Alexey acabou amadurecendo bastante cedo, muito disse teve a ver com a partida dos pais, assim, sozinho, teve que aprender a amadurecer mais cedo – o que o tornou num excelente chefe de cozinha, influenciado pelas memórias dos excelentes momentos deixados pela mãe.
Tão empolgado, Alexey estava pra ver Lara que levantou sorrindo a toa, mas apesar da vontade de falar logo com ela, resistiu, só pra descobrir depois que ela pareceu sentir, acordando nos momentos que ele só pensou de fazer isso.
#episodioanterior
Acompanhe a minissérie » EP 01 • EP 02 • EP 03 • EP 04
Mesmo sem qualquer resposta, Alexey continuou de boas, afinal, devia ter algum motivo pra Lara não ter respondido ainda, quando chegou no Parque Trianon, mandou mensagem avisando que tinha chegado.
Após escolher um banco próximo da entrada, com arbustos atrás dele, então verificou se tinha chegado algo, mas ela se quer tinha visualizado as mensagens ainda.
— Cê não vai furar comigo, né!?
Ele esperou um pouco, apesar do parque ser bastante movimentado, era até silencioso.
— Rosas são clichê, mas você merece todos os clichês românticos. – Ele tirou foto, com o buquê na frente do queixo.
Já tinha passado do horário combinado quando Alexey desceu na estação Trianon/MASP, mas como Lara estava demorando pra responder, ele aproveitou pra passar na floricultura e lembrando do quanto a mãe amava flores, achou que ia ser ótimo dar um buquê de rosas pra crush, daí escolheu o mais bonito e saiu de lá com o maior sorriso.
Ele até pensou em comprar algo pro piquenique, já que como não tinha conseguiu fazer compras não teve como preparar seus deliciosos lanches gourmet ou outra coisa gostosa, mas achou melhor esperar ela pra escolher juntos.
Agora – voltando da pausa – imagina só que coisa mais romântica receber uma foto assim do crush que está te esperando pra um piquenique bem romântico.
Bom, se você prestou atenção na história, na conversa deles e no que também te contei, enfim, em tudo que rolou até aqui, já deve imaginar como foi o tão esperado encontro.
“A partir do momento que se dá a palavra, não importam consequências, deve-se cumprir com o que se dispôs.”
Enquanto Alexey tirava umas selfies, até chegar alguma resposta, eis que surge Lara, ainda mais gata que nas fotos do Insta, com o bolo de prestígio vegano que tinha preparado. Na hora ele sorriu e ela fez o mesmo.
— Então cê não respondeu de propósito?
— Claro! Assim a surpresa ia ser mais gostosa. – Ela piscou maliciosamente.
— Melhor surpresa que essa não tem. – Ele sorriu se aproximando e a segurou pela cintura.
— Ahh, tem sim! – Ela quis garantir que dava pra melhorar.
Então Lara começou a cantar “Parabéns pra você”, a galera que passava no parque, vendo toda animação, se contagiou e fez coro com ela, logo a geral cantava junto.
— Só tem um probleminha nisso, Lara! – Ainda embaraçado, ele conseguiu dizer assim que a cantoria acabou.
— O que, amor!?
— É que hoje não é meu aniversário. – Alexey cochichou no ouvido dela.
— Ah… não!?
— Não! – Ele coçou a cabeça, sem jeito.
— Já sabia, bobo! – Ela riu da cara dele.
— Mesmo!? – Lara assentiu com a cabeça. – Então pra que essa cena toda? – Ele riu desconcertado ainda.
— É que cê não tá bem, moço! – Ela piscou.
— Oi!? – Ele se sentiu confuso. – Tô sim e me sentindo melhor que nunca!
— Você não está bem! Olha só sua cara.
— Que é que tem?
— Moço, está tudo bem aí?
— Quê!? – Alexey se assustou.
De repente tudo dispersou e novamente as coisas estavam com antes, as pessoas transitando pra lá e pra cá, num clima calmo, embalado pelo canto dos pássaros, a única coisa de diferente é que na frente dele tinha um cara de uniforme parado, lhe olhando com certo espanto.
— Tá sim… por quê? – Ele conseguiu responder logo que se recuperou do susto.
— É que você ficou paralisado, sem mexer os olhos, pensei que estava em choque. – O guarda esclareceu.
“Coisas boas podem acontecer, mesmo quando algo ruim aparece, basta estar aberto ao inesperado.”
— Tá tudo ótimo, seu… Asdrúbal! – Ele leu no crachá do guarda. – Só me empolguei pensando nuns bangs aqui.
— Deve ter sido bom mesmo pra você ficar com essa cara… – O guarda riu. – Precisando, estou logo ali.
— Valeu aí, seu… Asdrúbal! – Ele precisou ler mais uma vez, enquanto acenava. Alexey não era bom de gravar nomes, ainda mais com um bem “incomum” quanto aquele.
O guarda acenou com a cabeça e foi sentar no banquinho dele, um pouco mais afastado, de onde vigiava a entrada e se os usuários estavam cumprindo com as regras, posicionadas num totem próximo dele.
É Alexey, você errou feio, errou rude! Isso que dá se empolgar demais pensando na crush, ele tanto viajou na maionese que a imaginação acabou parecendo real.
Pouco depois Lara respondeu, dizendo que estava com raiva porque ele não avisou quando saiu de casa. Ela mandou várias mensagens, mas fazendo um resuminho básico: só reclamou e o culpou pela própria ausência no date.
Alexey até voltou a conversa pra confirmar as coisas antes de falar e viu que tinha respondido à última mensagem dela cinco minutos depois, daí justificou que só não respondeu antes porque estava ocupado, mas assim que deu, fez isso.
— Poxa, custava ter dito que já tava saindo de casa?
Lara continuou reclamando, afinal, avisou quando foi pra casa e que de lá pro parque eram apenas alguns minutos.
— Não saio de casa sem ter confirmação, já levei vários bolos. Teve vez que fui em debaixo de chuva pra nada.
— Tá, mas tô aqui. – Foi tudo que ele conseguiu dizer depois de tanta reclamação, também pra evitar insistir na briga ou tentar mostrar quem estava certo.
Apesar de toda argumentação de Lara pra não assumir a mancada que deu, Alexey só queria mostrar que estava ali por ela, esperando pra vê-la, assim podiam esquecer tudo, sem culpa, reclamações, traumas ou arrependimentos.
Passados alguns minutos, sem qualquer resposta, ele disse que tinha feito maior corre pra vê-la – Alexey morava longe dali e só escolheu o Parque Trianon porque era perto pra ela. A resposta de Lara foi enviar uma foto, toda sexy, fazendo biquinho pra uma garfada do bolo que parecia delicioso – ela sabia mesmo como seduzir usando comida – com a legenda “Humm… eu vô comer seu bolo”.
“Ações são como bumerangue, você até pode mandar pra longe, mas uma hora elas voltam.”
— Poxa, pensei que cê tivesse tão a fim de me ver quanto eu tava de você. – Ele conseguiu dizer após respirar fundo e pensando bem o que podia mandar.
É, no fim, até rolou bolo mesmo, mas do tipo que a gente não espera e que, apesar de não ser comestível, tem um gosto bem ruim – daqueles que a pessoa marca um encontro e não aparece!
Se Alexey ficou bolado? Ficou pra poxa! Mas que podia fazer agora?
Ele até chegou a estranhar Lara não falar nada quando a respondeu, além de sumir durante o trajeto pro parque, mas como aprendeu que a partir do momento que se dá a palavra, não importam consequências, deve-se cumprir com o que se dispôs, então foi assim mesmo, até porque não ia ser isso que o faria deixar de ter caráter e dar mancada.
Já Lara, preferia usar a culpa pra tentar esconder as próprias decisões ruins e mancada, pois se o date não rolou foi unicamente por sua causa. Ela não respondeu antes por mera birra, como Alexey demorou ela achou que ele merecia ser ignorado, daí que o desencontro aconteceu.
Ainda assim tudo podia ter se resolvido facilmente, bastava ela ir vê-lo, já que morava perto dali, mas ela se quer considerou isso, ia demorar pra se produzir – e pra que se dar ao trabalho, quem estava errado era Alexey mesmo.
É cara, não teve jeito mesmo, maior boleira essa mina!
Várias pessoas passaram pelo parque desde que Alexey sentou no banco, ele tinha escolhido estrategicamente um que ficava perto da entrada principal, assim seria visto rapidamente por Lara – o que não ia mais acontecer – mas a galera continuava indo e vindo. Quem o notou ali, viu apenas alguém pleno, sentado, tirando várias selfies – dava nem pra perceber o quanto estava bolado.
Como não ia discutir com quem preferia brigar ao invés de consertar as coisas, excluiu a conversa, até porque Lara nem visualizou a mensagem e agora pouco importava se isso ia ou não acontecer, ele já tinha levado bolo mesmo.
Pra dar uma cutucada, Alexey alterou a configuração do Status pra apenas Lara visualizar e postou uma foto, fazendo cara de decepção – na qual estava maior gato – com a legenda “levar bolo é phoda!”.
Assim que Lara visualizou, ele exclui, até porque não queria se vingar ou coisa do tipo, apenas mostrar o gato que ela estava perdendo, fora o fato de estar cheiroso, tinha se deslocado até lá pra nada – maior desperdício isso.
Percebendo que o banco não podia reduzir o nível de chateação ou o fato de estar só – talvez até os aumentasse – vida que segue, levantou pra aproveitar o ambiente e tirar mais fotos. Além de esticar as pernas, ele foi andar porque teve impressão dos transientes perceberem que tinha levado bolo – podia até ser que não, cada um estava preocupada demais com a própria vida, mas o guarda, de nome engraçado, com certeza devia ter notado isso.
Ao chegar na ponte, que cruzava à Alameda Santos, se debruçou na lateral dela e ficou observando o movimento lá embaixo, todos pareciam tão apressados, sem se dar conta de qualquer outra coisa fora de seus carros.
— Boa tarde, cê pode tirar uma foto de mim?
— Boa tarde! Mas é clararooo… – Alexey começou a falar com olhar ainda lá em baixo, mas quando viu que era maior cremosa que pedia o favor, até travou.
— Tira desse lado que fico mais bonita. – Ela sorriu, lhe entregando o celular.
— Pára! Cê fica linda de qualquer ângulo.
— Obrigada! – Ela ficou sem jeito.
Sorrindo, a garota ficou ainda mais gata.
— Pronto! Tirei várias. – Ele devolveu o celular, todo simpático.
— Valeu! – Ela agradeceu e foi conferir as fotos. – Ficaram todas lindas.
— Claro! A modelo ajudou bastante. – Alexey piscou.
— Um fofo mesmo, você! – Ela sorriu novamente. – Cê é assim com todo mundo?
— Só com quem acho que vale a pena!
— Gostei da sua teoria! – Ela sorriu de novo. – Mas sabe algo que acho que vale muito a pena?
— Não! – Ele quis saber.
— Essa vista! Toda vez que tô passando pelo parque, preciso tirar uma foto.
— Também me amarro, aliás, no Parque Trianon todo!
— Sim! Por isso faço questão de passar aqui todo dia.
— Nossa! Cê deve ter várias fotos, então.
— Tenho mesmo! – Ela riu. – Adoro essa vista.
— Aposto de que deve tá todas lindas. – Ele soltou, sorrindo.
— Ah… eu gosto. – A garota sorriu, sem jeito. – Por falar em coisa que gosto, simplesmente a-mo pão de queijo! – Ela mudou de assunto, repentinamente.
— Sério? – Ele disse com a voz de manha.
— Demais! – Ela sorriu ao vê-lo todo galante. – Por quê?
— Também sou apaixonado!
— Olha só, mas que coincidência! – Foi a vez dele sorrir.
— Mas sempre tem espaço pra uma nova paixão. – Ele piscou, fazendo ela sorrir com os olhos e lábios.
— Bom, conheço um lugar pertinho, onde tem o melhor pão de queijo que já comi. Bora lá!? – Ela pensou bem e viu que estava sendo afoita. – Quer dizer, se cê não tiver esperando alguém. – Ela o mediu e percebeu ele bem-arrumado.
— Tô não! – Alexy respondeu tranquilamente. – Adoraria conhecer lá, se for contigo, fica ainda melhor. – Ele sorriu novamente. – Qual o seu nome mesmo?
— April Springham. E o seu?
— Alexey Hondjakoff. – Ele foi cumprimentar com beijinhos, mas os lábios se atraíram e eles acabaram se beijando.
Quando eles se afastaram, Alexey viu o guarda, que tinha resolvido fazer uma ronda, olhando pra ele, Asdrúbal deu-lhe uma piscada marota e ele sorriu, meio sem graça.
O novo casal saiu, com ele abraçando o ombro de April, enquanto ela fazia o mesmo com a cintura dele e entre sorrisos foram conversando, logo deu pra sentir o cheiro de pão de queijo tomando o ar.
Foi assim que, mesmo sem esperar, Alexey levou bolo que virou date, melhor até do que esperou, e ele ficou com uma garota mais cremosa que Lara, isso porque ao invés de se chatear, se trancando numa bolha de mau-humor, ficou tranquilo – coisas boas podem acontecer, mesmo quando algo ruim aparece, basta estar aberto ao inesperado.
#papolivre
Tem nada mais desagradável que levar bolo, por isso se não estiver mesmo a fim da pessoa, melhor deixar isso claro que fazer ela ir encontrar o vazio – não esqueça que ações são como bumerangue, você até pode mandar pra longe, mas uma hora elas voltam.
Essa foi a primeira vez que tomei bolo e foi tão surreal pra mim que senti que precisava falar disso – era pra ter sido apenas um conto, mas a história cresceu e virou essa minissérie que você acabou de ler.
De aprendizado ficou que agora só saio de casa após confirmar se a pessoa realmente vai comparecer. Percebi que também já dei bolo, embora não tenha sido intencional, acabou que fiz isso, mas depois dessa experiência entendi que não importa o motivo, levar bolo é ruim de qualquer jeito.
#proximaminisserie
Um garoto inteligente, desligado, que ama desenhar e ler, um geek meio diferente, com pouco afeição por internet e a relacionamentos – tanto que tem aversão a redes sociais – até ver o furor que uma novinha estava causando, aí resolve adicioná-la pra descobrir quem ela é de verdade. O que ele irá descobrir pode ser bem profundo e doloroso, só que o fará se lançar de vez nas redes sociais.
Prepara-se pra conflitos, emoções, confusões, ciumes, paixões e pra conhecer pessoas singulares e cheias de complexos e meio contradições, tudo isso e um pouco mais você verá em Moranguete.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.