Nem sempre as trevas surgem no escuro
Nem sempre a tristeza se dá pela perda
Nem sempre a dor é pelo que machuca
Nem sempre o certo é o que se pratica
Nem sempre conhecimento é sabedoria
Nem sempre liberdade é fazer de tudo
Nem sempre solidão significa abandono
Nem sempre presença revela amizade
Nem sempre palavras trazem libertação
Nem sempre beleza é o que conquista
Nem sempre estar junto é se importar
Nem sempre exagero significa excesso
Nem sempre atenção é dar importância
Nem sempre o sorriso reflete felicidade
Nem sempre olhares indicam interesse
Nem sempre o falar precisa acontecer
Nem sempre silêncio é anuência
Nem sempre desprezo é ignorância
Nem sempre ações têm coerência
Nem sempre dor resulta em sofrência
Nem sempre a chuva desaba lá fora
Nem sempre o salto é o que liberta
Nem sempre existir também é viver
Nem sempre o falar possui sentido
Nem sempre se tem o que se quer
Nem sempre o sonho deve ser vivido
Nem sempre a vontade deve acontecer
Nem sempre escuridão significa terror
Nem sempre o observado é a realidade
Nem sempre a falta exprime carência
Nem sempre o vazio significa ausência
Nem sempre poder consiste em riqueza
Nem sempre perda exprime prejuízo
Nem sempre reter significa ter posse
Nem sempre a sorte é aleatoriedade
Nem sempre o pranto advém do pesar
Nem sempre o sentido possui lógica
Nem sempre está certa é a razão
Nem sempre questionar é duvidar
Nem sempre saber traz boa escolha
Nem sempre o sono nos revigora
Nem sempre fazer é produzir algo
Nem sempre o perfeito é o melhor
Nem sempre o querer é realizar
Nem sempre inspiração traz beleza
Nem sempre o frio é falta de calor
Nem sempre valor traduz raridade
Nem sempre a aparência engana
Nem sempre caminhar significa avançar
Nem sempre intenções são o bastante
Nem sempre a morte consiste no fim
Nem sempre o ponto é o de final
Nem sempre perspectiva é uma fração
Nem sempre calmaria é algo maçante
Nem sempre a inércia é falta de ação
Nem sempre a noite é só escuridão
Nem sempre o sentido se encontra
Nem sempre a certeza se afirma
Nem sempre a demora é atraso
Nem sempre inocência é estupidez
Nem sempre penar resulta em dor
Nem sempre a verdade é agradável
Nem sempre partes se completam
Nem sempre se obtém recompensa
Nem sempre visão é concretude
Nem sempre loucura é insensatez
Nem sempre o voo leva pra cima
Nem sempre a certeza é relativa
#papolivre
Num mundo polarizado entre ou isto, ou aquilo, as chances de se frustrar quando se obtém parte do resultado – isso se chegar a essa porcentagem, às vezes o valor pode ser próxima de zero – são grandes. O problema do dualismo, da cultura helenística, é nos condicionar a esperar os extremos, como se não houvesse toda uma complexidade entre os polos. A escuridão, por exemplo, não é apenas ausência de luz, mas composta por todos os espectros de cor, e a dinâmica entre o claro e o escuro possibilita mais de 16 milhões de cores no sistema RGB – mais que nossos olhos podem perceber.
É preciso aceitar, como disse William Shakespeare, que “há mais coisas entre o céu e à terra, do que sonha a nossa vã filosofia”, nosso conhecimento é ínfimo diante da imensidão da vida e suas possibilidades. Não existe um padrão universal certificando como tudo deve ser simétrico em quantidade, conteúdo, ramificações e efeitos, saber lidar com isso é o que nos torna maleáveis, possibilitando felicidade e aprendizado ao invés de frustração e dor.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.