Pela janela vi a vida perambular,
Meio corrida, um pouco devagar,
Em ritmo diferente ao imaginado.
A visão oferecida por esse ângulo
É diferente da experimentada lá,
Entre passos tentando alcançar
Tempo que não espera ninguém;
Num andar ignorado só pra ver
O que o dia a dia oculta da visão.
Daqui de cima, se vê a grandeza
Que esse viver nos proporciona.
Mas, mesmo na minha pequenez
Esse sentimento vem despertar
Motivação de viver intensidade.
Sabendo: esse existir é sombra
Do que tempo não pode conter,
Somos um, mesmo divergentes.
Apesar da intensidade prazerosa,
Só esperar nessa vida é esquecer
Que na dimensão onde só há luz,
Onde não há escuridade alguma,
Existe prazer tão verdadeiro que
Apenas novo corpo pode provar.
E se as cores dão beleza ao olhar,
Sensações têm a força da maré,
Sons e cantos embalam a alma,
A natureza conecta e fortalece,
E sentidos se perdem em prazer,
Quando a verdade for revelada,
Da forma que somos conhecidos,
Veremos que o que iniciou aqui
Não passa de eco da eternidade,
Por isso sigo em abdicar escolhas.
O viver é entrega, embora custoso.
Morrer é certeza de liberdade alçar.
Enquanto vivo, posso tanta coisa
E mesmo sem conseguir acertar
É possível endireitar o percurso.
Fecho a janela, cumprimentado
Pela última brisa que escapou,
Enquanto o céu se faz escuridão,
Ocultando o raio a iluminar o dia,
Permanece luz que vem mostrar
Direção que meus pés devem ir.
Assim vou de janela em janela
Tendo nova percepção daquilo
Que olhos ainda não enxergam,
Nem havia soado aos ouvidos,
Ou mesmo escalado o coração.
Mas quando os passos vão por ali
Sou como qualquer outro a vagar
Pelo caminho de cima avistado.
Quem sabe não seja eu o motivo
De outra inspiração fazer poesia
Correr entre janelas e paisagens,
De onde venta chuva, Sol e Lua?
#papolivre
Parte de nosso dia a dia – até do inconsciente coletivo – a janela é uma das estruturas básicas de uma casa, a ponto de ser difícil imaginar um desenho sem ela presente; até porque seria o mesmo que rabiscar uma caverna artificial ou um quadrado – embora a Caaba seja exceção, cuja falta dela lhe conceda um ar enigmático, a construção não é usada como moradia. A primeira abertura a dar origem à janela, surgiu por volta de 4000 a.C., no império persa, já a primeira versão vedada apareceu em 1500 a.C., quando os egípcios passaram a fazer uso do vidro, que permitia a entrada da luz, sem sofrer a interferência de condições climáticas.
Uma coisa é certa: se existe menos pessoas claustrofóbicas, isso se deve a abertura que emoldura o horizonte. Apesar de sua importância, a gente não costuma parar pra avaliar o peso de seu valor, ou mesmo filosofar sobre o quanto de luz ela permite derramar pela casa, tanto a estrutura física, quanto nós – que somos a morada da alma, como recorda o poema “A esperança atrás da porta“. Esse poema surgiu durante uma viagem à Poços de Caldas, chegando lá, foi olhar através da janela do prédio que estávamos pra inspiração se revelar. Ao contemplar matizes e formas, num movimento de tons, surgiram palavras que formaram sentenças, trazendo a profundidade que a correria a preencher os dias tenta nos roubar.
A janela que traz luz, permite o contato com o vento e descortina a vastidão, revela tanta coisa, inclusive sobre a vida e nós, que apesar de divergir um do outro, somos iguais – fato esse celebrado no poema “Humanidade, em divergência similar“. Pela janela acessamos a beleza em paisagens, e vemos a vida passar, em diferentes ritmos e estações, também é de onde se observa o tempo seguir o próprio compasso, rumo a algo maior – que diferentemente do que se pensa é um presente pra humanidade, conforme destaca o poema “Na distância, habita tempo que se foi“. Através desse espaço que retrata paisagens em agitação também é possível encontrar segurança e liberdade – algo mostrado no poema “O que pela janela seus olhos veem?“.
Meu caso de amor com janela é algo antigo. Por ela sempre observei a imensidão do céu e a chuva cair – ainda mais por minha cama ficar ao lado de uma. É por esse espaço, que enquadra a imensidão, onde tenho a felicidade de contemplar o Sol despertar e o cair da noite, além do florir das árvores, a bailar ao toque do vento. Tanto fascínio essa passagem pra vida me trouxe, que muito dessa admiração pode ser percebida em Josh, do romance “O Segredo das Eras – Despertar“, ou no escritor de terror Joss Hardak, quando se vê forçado a voltar às suas origens, na minissérie “Estio“.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.