Você me toma cada pensamento,
Se dilui em palavras pelos lábios.
Sabes a direção de meus olhos,
Também as páginas da agenda.
Te manifestas até no que escrevo,
Onde se define em verso e prosa.
Na música a envolver os sentidos,
No mergulho de um livro a outro,
No caminhar que segue os dias;
Te apresentas até no ar inalado,
Onde é possível te ouvir ofegar.
Te apoderas dos sentimentos,
Fluindo em meu ser por inteiro;
Até teu nome se tatuar no peito,
Que você escolheu por moradia,
Pulsando intensidade, você está.
Do tempo estás nos segundos,
A escorrer pelos minutos, teus
Passos vertem areia nas horas;
Controlando ritmo e estações.
De mim furtastes os instantes,
Momentos antes que eram meus,
Agora vão a te pertencer os dias,
Onde sinalizas alva e crepúsculo.
És quem dá forma a meu sonhar,
Quando fecho os olhos te tenho
Então passamos a nos pertencer,
Mas ao abri-los tudo se faz ilusão,
Fantasia de um bobo apaixonado,
Porque rindo aqui você não está.
Difícil é ficar sem a tua lembrança,
Também não o quero aprender.
Em tua ausência, necessito de ti,
Dor causada pelo distanciamento
Furta o brilho em teu rosto a sorrir.
Ainda quando surges mais perto
Te mostras tão distante de mim.
A física te pode até distanciar,
Mas minha pele te traz marcada,
Assim, permaneces comigo aqui.
#papolivre
Amar é uma das coisas que dá sentido a vida. Ao nos apaixonar, uma série de hormônios passa a inundar o corpo, sensações de bem-estar e felicidade explodem, fazendo o coração pulsar até 220 batimentos por minuto – ritmo que se medido poderia implicar em multa por excesso de velocidade. E pra alcançar essas altas taxas – que podem até mesmo fazer o órgão saltar no peito – uma olhada pro crush é suficiente. Ainda assim, esse aumento na frequência cardíaca melhora a saúde do coração – razão pela qual exercícios aeróbicos, que possuem o mesmo efeito, são indicados pra manter a vitalidade física e mental.
Tomados pela paixão, tudo em volta muda, os olhos passam a enxergar um espectro maior de cor, os ouvidos se deliciam a cada nota desprendida de canções – compostas pela inspiração humana ou pela poesia dos pássaros próximos à janela. Nosso senso crítico e de praticidade é sobreposto pela contemplação que leva a interpretações mais filosóficas da vida – conhecido como efeito “bobo apaixonado”, como acontece quando a Chiquinha pergunta sobre a razão dos pássaros voarem – assim a gente segue imaginando um mundo de possibilidades e realizações.
O problema surge quando se descobre que o crush não está na mesma vibe da gente: tudo não passa de amor platônico – o que faz as possibilidades reduzirem a ilusões. Mesmo assim é difícil desprender do ser amado que passou a habitar em nós, já dizia Camões: “amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer”. E ainda que doa, esse fogo que consome é vício a entorpecer os sentidos, que mesmo tendo curta duração é responsável por implantar o amor, trazendo paz enquanto a gente se desfaz em sentimentos e sensações que tentam despertar o melhor em nós – o artigo “Não faça como Romeu e Julieta“, explica melhor as implicações desse prazeroso sofrer.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.