Poesificando: Se as sombras pudessem falar
Vitaly Taranov/ Unsplash

Se as sombras pudessem falar

Se as sombras falassem que será que iam dizer?
Que poderiam falar da diversidade de meus atos,
Sobre cada ação, reação, também das divagações,
Dos passos deixados na areia durante o caminhar?

Se as sombras falassem, o que teriam pra contar?
Falariam sobre meus medos e até das incertezas,
Revelariam ainda os segredos que se ocultaram
Será que iam revelar segredos, então escondidos,
Ou teceriam sobre cada dor, percas e as derrotas?

Se as sombras falar soubessem, o que entregariam?
Discorreriam sobre mim melhor que eu posso fazer?
Me conhecendo melhor que eu, tanto teriam a dizer.
Iam falar sobre quem aparento ou o que tenho sido?

Se as sombras começassem a falar o que iam expor?
Ao soar de suas vozes a luz de meus olhos ocultaria,
Mesmo advinda do coração em escuridão imerso?
Pode o brilho ser mais forte que as trevas ao redor?

As sombras estão falando
Eyasu Etsub/ Unsplash

Se as sombras falassem agora, que iam apresentar?
Coisas sobre mim, tantas que de completo esqueci,
Ou seria sobre aquelas que ainda tento abandonar?
Poderia ser o que se deu distante de olhos alheios?

Se as sombras falassem o que sussurrariam de ti?
Cada escolha traz consigo peso de uma sentença,
Cada sentença ocasiona em alguma condenação.
Que influência o peso a morte promove sobre ti?

Se as sombras abrissem a boca o que iam relatar?
Falariam das tardes, sob o céu alaranjado vividas,
Ou quando me apanhava em desatenção o prazer,
Em momentos íntimos que apenas o corpo sentiu?

Mas como podem as sombras tanto de mim saber?
É que os dias tenho vivo em trevas, ocultando-me,
Rascunhando um amanhã de perfeitas [in]certezas;
Assim, enquanto postergo pras melhores decisões,
A nuvem testemunha, a prática de teimoso insistir.


#papolivre

Em nosso lugar oculto – seja ele físico ou no espaço da mente – a gente realiza e diz tanta coisa que ninguém vê, tendo por testemunha apenas as sombras que se fazem presente de cada ponto oculto. Coisas absurdas, aleatoriedade ou mesmo bobagens, ainda que nem tudo seja motivo de orgulho: tudo é perigoso, tudo é divino, maravilhoso. É preciso se atentar em não verbalizar ou compartilhar o que ecoa pelos cantos obscuros da mente, porque alguns pensamentos se quer nos pertencem ou definem quem somos.

Além da escuridão, as sombras representam o silêncio que se pudesse falar diria mais sobre como temos conduzido a vida, se desperdiçado os momentos com prazeres passageiros, ou mantido o foco pra nada nos impedir de viver o propósito – que apesar de parecer complexo, é fácil viver por ele após a leitura do artigo “Carregando os momentos de propósito“. Como temos esbanjado nossos dias? A quais atividades nos dedicamos, ou com que passatempo temos nos distraído, enquanto as semanas voam – dispensando vassoura e algum tipo de jato? O quanto de medida temporal tem sido gasta pra esculpir o melhor ou o pior em nós.

Ainda que o isolamento nunca ganhe a habilidade de se comunicar, é bom refletir sobre os segredos que poderiam ser revelados, e os medos desnudados. Se essa exposição traria sorrisos ou culpa, porque dependendo da resposta sabemos se nossos pensamentos, sentimentos e atitudes precisam ou não ser alterados antes do vento soprar o tempo, trazendo o anoitecer que invalida qualquer mudança.

Ósculos e amplexos,

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