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Contificando: Vultar – Na essência a visão - .inversivel
Contificando: Vultar – Na essência a visão
Ion Fet/ Unsplash

Vultar – Na essência a visão

As mãos tremulavam, mais agitadas que de costume. Após meses de escuridão, envolto em dúvidas e dos momentos de tristeza, uma carta comunicava seu maior desejo. Mesmo lendo-a pela terceira vez, era difícil acreditar nas marcas impressas ali.

A felicidade que lhe tomou o rosto se desfez em lágrimas; algo que se tornara comum. Ultimamente a alma andava sensível às belezas da vida. Bastava um abraço sincero ou mesmo a arte contida em filmes, livros e músicas pra quebrá-lo por inteiro.

Com os rostos tensos e a ansiedade a provocar batidas nos pés e o tamborilar de dedos, os filhos aguardavam o fim do suspense. Algo feito com a voz arrastada e carregada de pausas.

A notícia alastrou sorrisos, provocando gritos e abraços. Apesar disso, ele não sabia se realizava a cirurgia. Perder a visão lhe proporcionou perceber a existência com mais clareza e avistar a essência além do ser.

Agora ele enxergava por dentro, onde podia apreciar a beleza de todos e das menores coisas. Algo que temia perder ao recuperar a visão, pois só se vê a verdade e o belo se a gente fechar os olhos pra aparência que seduz o olhar.


#papolivre

Esse curta surgiu como desafio de escrita criativa, há mais de um ano. A ideia era desenvolver uma história a partir da frase “ele sorriu ao reler a carta e resolveu contar do que se tratava”, de até 250 palavras – algo conseguido após várias edições, instigado pelo perfeccionismo.

Antes de publicá-lo por aqui, o reescrevi com o conhecimento que tenho hoje, resultando: ele ficou com menos palavras e mais profundidade. Seu tema surgiu assim que idealizei o conto, e pra deixá-lo mais humano e trazer sensibilidade fui atrás de fontes pra torná-lo realista, daí me deparei com o relato do Marcos Lima – vale a pena assistir – que me confirmou a intuição. Será que acertei a direção? Diz aí nos comentários.

Ósculos e amplexos,

Mishael Mendes Assinatura
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