo e acusação,
Mas apenas deixa mais perdido entre tantas opções.
Que liberdade é essa que me faz ignorar as vozes
“O inferno são os outros”; o problema não sou eu,
Assim, permaneço errando, sem jamais mudar?
Que liberdade é essa que me faz negociar valores,
Assim, vendo crenças, modos, respeito e até honra,
Em troca de poder alcançar todos os sonhos meus.
Que liberdade é essa que pureza e beleza perverte
Usando a atenção, pra chamar, atraindo os olhares,
Mas esvazia por total a essência de seu recipiente,
Ocultando sobre a brancura podridão e impureza?
Que liberdade é essa que permite fazer o que quero,
E vem abolindo verdades e mentiras, o bem e o mal,
Até o limite do sacro e profano diante dela desfaz?
Que liberdade é essa que me faz transbordar a taça,
Enquanto o tempo se estingue num absurdo veloz,
Até o freio do cavalo chega o resultado do prazer?
Que liberdade é essa que diz que é tudo permitido
Pra uma matéria decaída a buscar o que desgasta,
Assim acaba presa no escuro, sem fôlego algum?
#papolivre
A liberdade tão propagada na mídia pela cultura pop não passa de ilusão, porque traz uma esperança que não é real [Romanos 8.24]. Mesmo permitindo desfrutar do prazer concedido pelos desejos, longe do jugo de imposições, o que consegue é embaraçar e levar a ruína [Mateus 7.13-14].
Não é porque nada é proibido que compense aproveitar de tudo [1 Coríntios 6.12], ou mesmo permitir esses desejos despertarem em nós – até porque ao se manifestar, eles alastram pelo corpo, dificultando resisti-los; e ao ceder as paixões podemos nos tornar seus escravos [Gênesis 4.7], como aconteceu com Amy Winehouse. Os sentidos abrem as portas da percepção do corpo pra: experimentar o prazer, absorver o mundo exterior e criar conexões; mas se deixar guiar por eles pode nos levar ao erro [Mateus 6.23]. A beleza reluzida pode ocultar podridão [Mateus 23.27] e a aparência de bem, não ser tão benéfica quanto se mostra [2 Timóteo 3.5, Provérbios 14.12]. Até o que se ouve não é possível acreditar: a doçura nas palavras pode conter amargor que resulta em vício capaz de apodrecer até os ossos [Provérbios 5.3-11].
É impossível afirmar as intenções por trás de toda essa liberdade escancarada, mas dá pra observar seus frutos [Mateus 7.16-17], que têm resultado na redução do amor ao invés de aumentá-lo [Mateus 24.12], conforme prometido; diminuindo tudo o que ele simboliza, como cuidado, respeito e entrega [1 Coríntios 13.4-8]. Isso porque essa liberdade leva a uma busca egoísta pelo prazer, resultando em comportamentos nada dignos [2 Timóteo 3.1-4] – que diferem total do sentimento supremo, como mostra o artigo “Envolvidos pelas profundezas do amor“.
Não dá pra acreditar em tudo que vemos e ouvimos, na real, não podemos nem mesmo confiar em nós. Nossa mente é uma confusão total que acaba induzindo ao erro [Jeremias 17.9], por isso devemos refletir sobre os estímulos recebidos e as sensações que provocam em nós, caso estimulem o id – nosso lado selvagem que busca apenas o prazer – é sinal que essa liberdade não passa de arapuca. Porém, mesmo as coisas ficando confusas, devemos buscar o que for melhor, caso a razão nos condene, D-s vai saber a verdade oculta na mente [1 João 3.20].
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.