A poesia se esconde em cada canto livre,
Nos momentos e instantes, em qualquer espaço,
Na sinuosidade das curvas e retilíneas também,
Na mancha da cor ou no asséptico branco,
Nas nuvens a deslizar pelos céus,
No cinza que antevê chuva e frio.
A poesia se esconde no abraço acolhedor
E no desprezo que afasta e machuca,
Na palavra dita ou não, pensada ou escrita,
Em cada sequência de pensamentos,
A cada marca do relógio, cada ponto, final,
Reticências e vírgulas, que acentuam sentidos.
A poesia se esconde em atos e cenas,
Em cada ação e reação, também na inércia,
Nos objetos estáticos ou em movimento,
Rápido ou devagar, avançando ou voltando,
Na mão segura que conduz o lápis ou pincel,
Caminhos, levando as águas tranquilas.
A poesia se esconde em cada brincadeira,
De esconde-esconde, vai no pique do pega-pega,
Correndo pra cima e pra baixo, pulando corda,
Bate-estaca, na amarelinha, vai do céu ao inferno,
Corre a bola de um ponto a outro, pra fazer cesta,
Gol, marcar pontos e vibrar com a felicidade.
A poesia se esconde encontrada e perdida,
Naquilo que já se foi ou no que ainda vai ser,
Passeando nas memórias, emoções e sensações,
Ela trafega entre descobertas, verdades e ensinos,
Assim desenha seu caminho pra fora da mente,
Até alcançar novos olhares e corações receptivos.
A poesia se esconde onde não foi pretendida,
Nem se prendeu, se convidou ou foi oferecida,
Como o vento segue caminho desconhecido,
Subindo até as alturas, onde lá faz moradia,
Dela se avista o céu, terra, árvores e animais,
A vida e a alegria de cada novo despertar.
A poesia se esconde, mas também aparece,
Sem fazer questão de ficar oculta, se revela,
Gostando de ser apreciada, aparece na janela,
Mesmo sem ser esperada, ela cai com a chuva,
Enchendo de orvalho as flores, de vida as plantas,
De frescor banha a terra e de arco-íris pinta o céu.
A poesia se esconde de lá pra cá e de cá pra lá,
Entre a multidão, ela vem cheia de sorrisos,
Nas asas da alvorada toma carona, carregada
Até o dia ser perfeito e se encher de luz,
Pra ela tudo é uma brincadeira, um drama,
Grande felicidade, tristeza, algum sentimento.
A poesia se esconde na água a correr no riacho,
No fogo que queima lenha e esquenta o fogão,
No sol a aquecer a primavera ou torrar o verão,
Também se encontra na brisa que refresca e alivia,
Em cada manhã, nas tardes, noites, até mesmo
Na madrugada onde o sono parece fugir de nós.
A poesia se esconde, mas fica tão bem encontrada,
Marcando presença nos desejos ocultos ou revelados,
Nas estrelas piscantes e nas que preferem a mudez,
No silêncio noturno ou na agitação do dia e tarde,
Também desperta nas madrugadas, só pra falar
De coisas profundas, no sono que vai escapando.
#papolivre
Se existe algo que me toca com profundidade é a beleza da poesia a surgir de momentos e coisas mais inusitadas – conforme você aqui. Algumas de minhas interações mexem comigo de uma forma que só sei poetizar sobre – ainda vai sair um poema sobre isso.
Essa minha sensibilidade – que já cheguei a considerar um peso e até evitei por alguns anos – credito total a D-s, que me faz ver a vida e tudo mais por uma perspectiva intensa e vibrante – a música escolhida expressa isso melhor.
Amanhã, 21 de março, é comemorado o dia mundial da poesia, então, nada melhor que celebrar sua com um poema sobre a poesia. Esse aqui surgiu pra ser usado no plano de fundo das capas dos poemas de 2020, a partir de “Se a manhã me desse um raio de luz“, porém removido pra facilitar a atualização do blog e de futuras atualizações. Outra curiosidade é que o nome da categoria, Poesificando, foi criado porque acredito que tudo pode se transformar ao toque da poesia pra alcançar os corações.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.