De teus olhos se espalha o matagal
Que forma um cerco ao meu redor.
O colorido a escapar de teus olhos
Expressa desabrochar da natureza,
Que brota anunciando energia tua.
Me atravessa esse verdor no olhar
E tudo o que eu quero é me lançar.
De repente, me percebo manifesto,
Podes ver o que se move em mim?
A potência da chama a me apalpar,
Incendeia a começar do abdômen.
Não arrisco de sua luz me achegar,
Talvez a segurança seja ficar longe,
Mas a sinto aqui ainda mais perto,
Ardendo em mim, trazendo chama
Pela gelidez de um tempo anormal
Esquenta, me levando a concordar.
A vida dançando pelos olhos teus,
Me carrega da saudade de tempos
Onde pureza era sobrenome meu.
De quando se amava em liberdade,
Sem receio do coração despedaçar;
Ou ainda de alguma regra quebrar,
Tempos nos quais o amar somente
Continha em si dulçor da felicidade,
E nos lábios fazia derreter prazeres,
Feito mel, ia escorrendo pela boca.
O Pantanal surgido me faz envolto,
Em laços o verdor que cerca enlaça,
Rodeado, resta apenas olhar o céu,
Vejo brilhar o Sol, seria o sorrir seu?
Olhos que brilham, porém, cortam,
Transpassando as paredes do peito,
Onde coração dispara em agitação.
Energia emanada o descompassou,
Em batidas que ritmam seu nome;
Ainda que a mente o desconheça…
Verde, surgido em meio ao inverno,
Onde o rigor faz correr pra coberta;
Tempo em que seguia a monotonia,
Passeando em direção ao alto-mar.
Colorido que de manso se achegou,
Ofuscando-me visão e sentimentos,
Espalha seu verdor nas lembranças.
O desabrochar em mim faz renovo,
Sua força causa o romper do ramo.
Modificando o tom das folhagens,
Também muda estados e estações,
Seria a razão de me desconhecer?
Olhos por onde se vê a vida dançar,
Mistério oculto em secundária cor,
Leva a descobrir inocência na alva.
Não assimilo como Leonardo pode
Não a conferir justo protagonismo;
Pouca importância acabou por dar,
A cor da vida e também do prazer.
Arde em mim ferocidade do desejo:
Ser incendiado pelo fogo do verdor
A escapar do brilho nos olhos teus.
Verde, olhar a reluzir em esmeralda
Se foi tão rápido quanto o vi chegar,
Voltastes ao mistério de onde veio.
Em mim, sua chama inicia a apagar.
Luz que ao te contemplar, clareou,
Brincando pela estrela no alvorecer,
Poderia novo dia de volta te trazer?
Logo cedo, me ponho a descansar,
Ansiando no crepúsculo te apreciar.
A noite teu brilho não chega ao céu,
Seria tua ausência a distanciar, ou
Imensidade advinda da escuridão?
Vou dormir, firmado na esperança
Que lhe traga um novo amanhecer.
Durante o dia, me ponho a sonhar,
Com o firmamento a resplandecer
Você, será que ainda vou encontrar.
Começo a vivacidade experimentar,
Mas, como pode isso ser provável,
Se lá fora friagem está congelante?
Durmo contigo, mas onde foi você?
Pela manhã, chega o Sol num sorrir,
Mas e você, aonde é que foi parar,
Que não vistes aqui me despertar?
Perdoa se foi por algum erro meu;
Mas pouco retive de sua quentura,
Pelo instante que pude lhe manter,
Pensando pra sempre lhe teria aqui.
Culpa a mim não se pode atribuir,
Posto que somente te fostes chama,
Em passagem, quando o olho tocou,
Estrela levada pela nuvem matinal.
Se viver, é aos poucos desaparecer,
Deixo de existir a cada momento,
Que intensifica em grau a ausência
Do calor transmitido por teus olhos;
Verde verdade vista por visão vadia.
#papolivre
Num átimo, um instante em que a medida perde valor, pela surpresa que nos pega e a importância que passa a tomar, ainda que breve, tanta coisa pode acontecer, como a gente ser enlaçado pela vida e paixão a brilhar nos olhos seguindo em nossa direção. Em enigma, mesmo da distância, é possível se perceber incendiar e ser por eles atraídos.
Foi desse mesmo jeitinho que surgiu esse poema. No momento que tive esse encontro não sabia como reagir, a não ser observar, tentando obter mais daquele brilho que incendiava uma floresta inteira de cor e vitalidade – enquanto desejava me entregar ao seu luzir e o obter apenas pra mim.
Embora o tempo tenha se passado, arrastando tantos anos desde que isso aconteceu, ao lembrar daqueles olhos da cor que só sei imaginar, sua chama me torna as memórias da cor de sua intensidade. Porém, sendo curto o tempo em que essa colisão durou, esse instante serviu pra memória registrar pedaços, juntados pelas lembranças que delinearam ideias, encaixando conceitos, até sua passagem tomar forma e virar poesia. Tamanho foi o impacto de seu brilho que fez surgir outros poemas, gerando a série “Poesias Flamejantes“, da qual esse é o primeiro dela.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.