Não há nada de singeleza maior que o nada,
Por carregar em si explicação daquilo que é:
Um vazio, sem sombra do que quer que seja,
Do qual nada mais pode ser dito, além disso.
Assim segue, com existir de insignificância.
Já que nada é totalmente coisa nenhuma!
Que outros aspectos mais poderia possuir?
Somente um amontoado de coisa alguma.
Se limitando à nada a sua insignificância,
Seu valor será de nada elevado ao infinito.
Insistente, questiono ainda: o que nada é?
A resposta vem do produto da aritmética,
Se excluindo adição de sua raiz aterrada,
Acaba por resultar na percepção de nada.
A solução pra resolver intrincado dilema,
Impossibilita fazer o que quer que deseje,
Não deixando restar nada a ser realizado,
Pois uma vez tendo surgido e nada sendo,
Se anulam quaisquer chances de mudança.
Num embate entre sentido e a consciência,
Eis, do nada, a mais coerente das definições:
Nada é tudo aquilo sem qualquer significado,
A interferir em nada daquilo que realmente é;
Assim, nada permanece em sua [in]existência.
#papolivre
Você até pode dar nada pra [in]existência do nada, mas esse é um assunto de gente grande. Por preceder o universo, refletir sobre o tema levou Parménides a concluir que “nada surge do nada” (ex nihilo nihil fit), pra expressar que a existência do ser – por consequência da matéria – não surge a partir do nada. No desenrolar das épocas, o pensamento sobre nada se desenvolveu até resultar na “Lei da Conservação das Massas“, segundo a qual a matéria não pode ser criada nem eliminada, apenas transformada. Esse conceito surgiu no ensaio de Mikhail Lomonosov, em 1760 – embora quem ficou famosinho por sua formulação foi Lavoisier, que a espanou geral.
O problema em alegar que nada surge a partir do nada, é que a afirmação entra em parafuso consigo mesma, ao colocar a existência do universo entre hipóteses contrárias: ou ele sempre existiu, ou teve um começo. Como essa sempre existência não é possível, logo, a materialização de tudo surgiu do nada. O ponto deixado de lado em toda essa discussão nem é a matéria não poder surgir do nada, mas que uma vez que do nada passou a existir não há como destruí-la, ela apenas assume diferentes formas.
Pra decepção de Immanuel Kant que, em “Crítica da Razão Pura” (“Kritik der reinen Vernunft“, de 1781), argumentou não ser possível determinar se o mundo tem ou não um começo no tempo, a “Teoria do Big Bang“, apontou em 1920 que o universo iniciou – segundo estimativas do evento até agora a medida que inclui o espaço, toda matéria e energia, além o tempo, possui por volta de 13,8 bilhões de anos. Toda a criação teve sua existência originada [Gênesis 1.1] a partir de uma declaração [Hebreus 11.3] de pura energia que ecoou, gerando imensas explosões de luz que se moldaram em matéria através do compasso do tempo – algo revelado pelo sonho de Josh em “O Segredo das Eras – Despertar“.
Desde então, a energia que se condensou em matéria não pode ser destruída, apenas transformada, como afirma a segunda lei da termodinâmica; nem mesmo destituída da essência que lhe dá sentido, como o niilismo tenta fazer ao reduzir a nada o significado da existência – algo destacado no artigo “A falta de sentido e humor da vida“. Pra evitar cair nessas reflexões que a nada levam, o melhor é mudar os pensamentos, deixando a mente ser habitada pelo que traz esperança [Lamentações 3.21-24] pro nosso entendimento se renovar, e sermos agentes de transformação [Romanos 12.2], algo necessário num mundo que beira o abismo da ruína – importância essa destacada no artigo “As cores quentes e frias da vida“.
Esse poema surgiu quando recebi a incumbência de escrever uma redação, no curso de auxiliar administrativo. Como eu não estava disposto a pensar, pior ainda dissertar, ainda mais após me embrenhar por uma enxurrada de contas – tinha vez que os cálculos duravam o dia todo – assim, em tom de diversão passei a nada definir, dando sentido ao que costuma receber valor algum, afinal, se existe o algo, por que não há o nada – algo que Heidegger e Leibniz já haviam filosofado sobre?
Na escrita acabei por personificar o nada, algo que a Bíblia faz em diversas passagens [Juízes 9.8-15, 2 Reis 14.9], mas nesse caso fui influenciado pelo “Auto da Lusitânia” (Ou “Farsa da Antiga Terra de Santa Cruz”, de 1562) onde Gil Vicente faz o mesmo com “Todo-o-Mundo” e “Ninguém” pra criticar que geral quer o melhor, mas não merece, assim, “Todo-o-Mundo é mentiroso, e Ninguém diz a verdade”. Ainda bem que o que contou na atividade foi a grafologia, ou seja, a posição da assinatura, alinhamento ascendente ou descendente do texto, se a escrita ocupava toda folha, se terminava e começava nas mesmas posições, etc., se não era capaz da nota ser equivalente ao tema escolhido.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.