Interrompido – Zerando a vida (Episódio 07)

Interrompido – Zerando a vida (Episódio 07)

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Como se nada do que passou fosse suficiente, Lourdes descobre que o marido lhe esconde algo e isso a assusta. Antes de ver o filho, ela perde a consciência e após melhorar precisa voltar pra casa e enfrentar a mídia que os aguarda.

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Quando Nandinho e os amigos saíam o sol alcançava o ponto mais alto do céu, um tempo daqueles significava ótimos momentos na praia, ao invés disso eles estavam indo trampar – mesmo envolvendo entretenimento ainda era trabalho. Fazia uma carinha que não viam a cor do mar, porque quando não estavam no corre, era o cansaço que atrapalhava.

Mesmo o evento começando a noite, como o caminho até BH levava mais de oito horas, era preciso sair cedo – até dava pra ir um pouco mais tarde, mas Nandinho fazia questão de chegar antes pra conferir os detalhes.

Um dia lindo daqueles – em que a gente se espreguiça bem e se inspira imaginando como aproveitá-lo melhor – dava era pra se curtir, mas passar tanto tempo naquele carro acabava sendo uma experiência escaldante.

— Ainda mais porque “alguém” não arrumou o ar-condicionado. – Lucas falou, como quem não queria nada.

— Que adianta ter conversível sem ar-condicionado? – Tiago reclamou, sem poder com o calor. – Não dá pra saber se é pior o teto solar aberto ou fechado. – Ele se abanou, a ponto de derreter.

— Pô, cês reclama, hein!? – Nandinho se enfezou. – Cês sabe que não tive tempo de ver isso essa semana e, outra, a gente mora tudo junto e todo mundo usa a laza. Vai dizer ninguém se tocou?

“Ter contatos é o segredo de qualquer negócio bem-sucedido, ter os certos, então, é o que possibilita alcançar novos patamares.”

— Primo, cê não pediu pro Tiago ver isso? – O comentário o fez recordar.

— Verdade, Dani! – Nandinho olhou o amigo pelo retrovisor, arqueando as sobrancelhas. – E aí, cabeça, por que não fez isso, hein!?

Tiago tentou explicar, mas gaguejou e se atropelou todo, do banco da frente Lucas se esticou pra cutucar o amigo e dar uns pedalas. Com a agitação bateu no braço de Nandinho fazendo o carro ir com tudo pro acostamento e eles foram jogados pra direita.

— Meu, cês não sabe levar nada a sério!? – Nandinho reclamou após recuperar a direção. – Isso que dá andar com criança! Por que cês não pode ficar de boas, igual o Dani, nem parece que ele é o novinho aqui. – Foi terminar de falar e os amigos caíram na risada.

— Falando assim té parece que ele é o mais adulto! – Lucas zoou.

— Tô dirigindo, pai! A vida de cês tá na minha responsa, não dá pra brincar. – E deu o assunto por encerrado.

Percebendo a seriedade do momento, os garotos ficaram cada um no seu quadrado. Mais alguns quilômetros e Tiago voltou a resmungar, apesar de quieto, Lucas também já não aguentava mais a temperatura, só Dani parecia se divertir, olhava tudo com deslumbre – recém-chegado do nordeste, era acostumado ao calor brabo.

Foi então que Dani lembrou de algo e abriu a mochila, tirando uma garrafa de água traga congelada – na temperatura certa até pedra de gelo ainda tinha.

— Pegaí! – Solícito, ofereceu.

— Leke, cê é zika memo! – Tiago ficou todo feliz, mas antes de alcançar a garrafa, Lucas foi mais rápido e a tomou.

— Primeiro os mais velho! – Ele sorriu com malícia.

— Pô! Maior caô isso! – Tiago resmungou e cruzando os braços virou de lado, bicudo, enquanto colocava a cabeça fora da janela. Segundos depois algo meio quente, meio gelado, desceu bunda a baixo, fazendo-o pular.

“Coisas boas acontecem a quem se dispõe buscá-las, mesmo parecendo complicadas.”

— Que fita errada é essa!? – Assustado olhou pro lado, Lucas despejava água dentro de seu short. – Tá pinéu, tio!? – Ele ficou muito macho.

— Pra vê se apaga esse fogo na raba! – Lucas rachou de rir.

— Se fosse isso era mais fácil resolver, parça! – Aproveitando o amigo que se rachava deu o bote na garrafa, puxando-a pra si.

— Cê nem pode reclamar, parcinha, a culpa é.. – Ele não conseguiu terminar, a água jogada por Tiago entrou pela boca e por pouco ele não se engasga.

— Dá pra parar de patifaria aí ou não?! – Nandinho ordenou sério, com os olhos na direção. Lucas e Tiago se entreolharam na maldade, antes do amigo se dar conta, o mais novo despejou o conteúdo da garrafa dentro de sua camiseta.

— AAAH! – Ele berrou. – Seu filho de uma mãe boa… que não merecia um desgosto desses de filho! – Os moleques riam de se mijar, sem conseguir parar.

— Cês cabô tudo com a água, poxa! – Dani ficou desapontado.

— Cabô não! – Sem Dani esperar Tiago jogou o resto na cara dele. – Agora sim!

Desse jeito a água se foi mais rápido do que se tivesse evaporado, o lado bom é que todos se refrescaram um pouco, sem nada pra beber a sede continuou. Pra evitar pneumonia Nandinho abriu o teto solar e logo eles secaram.

A sede nordestina era tanta que quando o primeiro posto apareceu o X6M Black mal parou e os quatro saltaram em direção ao bebedouro, se atropelando, num empurra-empurra porque quem começava a beber não queria parar. A galera no posto ficou impressionada com o grau de mundiça dos playboyzinhos; os garotos nem ligaram, acostumados a situações mais constrangedores aquela era fichinha.

Afogada a secura a lhes corroer a alma, pegaram água, isotônico, gelo, cooler e petiscos que deviam ter trago de casa, ao invés de comprar pelo caminho e pagar caro.

— Mas… advinha quem esqueceu de novo? – Lucas encarou Tiago, fazendo cara feia.

— Quem mais seria? – Dani perguntou, rindo pro amigo.

— Você, pai! – Tiago apontou o acusador.

— Quem? Eu? – Lucas ergueu a sobrancelha.

— Você! – O garoto estava convicto.

— Eu não! – Ele insistiu.

— Foi sim! Quem roubou o pão na casa do João, comeu tudo e ainda esqueceu de comprar as coisas.

— Tá pinel!? Quem sempre compra os bang é cê, Jão! – Lucas pôs o dedo na cara dele.

— Como eu tava ocupado com as artes, te pedi pra fazer isso. Cê até concordou!

— Éeee… lembro disso não… – Lucas franziu a testa, puxando pela memória.

— Ele pediu na hora que cê tava com os contatinhos. – Dani lhe refrescou a memória.

— Culpa sua que fala quando tô nos esquema! – Não conformado de estar errado, deu um pedala no amigo.

— Ai! Ai! – Tiago esfregou a nuca. – Cê que tem que prestar atenção, peste!

— Ah! Achei que era nada de importante, só concordei pra cê calar a boca e não atrapalhar.

— Cês já acabaram a DR aí ou a gente vai precisar do dia todo pra isso? – Nandinho colocou a cabeça pela janela, acelerando os garotos pra entrar no carro.

Muito melhor

Abastecidos e com as intrigas resolvidas – pelo menos aquele momento – pegaram a estrada. Os moleques estressavam Nandinho, mas ele amava a família a qual escolheu pertencer. Por falar em família, desde que veio pra São Paulo ele não via os pais, se bem que os progenitores costumavam ser ausentes devido à rotina de trabalho.

Começar a fazer jiu-jitsu acabou por aumentar a distância entre eles, mas agora tudo ficara pra trás, até a prática esportiva que adorava, como a modalidade de luta não se encaixava na nova rotina teve que largá-la, pra manter a forma passou a malhar e fazer natação, que lhe serviam de terapia permitindo botar ordem nos pensamentos.

Quando saiu do nordeste, com a cara, a coragem e uma vontade de vencer – algo ocorrido aos dezesseis, já que por lá a emancipação vinha bem mais cedo – a intenção era aparecer de vez em quando, daí precisou juntar grana, então outras coisas lhe tomaram o tempo, os amigos se tornaram a família que precisava e sem perceber ele foi ficando.

Nandinho saiu, tendo como destino Araraquara, porque mesmo longe da capital, ainda era São Paulo e como a cidade estava em expansão teria várias oportunidades de trabalho – ele acreditava que coisas boas acontecem a quem se dispõe buscá-las, mesmo parecendo complicadas.

Não foi difícil arranjar emprego, ele começou a trampar numa metalúrgica e alugou uma casa bacana. Comunicativo, fazia amizade onde chegava e percebeu que a queixa da geral era sobre o lugar ser parado, sem evento nenhum, a cidade mais próxima com algo era Barretos, ainda assim não era sempre que tinha show lá.

Desenrolado e como sempre gostou de festa, Nandinho aproveitou os contatos e passou a organizar resenha. Não dava pra descolar muita grana, mas a diversão de fim de semana estava garantida – assim foi pegando as manhas e ganhando o apelido de Nandinho Baladas.

Sedenta a galera espanou e as resenhas ganharam fama de fechar a rua, mas quando isso aconteceu já não dava mais grana, então ele ouviu falar de rave, algo novo no país e que começava a pocar, principalmente em Belo Horizonte, onde baladas desse tipo se tornavam comuns, crescendo em ritmo acelerado por sítios locais e interior de Minas.

Aproveitando a oportunidade, Nandinho pesquisou tendências e fez laboratório nas maiores raves, como XXXPerience, Spirit of London, Dream Valley – sua preferida era a Tomorrowland, que o transportou pra um mundo de possibilidades. Com tudo que vivenciou, ele uniu forças aos amigos que ajudavam nas resenhas, designer gráfico Tiago ficou responsável pela comunicação visual e o relacionamento nas redes sociais, a Lucas coube o fornecimento de insumos, assim passaram a produzirem uma das melhor raves.

Um dos atrativos de uma rave que se prese é a lineup, por isso a lista nunca era revelada por completo, deixando o DJ in the box – como ficou conhecida a atração surpresa, representado por um cubo com interrogação, ao estilo Super Mario – ser anunciado na balada. Nem sempre o DJ era conhecido, mas apenas os melhores assumiam a pick-up nos últimos instantes, após um imenso relógio digital zerar a contagem.

Essa ação se mostrou sucesso, a expectativa gerada prolongava o interesse resultando num engajamento que lotava as edições, além de manter a galera até os últimos minutos. Ainda assim a atitude era incomum, como no final geral estava bem louca, as raves costumavam botar algum DJ mediano pra fechar.

A atenção aos detalhes fazia diferença na hora de proporcionar a experiência que garantiria o retorno da galera, tornando cada edição mais frequentada e uma arrecadação que não parava de crescer. Com isso, comprou uma goma ampla, com piscina e churrasqueira, e como era apaixonado por carro: ostentar os últimos modelos de BMW. Numa realidade melhor, Nandinho trouxe o primo, ao qual considerava o irmão mais novo – com o caminho aberto, as coisas seriam mais fáceis pra Dani.

O resultado de tudo funcionar com perfeição se dava a ralação dos garotos fosse caçando DJ, organizando insumos, divulgando e fazendo relacionamento pros próximos eventos. Além disso, Nandinho ainda tinha a facu de relações internacionais pra terminar de lhe sugar o tempo e energia restantes.

Quando o BMW encostou na fazenda, próxima ao centro, a noite – que já virara adulta suficiente pra saber curtir – começava a dar as caras, prometendo fortes sensações. Mesmo a balada começando mais tarde, a fila se formava na bilheteria, geral sabia valer a espera, uma vez lá dentro a curtição ia até o dia raiar, ainda mais porque segunda era aniversário de BH, o que significava curtição até não poder mais.

Rave

Era maior orgulho ver tanta gente, isso significava que eles vinham fazendo ótimo trabalho. Ter contatos é o segredo de qualquer negócio bem-sucedido, ter os certos, então, é o que possibilita alcançar novos patamares, se Nandinho não tinha conexão direta sabia quem conhecia os DJ’s, estourados ou não, que faziam a galera pirar.

“Geral vai pirar com o DJ in the box dessa edição!” – Nandinho riu, aquela era a lineup mais insana que já montara, aquela rave seria inesquecível, deixando sua marca na história das melhores baladas já produzidas.

No começo, a rave acontecia a cada três meses, até a demanda reduzir o tempo pra um mês chegando a acontecer quinzenalmente, cada uma com temática diferente. Foi quando descolou grana suficiente pra comprar o sítio onde os eventos aconteciam. Cedido por Ricardo Pessoa, que curtia as raves, o aluguel saía na faixa, motivo de demorar menos pra juntar grana e obter a posse do local.

Como dinheiro não era problema, o amigo disse pra não se preocupar, diante da insistência de Nandinho em saber o preço ele lhe passou um valor abaixo do mercado; após obter a escritura, o nome do parça foi pra lista VIP permanente. A atitude estratégica assegurou a ótima localização e que as edições continuassem acontecendo no local que ficara conhecido como residência fixa da rave, sem depender de favor.

O próximo passo foi comprar os melhores equipamentos dependendo menos de fornecedores, assim dava pra alugar o espaço pra outros eventos e conseguir uma grana boa. Como tudo começou a se consolidar, largando a facu que começara por achar que trabalhar com eventos era instável e que não dava pra seguir carreira.

Quando o DJ assumiu a pick-up, as batidas se propagaram no ar, criando uma atmosfera maravilhosa, a vibração ecoada converteu tudo numa energia contagiante a fluir pela galera. A sensação proporcionava um prazer indescritível, no qual Nandinho viciara. Aquele momento mostrava que todo esforço valera, suas forças eram recarregas, zerando a vida, preocupações, cansaço e ele podia reiniciar com nova disposição e empenho redobrado pros desafios e realizações ainda por vir.


#proximoepisodio

Nas redes sociais, onde seguidores se amontoam aos montes, Nandinho compartilha felicidade e ostentação. Só que a felicidade registrada não passa de filtro pra ocultar o que realmente grita por atenção em sua alma.

Conheça a história com acontecimentos inéditos e um episódio extra!

Ósculos e amplexos,

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