#episodioanterior
Uma ligação inesperada, após a meia-noite, faz Derry partir numa aventura alucinante, mas forças ocultas e terríficas, fizeram de tudo pra ele parar no meio do caminho e desistir de continuar.
Lutando contra o que ele nem sabia ser, Derry consegue chegar ao seu destino, ou não? Bem, ele achou um lugar, mas que não lembrava em nada a casa de Adie, mas o pior estava por vir e ele caiu num profundo sono, tão mortal quanto a névoa que lhe cegou as vistas.
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Durante a hora mais escura, a voz de Adie soou nítida, chamando Derry pra acordar, justo no exato momento que tudo se desfez em escuridão, emudecendo – mais um pouco e a consciência teria partido pra bem longe dele.
A voz ecoando pelo corpo, espalhou uma vibração que lhe aqueceu o coração, fazendo o vigor retornar, daí, mesmo meio zonzo, ele se pôs de pé e continuou a cortar os matos.
Bastou apenas alguns manejos pra que poucos depois se revelar a casa e com ela a porta principal – não fosse pela voz de Adie ele teria desistido a menos de um metro de encontrar a entrada.
Antes de prosseguir, Derry encostou na porta, respirando fundo, só aí percebeu estar cheio de lesões pelos braços, peitos e pernas desnudos, na pressa, o sangue quente não deu pra sentir os cortes causados pelo mato, fino e afiado.
Ao puxar o talo de um deles, deu pra ver um pequeno pó branco liberado pelas folhas pra selar os cortes, ajudando na rápida cicatrização, mas que também eram responsáveis por causar sono e até mesmo confundir os sentidos.
— Por isso aquele sono de morte tentou me derrubar.
Um pouco mais dono de si, ele bateu na porta, com toques suaves, àquela altura da noite exigia menos barulho pra chamar atenção, daí ficou a espera por um longo tempo e nada.
“Sentidos são portas que servem pra nos fazer acreditar na ilusão que chamamos de vida.”
— Ué, eles não tava me esperando!? – Ele entendeu foi nada.
Como o silêncio parecia ser a única resposta, Derry resolveu aumentar a intensidade e velocidade das batidas, mas tudo continuou na mesma, então foi batendo mais forte, até chegar no ponto de esmurrar e chutar a porta. Nem mesmo assim houve algum movimento ou alguém pareceu se incomodar de ver o que estava acontecendo – “pra ajudar” a porta era bem resistente.
Derry ficou sem saber o que fazer pra chamar atenção, ele se sentiu numa outra realidade, alguma alternativa que só podia estar errada total – contrária a tudo que ele conhecia – como se tivesse atravessado pro outro lado do espelho, mas um lado ruim, cheio de impressões de mau agouro e sensações horripilantes que espreitavam de todos os lados.
Instintivamente a mão tocou a maçaneta, a textura áspera e gelada liberou um frio que se espalhou pelo corpo, eriçando os pelos, ao girá-la, a porta destravou, mesmo pesada ela cedeu facilmente ao empurrão – só que não gostou disso e soltou um rangido alto que ecoou pelo escuro e vazio interno.
Receoso, Derry apenas acompanhou com os olhos, enquanto a porta se abria por completo, quebrando o silêncio que tinha se estabelecido ali, então ele sondou o escuro atrás de algo que, certamente, estava escondido nas sombras aguardando apenas um passo dele pra atacá-lo.
Derry ergueu o pé pra entrar, mas o corpo recusou seguir, ele tentou novamente, mas não conseguiu se mexer. Algo muito ruim, captado pelos sentidos puseram os pelos ainda mais em pé, levando sinal pros músculos enrijecer, o impedindo de cometer tamanho erro.
Decidido a continuar, ele enfrentou uma verdadeira guerra contra si mesmo, onde o desejo de entrar e os sentidos, que mantinham o corpo estático, duelavam pra Derry não conseguir fazer o que queria.
Se teve uma coisa que Derry aprendeu naquela noite é que não dava pra confiar nos sentidos, apenas na intuição – afinal, sentidos são portas que servem pra nos fazer acreditar na ilusão que chamamos de vida – então, num ímpeto projetou o tórax pra frente, desequilibrando o corpo, com isso os músculos relaxaram e ele entrou de uma vez, ao fazer isso a porta fechou-se atrás de si com tudo, o estrondo causado o fez olhar pra trás, assustado.
— Que bom que você veio, Derry! – A voz de Deepak vinda no sentido contrário o obrigou a virar o corpo pra frente e ele viu que estava tudo normal. – Só não precisava bater a porta. – Ele tentou rir, mas havia tristeza demais no rosto.
— Que foi que houve, seu Deepak? – Ignorando o estranho fato de que tudo ficou como antes num pescar de olhos, ele foi direto ao assunto que o levou a enfrentar toda aquela loucura.
Deepak disse que pouco depois dos policiais partirem, Adie entrou, deu boa noite e subiu pro quarto. A atitude pareceu estranha, apesar de sorrir algo pareceu errado, como se estivesse escondesse algo, então Sonie foi ver o que tinha acontecido com a filha.
— Amor, tem algo errado com nossa filha. – Ela gritou desesperada pouco após subir.
Num átimo Deepak chegou na porta do quarto, se quer deu conta do tempo levado pra subir as escadas, só pra ver a esposa desesperada, ajoelhada ao lado da cama da filha, já aos prantos.
— Que aconteceu? – Diante da cena, não teve como não esperar pelo pior.
— Nossa filha… – A pausa só fez o coração de Deepk ficar mais apertado. – …ela não tá… acordando! – Sonie caiu num pranto ainda mais desesperador.
Imediatamente Deepak se postou ao lado da esposa e pôs a mão na testa da filha, depois no pescoço, na frente do nariz, por fim tomou o pulso dela, após confirmar que Adie estava respirando, com a temperatura e pulsação normal, foi que chamou, mas não houve resposta alguma.
Ele então cutucou a filha e nada dela mexer, desesperado começou a balançá-la, mas os movimentos saídos dela foram apenas espasmos devidos a violência com que ele a agitou.
— Chega, amor! Isso não vai adiantar. – Sonie conseguiu conter o choro e segurou com firmeza o braço do marido, que se deteve.
— Tem algo que você possa fazer? – Sonie assumiu tamanho controle que fez o marido se admirar.
“Engraçado como simples escolhas acabam dando chance ao destino nos aproximar de pessoas especiais.”
— Os sinais vitais dela estão funcionando corretamente.
— Então que foi que houve? – O olhar dela voltou a assumir um ar de preocupação.
— Não sou o melhor pra esse tipo de diagnóstico, mas conheço um especialista em distúrbios do sono.
Como Deepk trabalhava num dos maiores hospitais do estado possuía vários contatos. O fato de ser um médico de prestígio resultou em rápido atendimento, além da atenção dos melhores profissionais da área, ainda assim, os esforços resultaram num prognóstico desconhecido, no qual ninguém pode prever no que aquilo podia resultar ou como resolver o quadro em que Adie se encontrava.
— Peraí, quer dizer que a Adie tá dormindo todos esses mês?
— Isso mesmo! – Deepak concordou com um pesar.
— Tem algo errado! Uns mês atrás a gente se falou por mensagem.
— Impossível, Derry! – Ele discordou com a cabeça.
— Mas… – Derry ficou boquiaberto ao constatar que não tinha mensagem de Adie, se quer havia conversa. Ele lembrou que depois de Adie lhe dar um fora, excluiu o número dela pra evitar recaída.
— No celular dela não tinha massagem alguma, até seu número ela excluiu, o que tornou difícil localizar você. Por isso quando consegui falar contigo, pedi pra vir com urgência, a gente tá todos esses meses nesse sufoco, sem saber como acordar nossa Adie.
“Será que só imaginei ou sonhei com isso!?” – Pelo visto não era de hoje que os sentidos lhe traíam.
Os meses passaram e nada de aparecer solução, todos os vizinhos ficaram preocupados e fizeram de tudo pra ajudar, mas nada tinha sucesso, até um dos mais antigos dali dizer apesar de Adie se manter saudável, sem acordar parecia com a maldição do sono.
— Maldição do sono, como assim!?
— A mesma que fez a Bela Adormecida dormir por anos até ser beijada por um príncipe encantado.
— Só que isso não é só historinha pra criança?
— Pode até ser, mas do jeito que a Adie ficou encantada quando te conheceu e ela ter ficado assim depois do último encontro de vocês, a gente achou que valia, pelo menos, tentar.
Desesperados e sem ter o que fazer, eles saíram a caça de Derry, o que foi bem trabalhoso, eles não tinham o sobrenome dele, não sabiam onde o garoto morava ou trabalhava e pelo que deu pra perceber ele também não tinha rede social.
— E como cês me achou?
— Depois de procurar por tudo que é lugar, sem achar nada, a gente resolveu olhar o celular da Adie, só que ninguém sabia a senha daquilo, então usamos a digital dela pra desbloquear.
Nisso eles olharam toda agenda, mas não acharam o número dele, então olharam tudo e nada de achar – nos apps de mensagem não havia nenhum resquício de conversa entre ela e Derry.
Quando todas as possibilidades foram eliminadas, encontraram uns números sem qualquer identificação numa nota arquivada, daí resolveram enviar mensagem do iPhone dela pra ver se o achavam.
— Todos responderam negativamente, apenas um não disse nada, então quando a gente achou que não ia mais te encontrar, você respondeu. Entendeu agora a urgência pra você vir aqui?
— Total! – Foi tudo que ele conseguiu responder, mas entendeu como os pais de Adie deviam estar. – Ah! Desculpa eu aparecer desse jeito.
— Tudo bem! A culpa foi minha por te alarmar, pelo jeito você já estava na cama.
— Pique isso! – Ele sorriu amarelo. – Daí vim correndo.
— Vamos lá?
— Sim! – Derry assentiu com a cabeça.
Cada passo, degrau acima, pareceu mais difícil galgar, era como se algo o puxasse pra baixo, mas ele percebeu que a força exercida pela atmosfera sobre si só aumentou conforme se aproximou do quarto de Adie – grande era o peso da responsabilidade.
Da porta deu pra perceber Sonie sentada ao lado da cama da filha, ao vê-lo ela sorriu, sem se importar dele estar apenas de samba canção, mas ele se sentiu mal e pela primeira vez ficou envergonhado, mas Deepak o tocou e insistiu que entrasse.
Quando se aproximou da cama, ele pode ver Adie, ela usava a mesma roupa do último encontro, só que estava ainda mais linda do que a memória recordava, mesmo no estado de sono profundo ela tinha um lindo sorriso estampado por todo rosto, ao vê-la naquele estado e sabendo agora o que realmente estava acontecendo, Derry temeu.
Mas ele não conseguiu deixar de suspirar, Adie realmente era a garota mais incrível, linda e meiga que já tinha conhecido, sua pele branca parecia brilhar ao contato da luz – o que o fez lembrar do nevoeiro lá fora, nisso um arrepio lhe percorreu a espinha.
— E se isso não der certo? – Ele recuou.
— Não se preocupe! A gente não vai te culpar, Derry, só precisamos que tente. – Sonie sorriu, ficando ainda mais bela, era dela que Adie tinha puxado aquele sorriso lindo.
Ele se aproximou da cama, todo cuidadoso, com receio de Adie se desfazer, caso fizesse algum movimento brusco – diante de tudo que passou, podia bem que ela não passasse de uma elaborada miragem – então se ajoelhou ao lado dela.
Engraçado como simples escolhas acabam dando chance ao destino nos aproximar de pessoas especiais – esse foi exatamente a forma que eles se conheceram e agora lá estava ele, prestes a fazer a coisa mais difícil de sua vida, não pelo fato do beijo, mas do que podia resultar do ato.
Ainda receoso, ficou imaginando se aquilo realmente ia funcionar, até onde lembrava o beijo pra despertar a princesa, do conto infantil, tinha como condição ser de amor verdadeiro – ele sabia que a desejava intensamente, mas será que gostava de Adie a ponto de salvá-la com um simples selinho?
E se fazer isso não adiantasse e servisse apenas pra deixar os pais dela ainda mais sem esperanças, eles tinham tentando de tudo e mesmo com ajuda de medicina, tecnologia e métodos alternativos tinham resolvido, como ele podia despertá-la?
Com o corpo cada vez mais inclinado, as dúvidas só faziam aumentar, então os lábios dele tocou os de Adie. Como faísca, um arrepio surgiu, se estendendo pelo corpo, Derry ficou em completo silêncio, segurando a respiração, sentindo a hora mais escura da madrugada lhe envolver em mais incertezas.
Ele ergueu a cabeça e esperou, torcendo pra que aquilo tivesse funcionado e como no conto de fadas, sua princesa acordasse daquela maldição – era um verdadeiro crime alguém tão linda estar num estado daqueles. Maldito era quem tinha feito aquilo com Adie.
#proximoepisódio
Apesar dos pais de Adie não demonstrarem, estavam tão ou mais nervosos que Derry e o nível de tensão aumentou assim que ele abriu os olhos e conseguiu ver o que foi que aconteceu.
Mas se as coisas estranhas daquela noite pareciam ter chegado ao fim, Derry percebe que tudo estava apenas começando – ou não, já que ele vai descobrir que tudo que passou pode ter sido apenas miragem, uma ilusão. Será aquela noite não passou de um terrível – e bem desagradável – sonho?
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.