A maldade que há em meu coração
Se exterioriza pelas minhas ações,
Escorrendo, surgem pelas mãos,
Pés, olhos, lábios e por todo corpo
De braços abertos recebi o prazer
Aninhando ali te vi longe de mim,
Afastando-se em distância maior
Indo pra longe, longinquamente,
No ermo onde passeei eu me perdi,
Quando vi, abraçava a mim mesmo
Sozinho, mais, não conseguiria estar,
De companheiro só me restou vento
A levantar areia e prejudicar a visão.
No deserto tudo o que resta é solidão
Aqui o porte de minha insignificância
Aparenta aumentar, ser ainda maior,
Perdido me encontro nessa vastidão
De companhia restando apenas o ego.
A noite fria se apresenta, me envolve
Então logo o sol se cala na escuridão,
Depressa o escuro me quer devorar.
Fujo correndo, caminho, me arrasto
E sua densidade parece não ter fim.
Recosto no chão só pra me dar conta
Que um banal grão, na terra, sou eu.
Desapareço de vez em meio a poeira,
Mas, afinal, do que sou feito mesmo?
O sol ardente e incessante me roubou
Água em mim como orvalho sorveu,
Até não restar nada além de cinzas
Pó e areia é tudo o que restou aqui
Até que o vento começou a soprar
Movendo tudo com força violenta
Colocando cada coisa em seu lugar.
Com força o vento soprou em mim
Levando-me para onde não se sabe
Começo a flutuar, voo pelas nuvens
Em nova criatura agora transmutei,
Me vejo aqui, entre nuvens a planar.
O vento conduz aonde devo atingir,
Trago sou pelo vento que soprastes
O colírio abre os olhos pra essência.
Agora vejo que eu é que me afastei
A maldade em mim me distanciou,
Arrancando-me de Ti, cheguei além.
Percebo que deserto é dor, saudade,
Mas também aprendizado, verdade.
Na dor é que experimentei teu amor,
Vi que caminhar vale mais do que falar
E como depende um ser tão pequenino
Do amor que é mais forte que a morte.
Pois o que sou eu sem as tuas palavras,
Sem tudo aquilo que proferes de mim?
As palavras que me embalam os sonhos,
O tesouro que o olho ainda não pode ver,
Palavras, sagradas letras que não tem fim
Voz que me concebeu vida e deu forma
Que sustenta o universo vibrando força.
Só Tu tens as com fardo de vida eterna,
Da vida que quero pra sempre desfrutar,
As mesmas que me tiraram do vão existir
Pra viver pelo propósito maior, teu querer
Pois sem ele nada do que é tornaria a ser
Imersão de complexidade de sonido e luz.
#papolivre
Sabe aquela conversa com D-s, que a gente chama de oração? Foi assim que me surgiu esse poema!
O significado original da palavra oração é falar face a face, só que fazer isso exige sinceridade – o que às vezes pode tornar isso meio difícil. Mas quando falamos com quem nos conhece bem ao ponto de não julga pelo exterior e, sim, por quem realmente somos [1 Samuel 16.7], o medo se esvai e a gente rasga o coração – tão logo as palavras me saíram dos lábios, percebi que as tinha de escrever e esse foi o resultado.
Sou imensamente grato a D-s, pois sem Ele minha existência seria nula, não passaria de um corpo vazio a vagar perdido pela escuridão. Ele é quem é a luz [Apocalipse 21.23-24] de meus passos [Salmos 119.105] e nele está o sentido do viver [Romanos 11.36], pois é minha alegria [Habacuque 3.18] e o motivo da minha canção [Êxodo 15.2].
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.