Caminho sem destino, da vida o cansar,
Em cor acinzentada, o dia absorve mato;
Da imponência das árvores vem sombras
Que assombram com o questionamento:
Se a vida, na tristeza do alvor, acrescenta
Ou harmoniza, à estrutura seu sombrear.
O Sol não surge, perdido no jazigo está.
Se pelas asas da alvorada eu escalar
Até o céu dos céus, o conseguiria alçar?
Se o tocasse lhe tiraria de sua decisão?
Que força exerço sobre quem me atrai?
Antes o vejo mudar tempos e estações.
Continuo a andar, se descortina o vento,
Ao tocar a pele cada passo ele os resfria.
Estaria o melhor além das águas do mar?
Se pelas fontes das águas eu atravessar,
Cruzando as torrentes de rios e afluentes,
Poderia encontrar a Prima antes da Vera?
Meus passos no tempo deixam marcas,
Instantes de vida, pedaços a cada partir;
Pétala a se desfazer em cada amanhecer.
Descortinando o horizonte que se vê,
Me atravessa a friagem a pairar no ar.
A cor de minha pele, anseia pelo Sol.
Embora friagem e sombras persistam,
Aqui dentro se faz claridão ao brilhar
Da luz da aurora, a emergir em fulgor.
Aquece dando forças aos passos meus,
Um após outro, manhã após manhã,
Na constância da estrada, no caminhar.
Mesmo pequena, a luz brilha mais e mais,
Se faz alvorecer pelo horizonte interno
Até tudo em dia se tornar em perfeição.
Descubro não importar o cinza externo,
O Sol em mim brilha dando cor e sabor
A cada tom de cinza que tentar enebriar.
O soprar do vento já não mais congela,
Seu toque ameniza a pele esquentada;
Retendo o calor, meu coração carrega
Sol a se erguer em esplendor no poente,
Em dança que vai do oriente ao ocidente
E que vai se dissolver ao domínio do dia.
#papolivre
Às vezes a gente gasta tempo em busca de resoluções e respostas distantes de nós. E se desse pra alcançá-las, seria possível reter o resultado por tempo suficiente pra preencher todas as indagações e o vazio das incógnitas em nós?
Independentemente de como estejam as coisas lá fora, mais importante é a bonança a fluir como um rio de vida em nós [João 4.14]. Possuir um brilho que persiste mesmo na hora mais escura da noite, aquela pequenina luz que se derrama em horizonte de resplandecer – como aconteceu com o personagem de “Retravo – Quando o escuro deu à luz“, após ficar preso no desabamento de um Shopping.
Pode até não ser possível tocar o Sol – o que é algo bom, já que sua atmosfera gira em torno de 3,5 milhões de °C, algo que não apenas derreteria asas, mas a gente por completo. Porém, compostos de estrelas – como destaca o artigo “Apagando reflexos com a sua luz” – não é necessário ir além da candeia a brilhar em nós. Muitas vezes esse calor continua a aquecer mesmo nos dias nublados ou de inverno, se a gente for toda luz a existir em nosso interior, a deixando expandir, será possível resplandecer até na madrugada – conforme experimenta Luan em “Interrompido – A cuva no vale da sombra da morte“.
Saber que não precisamos de algo externo pras coisas ficarem bem é a melhor forma de vencer as adversidades e nos manter livres da manipulação de quem quer nos manter cativos de suas palavras e intenções – como alerta o poema “Das profundezas do abismo“. Mesmo quando tudo parece ruir, como aconteceu com minha família e eu – experiência essa registrada na crônica “Enfrentando o processo com o mar nos olhos“. Assim, não precisamos de nada além da claridão que já há em nós, basta nos colocar de pé pra ela ser vista por todos [Isaías 60.1], porque luz não deve ficar oculta, mas revelar a bondade em nossas ações [Mateus 5.14-16].
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.