Quando pousas teus olhos em mim
O nascer do dia lança seus raios,
De arco-íris se enche o campado,
O toque do vento envolve e arrepia,
O cume das serras derrete em luz;
E os pássaros em voo entoam alegria.
Quando pousas teus olhos em mim
Meus passos se desencontram,
Os olhos meus encaminham pra ti,
O deserto me resseca a garganta,
Deixando a boca a desejar o oceano;
E sorrisos bobos enchem meu rosto.
Quando pousas teus olhos em mim
A segurança me abandona o corpo,
As mãos toram-se excesso e suor,
Bambeia pernas, se abala a estrutura,
Uma chama afrouxa a musculatura;
Pelo entrelaçar de possibilidades.
Quando pousas teus olhos em mim
Num instante tudo se faz em poesia
O ar se enche do aroma de laranjeira,
Das flores escorre versos e sonetos,
A exalar odor que os sentidos acaricia;
No céu surge a esperança das manhãs.
Quando pousas teus olhos em mim
O frio a uivar se distancia em conto,
A certeza do verão me toca a pele,
O céu me dá cor aos pensamentos,
Que circundam a orla da paisagem;
E alçando às alturas abraçam o sol.
Quando pousas teus olhos em mim
Instantes se espalham em eternidade,
Em pó de estrelas fragmenta o tempo,
Incertezas viram distantes recordações,
Meu coração batuca no ritmo do seu;
Nesse momento sei que posso sonhar.
Quando pousas teus olhos em mim
Mergulho no mar a lhe banhar a visão,
A liberdade me vem fazer companhia,
Constelações mudam as suas órbitas,
Gravando no horizonte esse instante;
Até sem teus olhos, só saudade restar.
#papolivre
Após passar o dia salvando referências pra escrita, corujava com a leitura de uma matéria sobre como ler os sinais do interesse de alguém, e entre os apontamentos que fiz, escrevi: “seus olhos continuavam voltando e pousavam”. Essa frase foi o suficiente pra fazer brotar poesia em mim, que deixei adormecer na mente pelo relógio se aproximar das quatro. Assim, deixei toda areia do sono me pesar nos olhos, torcendo pra não esquecer essa frase-chave que desbloquearia um poema completo.
Ao acordar por volta das oito, a primeira coisa que me veio a mente foi “quando pousas teus olhos em mim” e o poema foi se modelando, aquecendo e perfumando o nascer daquela fria manhã de outono. E terminou de ser lapidado durante a tarde, banhada por um solzinho preguiçoso que tingia o tempo com sua paleta amarelada; enquanto a trilha sonora me levava pra paisagens conhecidas pela mente que se deixa levar pelo caminho do vento, entre o balançar das árvores e a vida a colorir o horizonte.
Por falar no furor causado pela paixão, com seus efeitos maravilhosos e devastadores – que entorpecem os sentidos de hormônios – escrevi o artigo “Não faça como Romeu e Julieta“, que fala sobre o impacto e a importância de não nos deixar levar pelos impulsos.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.