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Poesificando: Das profundezas do abismo - .inversivel
Poesificando: Das profundezas do abismo
Adam Neumann/ Unsplash

Das profundezas do abismo

Quando nas profundezas do abismo
Tudo que se vê é vazio e solidão,
As trevas deformam as vistas,
Já não é possível enxergar cores;

Mente e entendimento cauterizam.
Os ouvidos distorcem cada palavra.
Percepções se tornem erradas.
Com a pele envolvida por fuligem

Não é possível sentir carinho,
Ousar acariciar resulta em cortes,
As partículas em sua pigmentação
São lanças que rasgam ao toque.

Proteção se torna aprisionamento,
O cuidado nem mesmo é percebido;
Distorções envolvem os ato, tudo
Se carrega de trevas e inverdades.

Quando nas profundezas do abismo
Cada pedaço de felicidade recebe
Uma cobertura de amargor que
Enfraquece ossos e azeda a alma;

Até o sorriso alargado carrega dor,
Gestos e intenções se obscurecem,
Nada se vê além da neblina de dor,
Aflição vira alimento nas refeições,

Rios correm dos lençóis
Christoffer Engström/ Unsplash

Enquanto rios correm pelos lençóis.
Os sentidos torcem e distorcem cada
Símbolo, significado e significante;
Já não basta dizer ou mesmo fazer,

Há sempre inversão de toda prática,
A alternativa é pior que a realidade,
E mesmo irreal se mostra mais real
Que aquilo que se desfaz num sopro.

Quando nas profundezas do abismo
Mesmo falando da pureza da luz,
Tudo que sai da boca é escuridão,
O amor soa com volume, mas vazio;

Seu barulho oculta ódio e desprezo,
As interações são envolvidas apenas
Por interesse, mentira e falsidade.
As brasas que acede não aquecem,

Apenas despertam desejos
NEOM/ Unsplash

Apenas despertam desejos e fúria.
Chamas no peito consomem as vestes,
Sob os pés, o chão se torna braseiro;
As sombras é quem guiam os passos.

E a chance da luz se revelar causa
Pavor, fazendo entrar em modo fuga,
A verdade causa coceira nos ouvidos;
Abismos se abrem um atrás do outro.


#papolivre

Mesmo abordando um assunto sério e doloroso – ainda mais pro Renato RussoPais e Filhos, acabou se tornando a música mais conhecida e cantada do Legião. Longe de romantizar o suicídio, seu sucesso pode estar ligado às diferentes perspectivas que lhe dão um ar de mistério. Ao iniciar esse poema, a ideia era falar em como nossa percepção se altera quando nas profundezas da tristeza – ou depressão – logo os versos caminharam pra descrever as causas provocadas pelo sofrimento que também nos joga no abismo, não interessa por qual porta dos sentidos isso aconteça – o livro “Interrompido – A curva no vale da sombra da morte“, mostra até onde o peso da dor pode dilacerar alguém.

Então, minha percepção se abriu pra uma terceira e mais obscura forma de se alcançar as profundezas: através da persistência no erro consciente [2 Timóteo 3.7]; tudo isso deu a obra outros ângulos, como a música do Legião.

No momento em que alguém se deixa envolver pelo terceiro abismo, mesmo a pessoa falando da luz, o que solta são palavras carregadas de escuridão; ainda que diga algo em nome de D-s, só destila ira, causando discórdia e separação – como comentei aqui. Em conflito consigo mesma, ela só consegue despejar ódio, quando a marca pela qual a gente é reconhecido como seguidor de Jesus é o amor [João 13.35].

Corrompida, ensina que luz são trevas e o escuro é luz [Isaías 5.20]. Transformando religião em poder, manipula mente e corações pra obter mais e mais grana – até nos fazer desacreditar dessa instituição, como abordei nesse vídeo. Invalidando a eficácia da verdade [Romanos 1.32], essa psicopata acaba por cauterizar a própria mente [Timóteo 4.2], perdendo a sensibilidade, pra não entrar em parafuso devido ao conflito existente entre seus desejos e aquilo que profere – a luta entre carne e espírito [Gálatas 5.17] – porque suas práticas a condenam.

Não importa em qual desses abismos a gente se encontre, quando os olhos ficam errados, a luz neles se reveste de trevas. A percepção distorce, projetando uma realidade retorcida – como abordei no artigo “A maturidade que os anos não trazem” – fazendo o mesmo com as ações do outro – entenda melhor no artigo “O espelho nos outros“.

Quanto mais tempo a gente passa nesse lugar obscuro, a mente deforma, bem como nossa biologia; a gente vai perdendo a visão e a sensibilidade, até o corpo se transformar pra poder continuar sobrevivendo nas profundezas do abismo. Mas ainda que a gente perca toda luz a existir em nós – já que somos feitos de pó de estrelas, como mostra o artigo “Apagando reflexos com a sua luz” – é possível clamar da profundidade do desespero, ser resgatado e receber perdão que transforma a realidade por completo [Salmos 130].

Ósculos e amplexos,

Mishael Mendes Assinatura
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