De repente, o que mais quero é calor
Um frio me tomou na manhã cinzenta
O corpo meu sempre aquecido, esfriou,
Procuro no armário o que possa esquentar,
Algo que caiba, na medida da temperatura
Fazendo ela subir até ficar confortável.
De repente, o que mais quero é uma blusa
Um vestuário que acolha e faça aquecer,
Cobrindo braços e peito, pescoço também,
Talvez um que tenha toca pra orelhas cobrir,
Enquanto seleciono, com as pontas dos dedos
O gelo só aumenta e faz se espalhar no corpo.
De repente, o que mais quero são luvas,
As mãos esfriaram tanto que as deixo
Distantes do meu corpo pra não me congelar,
Perdidas, tateiam texturas desconhecidas
Sem as poder aquecer, tento vesti-las,
Enquanto deslizam por macios fios negros.
De repente, o que mais quero é uma touca
Que me traga pensamentos mais quentes
Arrancando-me da friagem das tristezas
Que tudo congelam de dentro pra fora
Fazendo-me soprar palavras glaciais,
Névoas que preenchem a minha mente.
De repente, o que mais quero é o brilho do sol
Os olhos se voltam pra janela buscando sua luz,
Um brilho perdido, oculta-se por trás das nuvens
Inquieto, sopra o vento pelas frestas da janela
Fazendo mãos congelar, o coração doer no peito
E a mente não desejar outra coisa além de fogo.
De repente, o que mais quero é me aquecer
Nessa manhã fria o que me falta é aquentar
Talvez um banho quente eleve a temperatura,
Corro pro banheiro e abro o registro, deixando
O corpo pela água aquecida ser envolvido,
Mas quando a desligo, ela me furtou o calor.
De repente, o que quero é chama
Bruxuleante luz, dança de forma sensual
Enquanto dispersa calor em torno de si,
Perigosa luz que fascina, quando ilumina,
Que consome quem demais se aproxima
Insaciável, desejas tudo em calor converter.
De repente, quero o que me possa esquentar
Percebo não ser de roupas, acessórios, banho,
Edredom ou cobertor mais espesso e macio,
Eles não podem aquecer, apenas calor reter,
Corpo é que produz quentura e espalha ardor,
Mas, como antes, já não funciona, só o perde.
De repente, o que mais quero é você
Com seu corpo ardente a produzir calor
Juntos, nossos corpos disparam faíscas,
Teu hálito na pele é que consegue arrepiar,
Tua mão é braseiro que ao toque incendeia
Tornando o tempo frio em dia ensolarado.
De repente, o que preciso é de teus braços
Envolvendo os ombros, desce até a cintura
Neles há conforto, quando descansa a alma,
Teus braços têm luz e calor que alentam,
Refúgio onde desejo me esconder do frio,
Força que estimula produção de mais calor.
De repente, sei bem o que realmente preciso
Acordar colado em teu corpo, faz incendiar,
Beber de tuas palavras arfantes nas manhãs,
O chocolate aquece mais ao segurar tua mão,
A temperatura aumenta a ponto de escorrer,
Brotando na pele em imensas gotas de suor.
De repente, o que preciso é de mais nada
Roupas se fazem sem necessidade alguma
Não é preciso mais nada pra isolar calor
Nem lago que o sintetize por instantes,
Você é chama que só me faz incendiar,
Calor que aumenta sem querer parar.
De repente, o que me tornei, foi luz
Explodo numa combustão de calor
Aquecendo, ilumino toda escuridão
Pelas sensações, transcendi matéria,
Cheguei alto a ponto de o sol tocar,
Fulgor me tornei, em calor me refiz.
#papolivre
A gente deseja tanta coisa que acaba se perdendo no que realmente quer – até porque opções é o que mais têm – daí fica difícil saber se o que falta é algo palpável ou o que só é possível sentir.
Nisso buscamos o que possa suprir essa falta naquilo que se apresenta até descobrimos o era, facilitando o caminho da felicidade. Pode ser que aquela ausência – ou frio – seja de alguém pra aquecer o corpo, pele e sentidos até tudo se desfazer em calor e suor. Por falar nisso, a trilha sonora desse poema foi pensada pra fazer a temperatura subir até pegar fogo – existe forma melhor de espantar o frio?
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.