Tempo, escorrendo-me nas mãos,
Entre os dedos a escapar,
Sem que eu possa detê-lo.
Vai-se indo, quando vejo
Tão distante já se faz,
Obrigando-me o outono enfrentar.
Queria mesmo é viver numa constante primavera,
Envolvido pelo vento e as chuvas de verão,
Mas temo que o inverno breve me venha abraçar.
A força do tempo move o mundo,
Toda a vida e constelações,
Guiando a luz ao seu destino final.
Raiando, por entre a escuridão, ela segue
Através da janela aberta, até iluminar toda casa,
Despertando lembranças que a tanto distanciaram.
A força a mover as ondas no mar,
Faz girar o mundo em buscando de ti,
Sem, contudo, jamais poder te tocar.
Tempo que estabelece divisões, ocasiões,
Momentos, instantes, metades e inteiros,
Colocando visíveis sinais no céu.
Da noite ao dia tua aurora refaz.
Em tua expansão há estações,
Movimentos do brilhante astro dourado.

Tempo, que a pouco embalava canções,
Com pulsante vigor fazia-me balançar
Pela árvore da vida plantada no jardim.
És tu o responsável por tantas erosões,
Também te culpo pelos cinzentos pés
A correrem pelo imenso descampado.
Infância saudosa e feliz,
Perdida, já não volta mais.
Por maior o tamanho do querer
Sei que não me hás de voltar,
Também parado não te vais deter,
Resta-me, então, vivenciar instantes.
Tempo, que raízes estende por todos os versos,
Alegra-me saber que teu outono também virá,
Secando tuas ervas, murchas as flores cairão.
A eternidade dura apenas um momento,
Tempo suficiente pra fazer um sorriso
Tornar-se em inesquecível lembrança.
#papolivre
Ah, o tempo! Misterioso éter contabilizado em gotas de segundos, horas, dias, enfim, num cálculo que, apesar de registrar sua passagem, não pode deter ou domá-lo, assim, sem quem o possa controlar, ele segue em frente, apressado pro que já se determinou desde o princípio.
Em sua continua passagem, ainda mais apressada – como se os dias estivessem sendo abreviados, Einstein nunca esteve tão certo sobre a relatividade do tempo – ele faz arder em nós, cada vez mais, o desejo de adiantar o que ainda não se viu e reviver o que já passou e perdido foi, até ser reconquistado.
Ósculos e amplexos,


Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.
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