Pose – Depois que o olho fechou (Thriller I)
Mishael Mendes/ Inversível

Pose – Depois que o olho fechou (Thriller I)

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Apesar de ter tudo planejado, na segunda ida ao cine também rolou beijo nenhum e Jean ficou maior bolado – será que tinha alguma conspiração do universo pra fazer dar ruim toda vez?

Difícil, saber! O que houve é que ele acabou sendo obrigado a levar Kylie em casa, pois ao contrário do que ela disse, tinha maior medo de filme de terror e no meio da conversa, surge oportunidade e o beijo quase rola, só que outra vez alguém atrapalha – mas quando acontece, acaba sendo tão bom que Jean até sentiu sair do chão.

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Logo Jean chegou no ponto, a pressa nem era tanta pra fugir da chuva, já tava ensopado mesmo, mas, porque bruta como a tempestade tava, Yakut devia ter feito maior bagunça já, isso se não tivesse escondida na cama ou guarda-roupa dele – os locais mais sossegados e preferidos dela.

Pouco tempo ali, passou um carro na maior velocidade levantando a água acumulada no chão que esguichou com tudo pra cima dele, em seguida vinha passando um coletivo que nem parou quando ele deu sinal.

— Poxa, que acontece que ninguém para aqui? – Ele perguntou após conseguir pegar o quarto busão, isso porque praticamente se jogou na frente dele.

— É que esse ponto é bem perigoso.

O coletivo tava bem vazio, mas quem tava ali ficou olhando ele todo molhado. Ignorando as caras feias, Jean aproveitou a quantidade de lugares vazios pra escolher uma boa cadeira, a maioria perto da janela tava molhada, apesar das janelas tarem fechadas.

“A chuva deve ter pegado o coletivo de surpresa também!”

Ele acabou sentando mais ao fundo, na segunda cadeira alta, perto da janela, o lugar escolhido parecia mais encharcado que os outros, mas ele já tava ensopado mesmo, que diferença ia fazer?

Encostando a cabeça na janela, ficou vendo as casas e prédios se mover, enquanto a distância de casa ia encurtando, mas o temporal não quis saber de trégua.

Quando Jean abriu os olhos, percebeu que seu ponto era o próximo. Ele tinha esse problema, era entrar no coletivo que o sono se apossava dele, aí mesmo molhado, cochilou, mas só se deu conta disso ao despertar.

“A maneira mais segura de evitar a entrada de algo externo é fechando a porta por dentro, qualquer outra medida é paliativa e a invasão pode ocorrer.”

 Assim que desceu, a impressão foi da chuva ter apertado mais, ele saiu correndo, sua casa era duas quadras à frente.

O céu enegrecido, parecia ter sido engolido pela escuridão, a única luz que surgia furtivamente vinha dos raios, que serviam apenas pra dar tons mais sombrios, já a iluminação fraca dos postes ajudava quase nada, a claridade aparentava já ter se rendido as trevas.

— Será que hoje teve eclipse? – Jean se questionou ao perceber que a lua não tava no céu.

Talvez ela tivesse brincando de esconde-esconde, enquanto o céu disparava a chorar, em gotas intermináveis – ele devia tá sofrendo pakas, mas será que ia conseguir aliviar tanta dor?

O fato é que não havia a menor perspectiva que a chuva fosse parar tão cedo ou se isso fosse acontecer, parecia mesmo que o céu ia se desfazer em pesadas gotas que caíam violentamente.

— CA-BRUUUUMMMM! – O trovão soou forte.

Jean estava prestes a pegar na maçaneta da porta, mas puxou a mão de volta pra evitar choque.

Assim que abriu a porta, Yakut tava toda agitada, com miados de dor e olhões, como se dissesse “Té que fim, né? Maior maldade demorar desse jeito, cê sabe que esses coisas barulhento me assusta!”

Engraçado que mesmo com todo aquele barulho ela ouviu os passos dele e foi esperá-lo na porta da sala, como costumava fazer. Não importava a hora que ele chegasse, ela sempre ia recebê-lo – Jean costumava dizer que ela era mais cachorro que gato, porque além de esperar por ele na porta, tinha mania de lambê-lo e ficava todo contente quando tinha visita em casa – mas dessa vez ela pareceu diferente.

— CA-BRUUUUMMMM! – O som, como se o céu tivesse sendo rasgado a marteladas, fez uma luz azulada surgir por trás de Jean que, em contraste com a sombra na frente dele, criou uma imagem bizarra e Yakut deu um pulo pra trás.

— Mon-raawww! – Ela emitiu um miado diferente e feio, ficando em posição de ataque e os pelos tudo arrepiados.

— Yakut, precisa de todo esse medo não! É o Jean. – Ele estendeu as mãos na direção dela.

Como ela não se aproximou, ele abaixou pra pegá-la, mas ela ainda tava desconfiada, devido à insistência ela foi se aproximando lentamente, até ele a pegar nos braços. Ao passar frente ao espelho mal se reconheceu, da penumbra viu o quanto tava bagulhado.

“Ligação acaba sendo intrusiva, já que força dar atenção no mesmo momento e se a pessoa não puder atender na hora?”

Pôs Yakut no chão e já foi tirando a roupa, enquanto subia as escadas, rumo o banheiro.

— Mon-raawww! – Ela miou feio novamente, ao olhar pra baixo, Jean viu que tinha esquecido a porta aberta.

— Mals aí, bebê! Valeu por avisar. – Ele a fechou com chave e ferrolho.

Não que ele fosse impressionável, mas no clima estranho daquela noite era bom precaver, ainda mais porque a casa não tinha paredes baixas e uma porteira – a maneira mais segura de evitar a entrada de algo externo é fechando a porta por dentro, qualquer outra medida é paliativa e a invasão pode ocorrer.

O frio começou a querer roubar o calor do corpo dele e, sentindo um arrepio, Jean correu pro banheiro, jogando a roupa molhada do lado de fora. Ao entrar embaixo da água quente a sensação reconfortante foi imediata.

Tudo bem que a água gelada era uma delícia – fazia tempo que ele não tomava banho de chuva, a última vez devia ter sido por volta dos quatro anos, já que, com medo dele adoecer, era raro a mãe permitir isso – mas nada como uma boa ducha quente depois.

Jean aproveitava o banho, quando a luz começou a piscar lentamente, impressionado, ficou olhando aquilo, então a claridade aumentou tanto que ele não conseguir manter a cabeça erguida, aí tudo escureceu. Esfregando os olhos, ele constatou que não conseguia enxergar direito.

O clima só não ficou mais Psicose devido à chuva e ao trovão berrar a plenos pulmões.

— Poxa, não creio que não vô conseguir terminar o banho!

Foi aí que algo meio gosmento e gelado começou a cair, passando pela cabeça dele, desceu pro resto do corpo, uma luz azul invadiu o banheiro e um trovão ensurdecedor o forçou tapar os ouvidos.

Erguendo os olhos, viu que o líquido era escuro, um clarão iluminou tudo, indicando a volta da energia. Quando a água esquentou novamente, ele olhou assustado, mas o aspecto dela estava normal, daí terminou de se banhar.

Jean saiu se secando, então começou a ouvir uma música estranha, vinda de algum lugar na casa, mesmo com todos os efeitos sonoros da tempestade, aquele som distinto se fazia escutar, então algo passou por suas pernas, assustado ele tacou a toalha.

“O medo é proporcional a importância que recebe e, sendo energia, pode alimentar e até materializar coisas ruins.”

— Miau? – Yakut pulou a tempo de escapar e olhou pra ele perguntando por que tinha feito aquilo.

— Brota assim do nada não, bebê! Cê não tá ouvindo essa música estranha?

Ela miou novamente e olhou na direção da escada.

— Verdade! – Ele aproveitou pra pegar as roupas molhadas e as levou pra baixo.

Jean tinha esquecido de ter colocado o Mi Note em cima da mesinha perto da porta, assim que entrou – aposto que cê também, nem eu lembrava mais disso.

— Alô? – Ele aguardou a resposta, mas tudo que escutou foi uns chiados estranhos, esperou mais alguns segundos e ouviu o silêncio lhe ignorando. – Alô? Alô? – Como não ouve resposta finalizou a ligação, irritado.

Enquanto colocava a roupa no varal – na parte de trás da casa, que podia ser acessado por uma porta na cozinha – um trovão rugiu, então a música assustadora começou a tocar de novo.

— Aaaaah! – Ele deu um pulo. – Acho que tá na hora de trocar o toque de chamada.

Naquele clima medonho pareceu nada inteligente colocar “The Murder”, a música mais famosa da trilha sonora de Psicose, pra tocar quando alguém ligava – coisas de geek. Tudo bem que até era divertido quando algum desconhecido ouvia o som e se assustava, mas ele começou a achar aquilo não tão engraçado assim.

Ele pegou novamente o celular e atendeu, enquanto terminava de pôr prendedor nas roupas, foi aí que um som, como se fosse de respiração, soou, ele até aproximou mais o aparelho pra ouvir melhor, foi quando teve impressão que alguém – ou algo – estava bem perto, aliás, atrás dele, perto do cangote, respirando, quando o ar quente tocou-lhe a pele, um arrepio surgido da espinha fez os pelos ficar em pé.

O medo é proporcional a importância que recebe e, sendo energia, pode alimentar e até materializar coisas ruins, mas Jean não tava com assustado a esse ponto, não até sentir alguém fungar nele – pelo menos foi o que achou, nessa altura do campeonato ele já não tinha mais certeza nada.

— CA-BRUUUUMMMM! – Um trovão, seguido de um raio que se ergueu do solo, iluminou a rua e ele conseguiu ver que havia alguém no orelhão da esquina.

Maior temporal

Ou foi o que pareceu, a silhueta tinha contornos humanos, mas estava escura ao ponto dele não conseguir vir o rosto dela. Jean forçava os olhos, quando outro raio caiu, daí tudo que deu pra ver foi o telefone balançando fora do gancho, ao aproximar o celular do ouvido escutou apenas o tom de chamada encerrada.

Rapidamente ele fechou a porta e começou a andar com mais cautela, olhando pros lados. A casa tinha adquirido um ar sombrio e a escuridão só piorava isso – a penumbra fazia qualquer coisa adquirir contornos assustadores.

— Peraí, por que tô mesmo no escuro? – Ele se dirigiu pra tomada, mas quando apertou o interruptor deu em nada. – Ah, tá! É por isso, então. – Tão distraído ficou que nem percebeu que a luz tinha acabado outra vez.

Daí ele subiu as escadas, recolheu a toalha e foi pra quarto.

— Vruruuum! Vruruuum!

— Aaaaaah! – Ele jogou soltou o que tava na mão ao sentir algo vibrar.

Só quando olhou pro chão, viu que era o celular, ele tinha justamente colocado a coisa pra vibrar pra não levar mais susto com a música medonha, mas sobressaltado como tava, fazer isso adiantou em nada.

Jean pegou o Mi Note usando apenas o indicador e o polegar, como se ele fosse radioativo ou pudesse materializar qualquer coisa ruim que tivesse nas sombras, e o lançou em cima da cama. Daí ficou olhando ele se mexer e gemer várias vezes, até resolver pegá-lo, mas quando botou o celular no ouvido a ligação havia sido encerrada.

Assustado, Jean foi andando lentamente, como se qualquer barulho pudesse despertar as criaturas da escuridão e colou na janela, abrindo a cortina apenas o suficiente pra vista alcançar o orelhão.

— Uffa! – Ele respirou aliviado ao ver que o fone continuava pendurado ao sabor do vento.

Ao apertar o botão pra finalizar a ligação, o celular voltou a vibrar no mesmo instante, daí que ele sentou na cama, determinado a ignorar quem quer que fosse.

Dessa vez quem ligava resolveu insistir, Jean fingiu que tava nem vendo ou ouvindo, mas os urros incomodaram tanto que o olho começou piscar involuntariamente.

E se foram os pais ligando pra falar algo importante? Se bem que, pra isso, podiam mandar mensagem – embora Borges preferisse ligar, ele achava mais fácil conseguir contato dessa forma, só que ligação acaba sendo intrusiva, já que força dar atenção no mesmo momento e se a pessoa não puder atender na hora?

Refletindo

Podia ser o pai, assim como qualquer outra pessoa, embora a insistência parecia afirmar se tratar de Borges, mas quem quer que fosse já tava estressando.

— Ah! – Irritado, ele berrou, então o celular parou de gemer, ficando quietinho, o único barulho vinha lá de fora. – Quem te vê assim, nem imagina que cê mete maior estresse.

Jean levantou, respirou fundo, olhou pela janela e viu que, por incrível que pudesse parecer, a chuva tava chegando ao fim – teria o céu encontrado a terra?

Apesar disso o tempo continuava nublado, cheio de nuvens negras, sem resistir, ele baixou o olhar pro orelhão, só pra ver que o telefone não tava mais pendurado.

Jean botou uma samba-canção, esticou-se espreguiçando folgadamente e se jogou na cama pra relaxar um pouco. Ainda tava bastante escuro, mas pelo menos não tinha mais todo aquele barulho assustador e isso o fez se sentir mais aliviado, então o telefone volta a vibrar.

Cansado de palhaçada, ele pegou o Mi Note com tudo e foi pra janela, ao abrir a cortina com tudo, revelou que aquela coisa tava novamente no orelhão, só que dessa vez aquilo sorriu pra ele – Jean não soube como, já que não dava pra ver nada além de escuridão vindo daquilo, mas sentiu aquilo sorrindo pra si.

“Maldita hora que abri essa janela!” – Foi o único pensamento que passou na mente.

Embora não quisesse continuar a olhar aquilo, os olhos fixaram naquele ponto, sem poder desgrudá-los dali e cheio de receio – na verdade, ele tremia feito vara verde – atendeu o telefone.

— Meu… – A voz fraquejou, mas ele se controlou pra demonstrar pulso firme. – Se cê não tem o que fazer, vai incomodar outro e para de me ligar…

— Jean? – Ao ouvir o próprio nome ser pronunciado numa voz estranha, meio falhada, o sangue congelou na hora.

Então o vulto lá fora pareceu se desfazer, virando fumaça, nisso a noite escureceu ainda mais, logo a escuridão começou a aumentar no quarto também, tanto que ele mal conseguiu enxergar qualquer coisa além de trevas.


#proximoepisodio

Com certa dificuldade, Jean resolve atender o celular, mas o que consegue com isso o deixe mal, pior ainda quando descobre quem é do outro lado – parece que ele não sabe que não se deve fazer isso quando tá maior clima de terror. Mas se a ligação foi perturbadora, a coisa só piorou quando Yakut começou miar de novo daquele jeito assustador.

Procurando saber o que tava assustando a gata, ele chegou na cozinha que tava maior bagunça, mas isso não foi nada diante daquele “sonho” – será que foi só isso mesmo? – assustador que ele teve, mas quando pensou estar livre de espanto noturno algo medonho surge do meio da escuridão.

Ósculos e amplexos,

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