Julinha, desde sua chegada por aqui
Existem momentos que impregnaram
Em minha memória e alma, mostrando
Quanta luz cabe num ser tão pequeno.
Seus primeiros movimentos e chutes,
Ainda protegida no barrigão da mamãe,
Se manifestaram quando me aproximei,
E fazendo carinho, conversei com você.
A primeira vez que agarrou o meu dedo
Com uma mãozinha a exibir fragilidade.
No instante que minha voz reconheceu
Quando dei oi, pra princesinha do titio.
O dia que seu rostinho se encheu de luz
Ao me receber pra te pegar nos braços.
Quando aprendeu a gargalhar comigo,
Fazendo um som do qual eu queria mais.
Quando enfim reconheceu meu rosto
E viu te observar o amor em meu olhar.
As primeiras conversas e troca de ideia,
Mesmo sem a gente se entender direito.
A vontade de andar, ainda sem estrutura,
Pra começar a traçar seu próprio destino,
Brincando, lhe ensinei os primeiros passos;
Um pé, após o outro, só pra sua felicidade.
Seu desejo apressado de pertencer ao chão
A fazia se jogar, confiando em meus braços.
Seus passinhos balançados pela incerteza,
Te faziam buscar segurança em minha mão.
Aquela felicidade surgida ao me ver chegar,
Sua mãozinha me chamando, dando tchau.
O abraço a envolver todo o meu pescoço
Do qual não dá mais vontade de largar.
Cada momento contigo, ainda que curto,
Demostram: você é felicidade que contagia.
Sua chegada trouxe um nível de conexão
De existência até então desconhecida.
Você é luz num pequeno ser agitado.
Que sua energia e juventude perpetuem
Em nossas vidas e de quem a conhecer;
Assim como o Sol enche o céu de cor,
Ao dispersar cada camada de escuridão.
Que sua presença traga muitas alegrias
E a graça de Deus a envolva, te fazendo
Ser a benção que você nasceu pra ser.
#papolivre
Esse poema foi escrito pra comemorar o aniversário de um ano da Julinha. Contendo um tom de saudade, ele anunciava que a partir dali nosso bebê ia começar a crescer, deixando pra trás as fases de descobertas mais incríveis das quais pude participar. O que nunca cogitei é que o desejo de sua energia e juventude se perpetuarem continha uma pitada de adeus, já que no dia 03 de maio nosso bebê nos deixou – pelo menos por enquanto [1 Tessalonicenses 4.13-14].
Do latim benedictio, de bene, “bem”, mais dictio, de dicere, “dizer”; benção é o “ato de proferir o bem”. Mas é no hebraico que a palavra ganha profundidade, vinda de baarah, da raiz barakeh, que significa “ajoelhar, abençoar, exaltar, agradecer, felicitar e saudar”. Já o grego eulogia, além de carregar o sentido de “acréscimo de um bem material”, contempla ainda a parte espiritual. A existência de Julinha carregou todos esses sentidos, sua vinda trouxe uma alegria incontida, felicidade e inúmeros motivos pra agradecer, além de nos fazer ajoelhar pra seguir seus passinhos.
Foi uma experiência maravilhosa conviver esse tempo que D-s nos permitiu com Julinha – isso não é só a percepção de um tio babão, qualquer um que conheceu Julinha pode dizer o mesmo. Existem coisas que só agora fazem sentido, como o fato dela permanecer numa confiança a ponto de se jogar sem medo do que pudesse acontecer, mesmo com o passar dos meses. O que causa tristeza é saber que, em seu maior salto, nenhum de nós pode alcançá-la e nosso bebê foi amparado por D-s [Eclesiastes 12.6-7]. Agora nos resta chorar com as melhores lembranças que ficaram desse pequeno ser de luz.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.