Cornocário: Fotografando memórias
Nadine Shaabana/ Unsplash

Fotografando memórias

O oitavo episódio da terceira temporada de Kyle XY, me deu muito o que pensar: “às vezes um momento se torna uma memória no instante em que acontece. Porque é tão verdadeiro, tão puro e significativo, que você quer guardá-lo pra sempre.”

Adoro tirar foto – meus dispositivos que o digam! Mas fui levado a refletir qual a intenção por trás desse desejo de guardar o máximo de lembranças que eu consiga capturar.

Na minha infância a única forma de congelar o tempo se dava com máquinas analógicas, que exigiam filme pra gravar as fotos e só depois do negativo ser revelado dava pra ver. Não havia tela pra mostrar qual estava boa, era uma questão segurar a respiração, fechar no close e torcer pras fotos saírem bonitas.

Não era difícil surgir foto comprometedora ou indesejada, com qualidade duvidosa e até distorcida; que costumava revelar fantasma oculto na cena 👻 – nada de Gasparzinho ou qualquer outro fantasminha camarada, era umas coisas assustadoras mesmo! #medoreal

Devido ao trabalho necessário, ao tempo e custos envolvidos no processo, poucas são os registros de minha infância ou de minha família dessa época retrô. Razão que me levou a tirar diversas fotos após a fotografia digital pegar de vez.

Dispensando uma série de parafernálias e aliada aos espaços de compartilhamento de fotos, a fotografia digital motivou muita gente a virar colecionador de instantes; porque além de permitir fotos de qualidade em sequência, dá pra excluir as ruins – algo recomendável se você não quiser que acabem vazando e comprometam sua imagem impecável graças a iluminação, ângulo e edições.

“Fotografia é a forma de congelar o tempo pra memória recontar a história contida ali, com seus sons, cheiros e emoções.”

Avaliando todo esse contexto me questiono se essa minha necessidade de registrar tanta coisa se dê por medo de perder os momentos bons da vida. Sofro da síndrome de memória fraca: toda vez que a ansiedade me ataca, zera minha mente ao ponto de sobrar apenas um blecaute que oculta toda luz em mim, interrompendo o fornecimento de boas lembranças, me levando a uma cegueira onde só sou capaz de sentir pesar, desespero e solidão.

Razão pela qual preciso registrar sorrisos, descontração, lugares, beleza, carinho e tantas outras coisas boas porque me ajudam a recordar que estive nesses momentos felizes, fazendo parte do que foi eternizado em fotos compartilhadas num tempo ignorado.

O medo de perder o impalpável, de passar pela vida sem a certeza de ter vivido essas ocasiões me desperta a vontade de fazer registros pra evitar do futuro revelar que fui apenas mais um, sem expressão ou significado. Que não despertou o interesse, nem acrescentou nada de novo; aquele que não alcançou o que esperavam dele ou mesmo o que desejei – embora nem eu mesmo saiba o que seja isso com precisão.

Não existe nada mais prazeroso que a oportunidade de existir no tempo, algo ao qual nomeamos vida. Mas, às vezes, o lado negro da força surge; o yin revela sua face monstruosa oculta e a gente se vê preso ao castelo da Fera, localizado numa fossa perdida num poço sem fundo.

Markus Spiske/ Unplash

A despeito das dificuldades, desejo realizar tanto – e sei que posso – mas ao olhar a imensidão da vida, minha pequenez me grita que talvez eu não seja especial a ponto de fazer diferença alguma. Será que só eu penso sobre essas coisas ou isso acontece com a geral?

Quem mais se questiona sobre o quanto pode realizar? O que motivo do cara comum ao pai de família? Do que são feitos os sonhos de quem vive marginalizado ou entregue ao vício das drogas e da prostituição?

Quem poderia saber o que esperou alcançar aquele adolescente que tirou a própria vida após brigar com a mãe, ao se enforcar no isolamento de seu quarto? É improvável que eu seja o único com tais considerações, mas exercer o livre pensar serve de alguma coisas?

Embora meu perfil seja encontrado em diversas redes sociais, ele existe como forma de dizer ao mundo, e a mim mesmo: estou aqui! Existindo nessa dimensão, onde posso crescer e me tornar melhor mesmo com meus erros e diante das dificuldades que insistem em surgir [Romanos 8.28].

Estar em tanto lugar diferente – como já fiz várias vezes no mundo off-line – não significa que desejo chamar a atenção, até porque exposição é algo que não me deixa confortável. Antes de atrair olhares, quero saber quem sou eu, me nego a acredito ser aquilo que o espelho me revela: uma imagem muitas vezes deformada; pelo menos não é o que desejo pra mim.

Escrever sobre isso é difícil ao ponto de me embaraçar nas ideias e palavras, mesmo assim continuo a tentar, no mesmo ritmo que busco nada perder. Mas, será que esse anseio é o que me tem furtado justo o que mais temo perder?

É possível que eu esteja trocando a divertida companhia dos amigos, por fotos perfeitas; a aconchegante presença da família, por amigos virtuais e assuntos diversos. E deixando os contatos reais pra experenciar a vida e suas sensações através de conteúdos serializados. O que sei é vapor que o vento desfaz!

Ao me questionar o porquê de determinadas ações fico a imaginar se isso tudo não é causado por minha natureza decaída que insiste em manifestar sua inquietante deformação.

Apesar das poucas fotos de minha saudosa infância, os registros costumavam acontecer em momentos específicos; o resto que não se registrou foi vivido. Porém, hoje a gente faz o contrário: gastando tempo criando registros, esquecemos de vivê-los, assim a vida se torna lembrança congeladas que se perdem numa pilha que a gente acaba por abandonar devido as suas dimensões.

Só posso torcer pro futuro nos trazer menos arrependimento e um viver mais leve [Mateus 11.28-30] onde a gente desfrute do presente, sem preocupações se iremos um dia poder recordá-lo. Momentos agradáveis não são apagados da memória e mesmo que isso aconteça ainda nos restarão as sensações dos amores e da felicidade vivida.

Pra manter por perto

Pra manter por perto

Se essa postagem bateu saudosismo e te deixou na vontade de viver a experiência vintage da câmera analógica. Separei duas ótimas opções retrô que fazem fotos instantâneas com uma pegada digital, de quebra você ainda ajuda o blog. 📸

Polaroid i-Type 9027 – A primeira delas é baseada no modelo original dos anos 70. Ela possui foco automático de lente dupla resultando em fotos mais nítidas, mesmo sem flash. Conta ainda com uma lente de 103 mm pra fotos convencionais e outra de 95 mm pra retratos, além de modo criativo pra dupla exposição; flash e temporizador.

Instax Mini 11 – Já essa é uma versão baratinha. Com exposição automática que ajusta a câmera de acordo com as condições do ambiente, modos pra fotos com detalhes nítidos, espelho de selfie pra ajudar no enquadramento de autorretrato. Além de flash que se ajusta a luz ambiente e revela mais informação em locais escuros.

Ósculos e amplexos,

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