Da terra foi tomada a Humanidade, soprando-lhe fôlego, o Eterno concedeu vida, ar, coração pulsante e movimento. Conforme seu parecer, da luz se formou sombra e a matéria imagem se tornou.
Satisfeito com sua criação, o Eterno lhe apresentou o reluzir do Sol, a marcar a passagem dos dias; o perfume das flores, trazendo delicadeza e encanto; a grandeza das árvores, com frutos pra aliviar a fome; e os pássaros, em união de cores a planar pela imensidão. Ante a visão de tamanha beleza espalhada por onde quer que mirasse, a Humanidade encheu os olhos de entusiasmo, então o Eterno mostrou o local de repouso de seu Espírito, de onde era possível saciar a sede de eternidade – implantada no interior de sua criação.
O tempo passou e a Humanidade não se cansava de contemplar toda aquela perfeição, enquanto desfrutava de tais maravilhas, até a Soberba se mostrar atraente. Ao ver refletida sua imagem, foi possível enxergar seu grau de perfeição, esse conhecimento lhe seduziu o entendimento com a percepção de haver muito mais a descobrir: era possível aproveitar pra fazer o que quisesse, assim se tornaria a própria lei – o que lhe envolveu demais com si mesma.
Esperando o Homem sair da ilusão e se voltar pra si, o Eterno ficou a contemplar a Humanidade numa distância crescente, mas a Soberba lhe afastou, ainda era cedo pra se voltar ao Criador, era preciso aproveitar tudo o que a vida ainda tinha a oferecer.
Assim, a Humanidade foi se perdendo cada vez mais, desconectada do Eterno e de sua própria essência. Então a Ganância chegou e se fez desejada, a Humanidade começou a lhe servir, até o ponto de obter características animalescas, e esquecendo princípios e valores se fez irracional pra cada vez mais aumentar seu poder e influência.
Frustrada pelo abismo que o excesso de posses trouxe consigo, ao passo que o ser parecia beirar a inexistência, a Humanidade buscou encontrar o que lhe faltava. Recordando da água do paraíso, se lançou numa busca sem sucesso, ao erguer os olhos o Vício reluziu em sua frente. Seria dali, onde conseguiria encontrar sua reconexão com sua essência e a eternidade?
Tanto tempo passou que as lembranças se tornaram névoa, mas o Vício se mostrou tão acolhedor. Corrompida, tudo pareceu ainda mais prazeroso e em sua escalada para o abismo a Humanidade se afundou mais em busca de obter sentido e felicidade, enquanto sua percepção e sentidos entorpeceram, ainda assim nada parecia o bastante: era preciso mais.
Percebendo sua necessidade de ser completa, surge a Luxúria se oferecendo pra preencher o vazio e reduzir o peso da Humanidade, lhe envolve da cabeça aos pés, e a leva a um nível de entrega profundo, onde ela se rende aos prazeres da carne. Mas, mesmo após tudo, a vida continuou sem sentido.
Cansada dessa vida, e tendo perdido a própria identidade, a Morte oferece libertação, ao sugerir botar um fim em todo aquele sofrer. Tomada pela angústia, a Humanidade tenta sair daquela situação, mas é tarde pra retornar de onde caiu, mesmo tentando sair de sua condição, a consciência de quão perdida está a leva ao desespero. Sem esperança, decide acabar com a razão de tudo aquilo: a própria vida. Não havia mais volta, aquele era o fim merecido por todos seus atos – o preço cobrado era alto, mas chegara a hora de pagar.
Prestes a acabar com tudo, se dá conta de sua comunhão perdida e tenta alcançar o Eterno. Largando tudo o que conseguiu, corre pra se lançar no amor a lhe aguardar de braços abertos.
Porém, descobre ser necessário lutar contra vícios, situações e a descrença em sua mudança. Mesmo fraca, insiste em lutar contra si, mas a guerra intensifica, o nível que havia ido de meias verdades e em prazeres corrompidos era tão fundo que não lhe era possível vencer, mesmo lutando com todas as forças ainda disponíveis em si.
Após tantas quedas, perdas e feridas, mais uma vez a Humanidade se vê no chão sem perspectiva alguma de obter vitória, e percebe que não irá obter resultado com as próprias forças. Então, se põe de joelhos, clamando pelo único que pode lhe ajudar. Ao fazer isso, o Eterno começa a guerrear contra principados e potestades que afligiam sua criação, e enquanto a sinceridade do pedido de perdão ecoa, tudo que oprimia a Humanidade é lançado por terra.
Então, o Eterno ergue a Humanidade de sua situação, limpando suas manchas, cura as feridas e traz redenção com seu sangue. Tomada pra si, ela deixa de ser criatura ao receber o direito de filiação, sendo enxertada na vida que o Eterno reconquistou, pra desfrutá-la mais uma vez ao seu lado, agora: por toda eternidade.
#papolivre
De autoria desconhecida, o esquete de Everything – coreografia criada pra música do Lifehouse – que ficou mais conhecido é a versão apresentada na Forest Hill Church, em 2008. Essa apresentação traz uma das melhores interpretações sobre o relacionamento da Humanidade com o Eterno. Partindo da criação, passa pela batalhe espiritual, e o sacrifício de D-s por nós que expressa seu cuidado – mesmo a gente persistindo no erro – e em como ele está disposto a ajudar e partir em nosso resgate, deixando todo resto pra trás [Mateus 18.10-14, Lucas 15.1-7].
O Pai sempre é o maior interessado em nos trazer de volta à redenção [1 João 4.19]. Tamanho foi seu desejo em nos ter de volta que foi capaz de entregar o próprio filho pra isso [João 3.16]. No esquete é possível ver representada, com profundidade poética, nossa capacidade de errar e a de D-s em nos trazer de volta pra si, até o momento em que irá restaurar todas as coisas [Atos 3.21].
Quando anos atrás dei vida a encenação do esquete com a galera da igreja, a experiência o tornou mais emocionante. Ele me tocou tanto que, antes de nossa última apresentação, criei uma versão escrita da coreografia de Everything. A versão final ficou menos literal a encenação, procurando ser o mais fiel possível a narrativa sem palavras, ao carregar profundidade e transferir um pouco dessa carga de emoção que pode ser vista no vídeo. Além de trazer um conhecimento maior da Palavra, também possui muito de minha experiência e de como a paciência desse D-s misericordioso é imensa [Êxodo 34.6], a ponto de lhe fazer nos aguardar em amor [Salmos 86.15] até essa perseverança resultar em salvação [2 Pedro 3.15].
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.