“Deixe-se conhecer não pelas palavras proferidas pela boca, mas pelas ações de suas mãos.”
Mishael Mendes [2 Timóteo 4.7]
O encanto da exposição
“Você deve escolher as palavras que desencadeiam os significados que quer estabelecer”, é o que alerta de Al Ries e Jack Trout, em “Posicionamento: A batalha por sua mente” (“Positioning: The Battle for Your Mind“, de 1981). De modo inconsciente é o que temos feito na web, afinal, cada palavra importa, define e dá forma ao que enxergamos de nós mesmos.
E quem não gosta de compartilhar sobre si e seus feitos? Falar de nossos gostos e preferências, justifica nossa existência e enumera nosso valor humano; ainda mais diante de uma audiência interessada que faz a autoestima se elevar.
Se vira nos trinta
Na década de 1960, enquanto revolucionava a arte, Andy Warhol comentou a vulgaridade da fama, ao dizer que “no futuro, todos terão seus 15 minutos de fama”. Algo que se refletiu na duração máxima dos vídeos enviado quando o YouTube surgiu, em 2005. Baseada nas celebridades instantâneas que começaram a surgir com os talent shows, em 1934 – como a versão tupiniquim Show de calouros, de 1977 – a previsão de Warhol ganhou forma com os reality shows, em 1964, ampliada pelo surgimento das redes sociais, em 1994, que transformou indivíduos comuns em influencers.
Contudo, essa conexão constante que facilitou localizar alguém a qualquer momento, além da criação de registros públicos a um clique, nos forçou a formas mais criativas e interessantes de nos expor – ainda mais com a diversidade de perfis chamativos.
Quem não se destaca, não leva
Tantas vozes querendo ser ouvidas nos leva a dar mais atenção a autopromoção, só assim é possível manter a relevância da identidade online – obrigando a gente a se vender o tempo todo. Dessa forma, as redes sociais provocam o narcisismo na geral e nos pegamos encantados a admirar uma vitrine virtual, porque “todos buscam a comunicação, querem essa importância”, como afirmou Leandro Karnal, em entrevista à revista Trip.
Uma forma de se sobressair é fazendo marketing pessoal, que utiliza estratégias do marketing pra promover e fortalecer a marca pessoal, atraindo mais atenção e influenciando outras pessoas a enxergá-la como referência.
Apesar de aplicado desde a década de 1950, o marketing pessoal (self marketing) costuma ser associado ao conceito de marca pessoal que surgiu no artigo “The Brand Called You…” publicado na Fast Company, em 1997, por Tom Peters. O conceito foi um divisor e gerou o livro, de 2001, “The Brand You 50 – Reinventing Work” (em livre pt-BR: “Você como marca – Reinventando o trabalho”). Mas as atenções começaram a se voltar pra marca pessoal quando a série de artigos sobre posicionamento, escritas por Al Ries e Jack Trout, foram publicadas na Age magazine, em 1972.
Falador passa mal
Estamos sedentos pelo engajamento das curtidas, reações e comentários, também pelo número de seguidores, visualização e tempo de retenção. Em entrevista ao Olhar Digital, o especialista em comportamento digital, Thiago Valadares, destaca que “a produção de conteúdo tem que valer mais que a curtida e as pessoas precisam pensar em como esse conteúdo está afetando a vida dos outros e construindo sua imagem virtual. A persona digital hoje conta muito pras pessoas, e elas caíram num looping de necessitar das curtidas”.
Nossa ânsia por audiência faz a gente querer opinar sobre tudo, até porque o acesso fácil ao conhecimento nos habilita a falar sobre qualquer tema, assim a gente se transforma em especialistas de coisa nenhuma. Falamos de tudo sem nos aprofundar em assunto algum e dizemos o que nos vem a mente sem qualquer freio na língua como numa conversa cara a cara. Esquecendo que é preciso cuidado com o que se diz, afinal, quem fala demais se complica e pode cometer mais erros [Provérbios 10.19] – nem mesmo a fama pode salvar de um processo.
Olha a postagem fresquinha
As plataformas digitais amplificam nosso poder de comunicação e quando algo é disponibilizado na internet é difícil eliminar; mesmo soterrado sob inúmeras postagens, algo mal colocado ou preconceituoso pode ser recuperado e nos causar problemas ainda mais porque mesmo apagado é possível acessá-lo. Atualmente, 70% dos empregadores conferem as redes sociais de candidatos antes de contratá-los e seu mal uso tem resultado em demissões.
A identidade virtual está tão atrelada a vida social, profissional e ao cotidiano que é difícil separar nossa pessoa pública da privada. Integração essa que vai continuar até estarmos mergulhados num mundo digital através de nosso corpo analógico – o metaverso já está virando a esquina. Assim, o que era pra ser reflexo do off-line passou a afetar o mundo físico ao ponto de quem está de fora pode levantar suspeitas, como avaliou a revista britânica Daily Mail, e até revelar sinal de psicopatia.
Melancia no pescoço
Antes de descer até o chão e ser pioneira do funk, a fruta já chamava atenção pela suculência – composta por 95% de água, ela dá bom no verão – e seu tamanho que não a deixa passar despercebida. Razão que a tornou referência no aconselhamento pra quem quer se destacar: “pendura uma melancia no pescoço”.
Quem fala muito de si, só quer chamar a atenção [João 7.18], mas Kate Hudson lembra que “nada é mais atraente do que a confiança silenciosa”. Características como arrogância, ostentação, ficar se gabando, necessidade de compartilhar tudo e obter curtidas, são reflexo da insegurança. As pessoas que mais chamam atenção, são as mais inseguras, assim exageram o que lhes falta. Autoconfiança é silenciosa e não necessita de likes pra saber que está acertando.
Diga-me o que postas
Engraçado que muito do que comentamos do outro, diz mais sobre quem somos que a gente gostaria de admitir, como disse Julio Cortázar: “ao citar outros, citamos a nós mesmos”; mas quando falamos de nós mesmos isso pode não se traduzir em realidade. A ótica que utiliza intenções descritivas pra desenhar quem somos pode não ser a mais exata.
Nossas palavras usam a medida da percepção, logo podem acabar se mostrando incoerentes. Além de nos tornar insensatos [Provérbios 28.26], fazem a gente parecer arrogante ou presunçoso. Nisso insultamos a inteligência alheia ao tentar impor uma imagem distorcida, antes do outro constatar a realidade. Mas, existe algo que chama mais atenção que a autopromoção, o escritor Ralph Waldo Emerson disse certa vez: “o que você faz, fala tão alto que não consigo ouvir o que você diz”.
Nem só de palavras se comunica o homem
A liberdade de expressão garante o direito de falar de qualquer coisa, inclusive sobre o quão bom a gente é, mas não precisamos disso pra provar nada. Até porque a forma que a gente se enxerga pode não ter muita coerência, já que a autopercepção tem mais a ver com o que imaginamos de nós mesmos que como somos realmente vistos.
O melhor é deixar que nossas ações nos descrevam. Esse é o jeito correto de mostrar quem a gente é. Deixar os atos falarem por nós resulta numa comunicação clara e eficaz; eles possuem maior coerência entre quem somos e aquilo que tentamos dizer.
Al Ries e Jack Trout alertam que “o significado não está nas palavras; está nas pessoas que as usam”, então por mais tentador que possa parecer falar de nós mesmos, é melhor deixar que nosso caráter e realizações – que são eternas – façam isso. Que os outros nos elogiem, até mesmo um desconhecido, nunca nossa própria boca [Provérbios 27.2].
Artigo publicado originalmente no LinkedIn, também está disponível no Medium.
Fortalece a firma
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Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.