#episodioanterior
Nandinho cria uma das maiores baladas, mas o que rendia grana mesmo era algo que deixava a geral ligada. Só que toda grandiosidade escondia problemas e conflitos que ele fazia o possível ocultar.
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Assustado com o gosto ruim e a queimação, Dani devolveu a latinha na mesma hora. Ao vê-lo cuspir o líquido, a galera riu e alguém disse que o lança não era pra beber, mas inalar com o nariz ou a boca, mesmo depois do rápido tuto e com a geral dizendo o quanto a onda era gostosa e refrescante, depois da experiência desagradável preferiu recusar.
— Como chego numa cocota? – Dani aproveitou pra saber, assim que Tiago reapareceu.
— O segredo da conquista está nos olhos, com eles é possível dizer intensas verdades. Se você olhar uma cremosa e ela corresponder, chega dançando, se ela sorrir, mete logo beijo. – Ele gritou pra se fazer ouvir.
Foi Dani virou pra frente e viu maior gata, a garota parecia modelo; ele teve certeza de não a ter visto antes, talvez ela tivesse sido escolhida só agora – segundo o primo as pessoas mais bonitas eram selecionadas pra ocupar a área VIP.
Ele ainda a admirava quando ela olhou pra si, pego de surpresa, por não esperar ser notado em meio a tanta gente e com caras mais interessantes que ele, Dani ficou sem reação, mas tentou fazer como Tiago aconselhou, o problema é que o nervosismo o atrapalhou e só conseguiu dar um sorriso meia boca, então a garota se encostou. Ao vê-la perto, olhos nos seus, ele soube o que fazer, a puxou até os corpos colarem e sorrindo se beijaram com avidez.
“Sensação do incomensurável pode envolver corpo e mente de quem ousa experimentar o inconvencional.”
— Sou o Dani, qual seu nome? – Ele encostou no ouvido dela.
— Monica! – Foi a resposta. – Você é uma gracinha – E elogiou sorrindo, assim que se afastou.
— Para! Cê é mó princesinha! – Ele ficou constrangido.
— E aí, de onde cê é? Nunca te vi por aqui.
— Ah! Moro em São Paulo, vim com meu primo. – Sentindo-se mais a vontade, ele começou a puxar conversa com a gata, afinal, queria conhecê-la melhor. – Cê vem sempre?
— Não perco uma edição! – Ela sorriu, ficando mais atraente. – É meio que um ritual pra recarregar as energias, mas nunca consigo chegar cedo porque trampo até tarde.
— Sério? Que cê faz? – Ele ficou cheio de curiosidade.
— Sou modelo! – Ela piscou pra Dani.
— Logo vi, gata assim, só podia! – Ele elogiou, babão, era mesmo muita sorte que tinha.
— Zoeira! – Ela riu gostoso. – Trabalho no aeroporto de dia e cubro eventos a noite.
— Mas isso não diminui o fato de você ser incrível! – Ele se admirou dela ter dois empregos. A real é que qualquer coisa dito por ela teria o mesmo efeito, Dani estava encantado total.
— Bobo! – Ela sorriu, sem jeito, ficando mais fofa, tanto que Dani não resistiu e a beijou. Daí continuaram no maior papo, até Monica desviar a atenção, olhando fixo pra trás de Dani e sorrir. Arqueou as sobrancelhas ele se virou pra ver quem roubava a atenção de sua mina e viu o primo se aproximar só sorrisos, antes poder dizer algo, a garota disparou na direção de Nandinho e lhe agarrando o pescoço meteu um beijaço nele.
“O segredo da conquista está nos olhos, com eles é possível dizer intensas verdades.”
— Bom te ver, Nandinho! – Ela estava só fazia sorrir.
— O prazer é todo meu! Você sempre é um colírio pros meus olhos.
— Ai! Você é mesmo um fofo! – Ela riu, enquanto acariciava o peito dele.
— Pensei que cê não fosse vir.
— Acha mesmo que eu ia perder? – Ela pegou no queixo dele, movimentando-o como se ele fosse criança. – É que o evento que cobri foi até tarde.
— Fico feliz que veio. – Ele sorriu, galante. Os dois não desgrudavam os olhos um do outro. – Vi que já conheceu meu primo, o… – Ele olhou em volta. – Dani, onde cê vai? – Nandinho berrou ao vê-lo se afastar, então foi atrás dele e, abraçando-lhe o pescoço, o trouxe de volta.
— Bem que ele tava me parecendo conhecido, é um fofíneo, igual você. – Mônica sorriu, apertando a bochecha de Dani que ficou maior sem graça.
— Mals aí, primo, não sabia que ela era sua mina! – Ele logo tratou de se desculpar, de onde vinha se meter com mulher comprometida dava até morte [Provérbios 6.29,34].
— Minha mina? – Monica e Nandinho se entreolharam e caíram no riso, deixando Dani sem nada entender. – A Monica é só minha amiga, cabeça.
— Mas, cês tavam se beijando! – Ele estava mais perdido que cachorro em dia de mudança.
— Digamos que a gente tem uma amizade colorida. – E sorrindo piscou pra Monica que retribuiu a piscadela com um sorriso cumpliscente.
— Então, cês não tão juntos? – Dani ergueu a sobrancelha, ainda incrédulo.
— Não! – Nandinho riu. – Cê acha que não te vi nos amasso com a Monica? – Ao ouvir isso, Dani sentiu a bochecha enrubescer. – Por isso vim aqui, tinha que ver de perto. Tu sabe mesmo escolher e eu achando que cê era mó jacu. – E cascou de rir.
“O tempo é mesmo capaz de fazer mudanças e algumas acabam sendo inesperadas.”
— Trouxa! – Envergonhado, foi tudo que conseguiu dizer, felizmente as luzes coloridas ajudaram a disfarçar as bochechas coradas.
— Se quiser posso começar a tiras as fotos, Nandinho, meu equipamento tá lá no carro.
— Depois, Monica, primeiro a diversão. – Ele sorriu. – Cê também! – Nandinho olhou pra Dani. – Relaxa, cê tá em boas mãos. – Ele confessou antes de se afastar, piscando.
Dani se sentiu aliviado quando Nandinho se afastou, ele já achara que as chances com Monica haviam ido ladeira abaixo quando viu os dois se atracando, daí ficou sem graça e vazou pra não ficar de vela. Agora que tudo fora esclarecido, aproveitou pra beijá-la com mais desejo.
“Acho que a mudança fez bem pro Dani.” – Nandinho se afastou contente, o primo era mais ligeiro do que parecia. – “É, acho que ele cresceu mesmo!” – Era engraçado aquilo.
Ao partir, lembrava de deixar uma versão baixinha, catarrenta e acanhada, então o garoto espichou, ficou bonitão e agora estava com maior cremosa. Tal foi a mudança que nem o reconheceu quando Dani chegou de viagem.
Ocupado pra buscá-lo, pediu pra Tiago ir, como o amigo costumava ser descabeçado mandou Lucas junto pra evitar confusão. Daí os amigos chegam com alguém diferente, antes avisar haverem trago o primo errado, o garoto lhe deu maior abraço.
— O tempo é mesmo capaz de fazer mudanças e algumas acabam sendo inesperadas. – Nandinho comentou enquanto fazia Stories, com Dani e Monica ao fundo, nos amassos. – Precisava registrar, isso é muito inusitado! – Ele riu, enquanto grava o vídeo.
Ao som de músicas psicodélicas, Nandinho curtia uma viagem carregada de boas sensações, quando viu Tiago estranho, meio grogue, então encostou e perguntou se ele se sentia bem.
— Tô meio zonzo, querendo vomitar. – Ele alertou, já branco.
Assustado, Nandinho pediu pro primo e Lucas esperar que logo voltavam, então levou Tiago pro fundo, onde ficavam as lixeiras e disse pra vomitar.
— Acho que passou! – Tiago deu um sorriso débil, após alguns instantes.
Eles voltaram pra área VIP e Nandinho foi curtir, até Tiago lhe puxar o braço, dizendo estar com o estômago embrulhado outra vez. Daí foram pro fundo, mas após ficar parado na frente do tambor de lixo, disse estar melhor e retornaram.
Dessa vez, Nandinho ficou de olho, segundos bastaram pro amigo correr pro fundo e se agarrar na lixeira, foi a música alta repercutir pelo corpo que a ânsia de vômito aumentou; cada batida socava seu estômago, deixando Tiago mais agoniado e cada vez que respirava o mal-estar piorava.
— Coloca o dedo na garganta! – Nandinho aconselhou ao se aproximar. Com nojinho ele preferiu continuar tentando, porém, apesar da náusea forte, nada saía. – Faz logo, garoto, cê vai ficar melhor! – Nandinho insistiu. – Cê só precisa vomitar.
Zonzo, a cabeça doendo e o estômago prestes a sair pela goela, Tiago não conseguiu vomitar mesmo após várias tentativas, então resolveu usar o dedo; a custo da garganta arranhada, vomitou. E se preparava pra voltar, quando veio a vontade outra vez, mas dessa o jorro saiu espontâneo.
Depois vomitar bastante, a ânsia sumiu, uns garotos que passavam, ao vê-lo naquele estado, perguntaram se estava tudo bem e se precisava de ajuda, Tiago disse estar melhor, então lhe ofereceram água e chiclete aceitos de bom grado pra tirar o gosto ruim. Recuperado e cheio de energia, saiu dançando até chegar na área VIP – Tiago só queria saber de curtir.
Parado, Nandinho ria, enquanto via o amigo se afastar contente – esse era o jeitinho Tiago de ser, elétrico esquecia todo resto. Como não precisava mais bancar babá aquela noite, já que Dani estava de boas – até demais – foi pra pista, onde a galera fervia.
Se na onda do Key, ele curtia pakas, quando a bala bateu tudo ficou mais intenso e prazeroso, enquanto a música lhe acariciava a pele, as luzes ficaram vivas e divertidas, até se tornarem fortes demais, então botou os óculos – já cantava Raul “quem não tem colírio, usa óculos escuros”, ou seja, além de proteger a visão, o acessório também servia pra esconder o olho estalado.
Uma onda de felicidade o invadiu, o abrindo a plenitude com a vida, o universo e geral ali, tudo estava conectado e ele cercado de irmãos a viver num mundo inundado de paz. Cremoso, Nandinho saiu abraçando quem encontrou pela frente; tanto carinho se dava ao prazer proporcionado pelo tato apurado, bastava tocar ou ser tocado pra profundas sensações despertem.
Todo bem-estar era devido à balinha que liberava uma quantidade absurda de serotonina, amplificando a sensação felicidade e sociabilidade, além de aguçar a percepção sensorial e a capacidade associativa do cérebro, proporcionando experiências psicodélicas; enquanto o sistema motor ficava flexível, facilitando os movimentos de dança.
Só que o uso contínuo de balinha, num curto espaço de tempo, desregula os níveis do hormônio, causando tristeza e depressão prolongadas, necessitando de um intervalo de 1 a 3 meses pra evitar isso – algo difícil pra galera que só que curtir intensamente. O aumento excessivo de serotonina, eleva a temperatura corporal, podendo causar hipertermia – a causa mais comum de morte por balinha.
Como o espaço era aberto, ajudava a reduzir o calor, ainda assim era preciso aumentar a ingestão de água, razão pelo aumento absurdo de seu consumo, o preço da garrafinha chegava a ser mais alto que algumas bebidas, ainda assim a galera pagava sem reclamar – enquanto evitava álcool pra não cortar a onda ou dar bad trippy. A estratégia pra evitar desidratação era beber uma garrafinha de água a cada hora dançando, embora Nandinho preferisse isotônico pra repor os sais, evitando problemas nos nervos e músculos.
Apesar da sede aumentar bastante, ele sabia que não dava pra exagerar – além de ficar difícil controlar a bexiga, isso podia causar hiponatremia. Numa das primeiras rave que foi, uma garota mais nova morreu disso, ela dançou várias horas e tomou tanta água que teve intoxicação hídrica.
Parado, o organismo pode expelir até um litro de água por hora, mas quando em movimento, o rim fica estressado, reduzindo sua capacidade a apenas 10% desse total. Assim, mesmo suando, pode haver retenção de líquido suficiente pra causar edema cerebral, resultando em convulsões, falha respiratória, hérnia cerebral, coma e até morte.
Em meio a tantas sensações, os dentes de Nandinho rangeram e a mandíbula quis travar, dando uma vontade incontrolável de mastigar. O pirulito, usado pra sensualizar, puxar papo ou adoçar a língua, servia pra manter a boca ocupada, pra evitar morder a própria língua geral mordiscava o palitinho. Assim, ver alguém com a guloseima, significava que fritara. Claro que tinha quem não manjava e chupava achando fazer estilo.
“Sabe de nada, inocente” – Nandinho ria ao ver ser esse o caso, até perceber que cada vez mais gente aderindo à moda.
Percebendo que pirulito se tornava tendência, Lucas encontrou um cara que criara dois tipos de confeitos, um meio amargo e outro adocicado que quando misturados na boca resultavam num sabor delicioso, além de criar um arco-íris na língua dos beijoqueiros. Investindo na ideia, lançaram os pirulitos #calaboca e #mebeija que logo ficaram estourados – garantindo uma grana absurda que nunca esperaram de algo infantil, ainda mais depois que exportarem os pirulitos sensações pra outras raves.
Tinha uma galera que ia de pirulito pra ficar solo e resolver o problema de boca inquieta, já Nandinho preferia partir pro beijo. Com a libido transbordando, as mãos dele e das garotas que beijava, percorriam os corpos um do outro, aumentando o prazer, enquanto os beijos violentos e afobados, com uma língua faminta a lamber a cara, pareciam querer devorar um ao outro.
Em certo momento, Nandinho nem sabia mais com quantas garotas ficou, só queria beijar, nem lhe passava pela cabeça que pudesse pegar herpes ou sapinho – embora fosse mais comum adquirir a doença do beijo, algo que a geral nem se dá conta, já que os sintomas costumam surgir quase dois meses depois.
Na onda da bala, Nandinho beijou muito, quando procurava a próxima cremosa, viu uma baixinha lhe encarar, na hora sorriu e bastou se aproximar pros dois se beijarem, daquele jeito voraz e agarrados dançaram. Diferente das outras, essa deu encaixe perfeito, tanto que até teve ereção, algo que não costumava acontecer – a não ser quando estava na companhia de Tereza Cristina.
Estava bom demais ficar com Cris, daí uma amiga chamou e ela se afastou. Novamente na pista, pra todo tipo de negócios, Nandinho foi beijar mais – pra ele, balada era pra curtir e pegar geral – então se jogou nos braços e bocas que encontrou pelo caminho.
Foi quando viu maior cremolícia lhe dar moral, na hora que foi em sua direção, alguém lhe segurou o braço. Ao olhar pra trás, qualquer que fosse o sentimento, dispersou ao ver o sorriso meigo de Cris, então ela a puxou pra si se e eles ficaram novamente.
Quando percebeu estar tempo demais com uma garota só, Nandinho resolveu dar uma rolê pra catar mais algumas, se despediu da baixinha e foi se afastando, até se tocar estar tão bom ficar com Cris que valia a pena ter um rolo fixo o resto da noite.
A convidando atravessou o mar de gente segurando Cris pela mão e se aproximaram do palco, onde continuaram a dançar e beijar. Incansável, Nandinho curtia, sem qualquer preocupação pra prendê-lo ao chão, com o corpo maleável dançar frenético.
Pra curtir a bala, é preciso a combinação de batidas intensas – por isso ela não vai bem com músicas mais paradas, tipo pagode – e vibe boa. De repente, Nandinho saiu puxando Cris pro meio da multidão, até se aproximar de um dos palcos individuais da pista.
— Espera aqui que tô fritando! – E, tirando a camiseta, subiu no palco.
Eufórico, como se uísque com energético tivesse sido injetado nas veias, dançou com desenvoltura e elasticidade que apenas bailarino com anos de experiência conseguia. Encharcado de suor não sentia nada, nem os óculos na cara, apenas a sensação de se fundir as batidas.
Quem também curtia era Dani, mais solto dançava sem se importar de ser visto. A sua volta, cada um se divertia a próprio maneira, alguns acompanhados, outros só – cada um buscando desfrutar da melhor forma possível todas aquelas sensações.
As luzes coloridas se moviam no mesmo ritmo das batidas, enquanto a música dispersava uma energia gostosa, dando a sensação de conexão, profundidade e relevância, como ele numa experimentou. Devorado pelo fascínio, Dani mergulhou na onda de sensações sem mais nada notar e enquanto algo bom lhe tomava o corpo, ele cedeu sem resistir.
Monica estava adorando ficar com o novinho, no começo ele estava tímido, mas quando se soltou, ficou mais carinhoso, agitado e desinibido – além de foguento. Ela se divertia com tamanha disposição, quando ele pesou, ao chamá-lo, ele abriu os olhos e sorriu.
Vendo aquilo, Lucas disse pra não deixá-lo dormir e eles continuaram dançando, pouco depois, Dani fez o mesmo, ela o agitou e ele despertou. No embalo da música, o casal viajava agarradinho, quando o corpo do novinho voltou a pesar, Monica o chamou várias vezes e nada, desesperada, tentou mantê-lo em pé, ao fazer isso os dois caíram.
#proximoepisodio
Dani usa algo perigoso e apaga, mesmo a galera fazendo de tudo ele não desperta do coma obrigando-os a pedir ajuda. Preocupada Nandinho fica de vigia temendo que ao fim da festa tudo o que reste do primo seja um corpo sem vida.
Conheça a história com acontecimentos inéditos e um episódio extra!
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.