Ignora no espelho a distorção refletida,
Antes dá crédito a admiração proferida,
Ouve menos a voz que te deturpa e cobra
A qual te reduz, a decompostos estilhaços
Que pulverizam até a essência perderes
Deixa de caçar defeitos e imperfeições;
Que tua mão conceda o prazer do toque,
Não a faças apalpar aquilo que te esgota.
Confia menos nas ideias soltas pela mente,
Escolhas seguir a intuição que revela força,
Deixa crescer, ser, tornar-se, vir a florescer
Semente que gera árvore a abraçar o mundo.
Medida e proporção não passam de números,
Inúteis pra calcular teu volume de grandeza;
Também a balança não vai ter como precisar
A quantidade de virtudes contidas em você.
Esqueces o que ganhou e o que ainda te falta,
És perfeição, com teus defeitos e qualidades.
O que te completa não são objetivos e metas,
Exigências que forçam na busca por padrões.
Você é luz, raio que perto faz querer estar,
Uma fonte de palavras não lhe descreve;
Não há curvas ou contornos pra desenhar
A verdade que em tuas rugas se acumula.
Teus passos colhem suspiros no caminho,
Sem ter estética invejável, atrais olhares;
O que chama a atenção em ti, é essência,
Invisível ao olhar se impregna na alma.
És maior que tuas grandiosas aspirações,
Também do que é possível a visão alcançar.
O brilho que dispersas se percebe a distância,
Por todo aquele que se põe a te contemplar.
Seu sorriso irradia mais que constelações,
Clareando, carrega conforto e aconchego.
Deixa-te levar pelos impulsos da alegria,
Pelos caminhos da felicidade sem motivo;
Curte a presença de quem lhe aceita como és,
Respeita teus gostos e ignora autocobranças,
De quem sorri e comemora a tua companhia,
Que faz perceber a beleza que de você emana.
#papolivre
Tentando se ajustar pra caber em padrões que em nada nos representam, a gente acaba se cobrando tanto – isso quando não se deforma, como recorda o poema “Disforme, não sei mais quem sou“. Daí se vai tempo, grana, esforço e essência; nos perdemos a ponto de esquecer nossa identidade – ao invés de deixar a luz em nós revelar a verdadeira beleza [Mateus 5.16]. Assim, sem enxergar o que nos torna belos, deixamos de dar importância a quem somos, e enquanto elogios perdem sentido, buscamos alcançar o inatingível, nos forçando a ir além do que é saudável física e mentalmente.
Seguir padrões destrói nossa individualidade, deixa os olhos errados pro que deve importar em nós e no outro, criando um abismo na percepção e uma imagem que não é possível sustentar – além do foco na aparência conter sua carga de maldição e perigo, algo destacado no artigo “Derretendo de tanta beleza“. A gente precisa parar de querer obter a mesma qualidade de grama do vizinho, ninguém sabe o quanto de suor foi derramado, se esteroides fortificaram seu crescimento, se houve o uso de recursos pra deixá-la mais colorida, nem mesmo se ela é orgânica ou sintética – o artigo “A cilada na grama do vizinho” alerta sobre isso.
Esse poema foi composto pra alguém próximo, que amo demais, mas com dificuldades de enxergar toda beleza em si, que se cobra muito; e mesmo exalando beleza não se percebe especial. Também foi escrito pra mim, que possuo problemas de autoimagem, e você. Às vezes tudo que precisamos é recordar o tanto de beleza a existir em nós por sermos do exato jeito que a gente é. Porque esses pensamentos intrusivos distorcem a visão que temos de nós mesmos atingem a todos, independentemente de condição, status ou crença, se baseando em insegurança, medo, rejeição ou vergonha, que devem ser superados constantemente, como recorda Lauren Daigle, na canção “You Say“, coescrita com Jason Ingram e Paul Mabury – regravada em pt-BR pela Gabriela Rocha sob o título “Diz“.
Não há o que nos falte ou sobre. Reflexos da perfeição [Gênesis 1.26-27], somos essências a habitar uma matéria decadente que um dia deixará de ser corruptível [1 Coríntios 15.52-54]. Até lá é preciso recordar, quantas vezes for preciso: somos mais que a soma de defeitos e falhas, a carregar luz maior que nosso corpo pode sustentar; não há o que nos falte pra beleza ser percebida em nós, afinal, somos completos – como recorda o poema “A cada passo, novas percepções” – e compostos de estrelas – o que não se trata apenas de uma frase de efeito brega, mas de algo literal destacado no artigo “Apagando reflexos com a sua luz“. Dessa forma, que a gente deixe de dar importância aos pensamentos e visões distorcidos, preenchendo a mente com o que frutifica esperança [Lamentações 3.21-24], substituindo o que nos coloca pra baixo pela busca que pode trazer completa paz [Jeremias 29.11-14], focando nas coisas de cima [Colossenses 3.2-5], que trazem pensamentos mais altos que a terra [Isaías 55.8-13].
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.