#episodioanterior
Ao encontrar Iowa, a língua de Red coça pra mandar a real sobre o namorado dela, mas as novidades da amiga o deixam atordoado. Por trás de sorrisos, ele tenta esconder o que houve, mas Zie percebe que algo de errado não está certo e lhe dá um puxão de orelha.
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Embora estivesse interessado em responder Emie assim que recebeu sua mensagem, Red não conseguiu fazer isso porque Raphaela o agarrou e se pendurou nele.
— Que cê tá fazendo, pestinha? – Ele riu.
— Ué, tava te chamando e cê não deu atenção. – Ela o largou.
— Tá bem… que cê quer? – Ele se mostrou atencioso e ela saiu puxando-o pela mão.
Mesmo a turma estando menos bagunceira dessa vez, ele não conseguiu parar pra saber o que aconteceu pra Emie mandar uma mensagem daquelas. Só quando pegou o coletivo e foi responder se tocou que visualizara sem dar um oi se quer, o que apenas confirmava as suspeitas negativas por parte da amiga.
— Oi, Pimentinha, mals não responder antes, tava corrido. – Ele meteu logo uma desculpa. – Só não entendi o que cê mandou.
— Tudo bem, Red! – Ela respondeu assim que visualizou. – Pensei que cê também não quisesse mais falar comigo.
— Como assim!? – Ele ficou chocado.
Emie nunca buscou fama, mas seu jeitinho acabou atraindo a atenção e por algum motivo o número de seguidores foi aumentando até ela ganhar uma audiência sedenta por tudo que era postado.
O número de interações a fazia se perceber importante, querida e ouvida, mas lhe exigia cada vez mais tempo e simpatia. Só que a fama tem um custo que nem todos estão dispostos a pagar ou mesmo possuem sanidade suficiente pra isso. No caso de Emie, o processo resultou em ser desmascarada. Isso aconteceu depois dela recusar com grosseria a tirar foto com a Garota do Parque que pro seu azar registrou tudo e botou a boca no Twitter, provocando uma enxurrada de críticas. E a coisa piorou após vazar foto dela cheia de espinhas, provando que sua carinha bonita não passava de edição e filtros, na real ela era maior baranga, por isso nunca postou foto de biquíni – pelo menos teve a decência de não desfilar no carnaval.
“As pessoas até podem tomar o que é seu, só não conseguem roubar a essência que define quem é você.”
Se sentindo enganados, os seguidores que a idolatravam se voltaram contra ela e se explicar só mostrou o quanto estava errada; qualquer coisa dita se voltava contra ela. Por permitir a fusão entre sua pessoa pública e privada, as interações passaram a dizer e a validar quem era, então quando veio a perseguição e os xingamentos ela acabou por perder a referência de si mesma. Fragilizada e confusa, passou a questionar se era mesmo aquilo que dela falavam e se merecia o cancelamento que vinha recebendo. Emie foi absorvendo a situação e levando como dava, até a carga pesar demais e ela precisar da ajuda de Red.
— Acredita que o notebook que cabei de comprar disseram que foi com calote? – Ela estava incrédula. – Fizeram até print fake e botaram foto de uma casa que nada tem a ver com a minha. Tive que gravar Stories da nota fiscal pra mostrar a verdade. – No mesmo instante Red correu pra ver e percebeu que o endereço dela estava visível, daí ela excluiu, riscou a informação sigilosa e gravou outro. – Ai, Red, tô tão doida que nem sei mais o que tô fazendo. – Ela sorriu, enquanto suas palavras saíram embebidas de lágrimas. Aquela situação toda era tão surreal que a deixou perdidona.
No meio do peito de Red um peso se formou, afinal, ele não era tão diferente assim dos outros garotos que viviam de graça pra ganhar a atenção de Emie como gostava de se imaginar. Sua aproximação nas redes se deu apenas pra descolar o número dela, daí quando conseguiu, sumiu – também porque foi ficando com menos tempo disponível. Se ele não tivesse desaparecido de vez, teria visto o movimento e podia socorrer Emie como um bom cavaleiro de armadura e cavalo branco como às vezes fantasiava.
— Emie. – Red respirou fundo. – As pessoas até podem tomar o que é seu, só não conseguem roubar a essência que define quem é você, e cê é nada disso! – A segurança demostrada foi tamanha que ele mesmo se surpreendeu, também serviu pra fazer a torneira nos olhos de Emie fechar, e ela se acalmou.
— Bom demais é conversar com quem faz a gente se sentir importante, isso dá a segurança na medida que é preciso pra enfrentar as dificuldades. Obrigada, Red, real. – Ele assentiu, sem conseguir responder, ainda mais por lembrar que a causa de Emie ficar famosinha foi Zack que ficou tão empolgado que a alastrou pra geral, daí as solicitações de amizade e seguidores foram crescendo conforme viam que ela era como havia sido pintada e a divulgação foi se propagando.
Empoderada e mais própria de si, Emie estava pronta pra enfrentar os haters e trolls que vinham compartilhando fake news. Fazendo transmissão, mostrou a verdade do caso da Garota do Parque, inclusive com vídeo que havia esquecido. Ela gravava Stories quando a garota surgiu pedindo pra tirar foto, e daquele seu jeitinho fofo Emie pediu pra esperar um pouco que já fazia isso, no mesmo instante a garota surtou e ligando a câmera começou a fazer um monte de acusações, deixando Emie muda com a situação e até esquecer o celular filmando – pra sua sorte.
“Bom demais é conversar com quem faz a gente se sentir importante, isso dá a segurança na medida que é preciso pra enfrentar as dificuldades.”
Foi um choque pra galera que assistia, conhecer o ocorrido de diferentes ângulos – onde se evidenciou quão louca era a Garota do Parque – principalmente pros que julgaram de forma precipitada, ao acreditar na parte distorcida da história. Porém, teve quem riu de Emie ao ver a treta, dizendo que ela se deu mal grandão, achando merecido e experimentando certo prazer na situação, como se estar sob os holofotes, diminuísse a dor e os traumas causados pela exposição ruim e a difamação. Mas a maioria se compadeceu com a humanidade exposta de Emie.
Como tudo na vida passa – até uva – o cancelamento de Emie foi soterrado por diversos tuítes, até ser esquecido. E ter Red ao lado fez toda a diferença. Ele acolheu Emie mesmo quando ela mesma deixou de acreditar em si, assim conforme ela se recuperou do tombo, passou a falar do amigo com frequência, o que gerou solicitações da galera – querendo saber quem era aquele ser querido – o suficiente pra deixá-lo famosinho.
— Filho, chegou encomenda! – Ginway berrou enquanto Red saía do banho.
— Tá onde, mãe?
— Botei na sua cama!
— Valeu, sua linda!
Red comprara a versão capa dura daqueles quadrinhos que vinham fazendo maior sucesso entre a galera – que até adaptação ganhou, gerando uma série fofa pra shippar muito – e ficou ansioso por receber as belezinhas, mas a velocidade com que a encomenda chegou o surpreendeu – tudo bem que o site era conhecido por entregas rápidas, mas aquela não deu nem doze horas desde que fez a compra.
Pegando o pacote, o peso estava correto, porém, ao abrir o embrulho o que estava ali podia até não ser tijolo, mas não era nada do que esperava: uma caixa de…
— Pêssegos!? – Ele fez o espantado. – Isso mesmo, pêssegos! – Ele fez Stories de react. – Precisei nem entrar pelo cano ou enfrentar vilão pra morder “a Peach”! Chora, Mário!
Desde que sua audiência cresceu ele passou a receber mimos, mas tudo bem identificado, como aquele não trazia remetente, isso o instigou a ponto de fazer paródia da música “Amor de que”, de Pabllo Vittar, como “Amor de feira”, cujo relacionamento com a fruta de textura camurça o fez viralizar.
“Nada melhor que se apaixonar por alguém que corresponde na mesma intensidade.”
Pedindo ajuda da geral, ele tentou localizar quem enviou o presente, mas não obteve o sucesso esperado. Alguns seguidores enviaram fotos das supostas responsáveis, já outras assumiram a culpa, mas a confissão não pareceu merecer crédito.
Encafifado, ele comentou com Emie que rachou de rir, o deixando sem entender qual parte da piada ele perdeu – afinal, ele havia feito uma piada?
— Eu que enviei, Red!
— Quer dizer que cê viu tudo e ficou na moita? Tava eu e a internet tentando descobrir. – Ele enviou emoji com a sobrancelha levantada.
— Achei engraçado ver cê doido pra descobrir quem era. – Ela mandou emoji chorando de tanto rir.
— E por que esse mistério todo?
— Como cê tá acostumado a ganhar presente, queria ver qual sua reação ao receber um anônimo.
— Boba! Eu aqui na maior caça! – O comentário a fez cair outra vez no riso.
— Agora cê já sabe quem foi! – Mandou emoji piscando. – E aí, gostou?
— Sim! Maior delícia, tava! – Ele lambeu os lábios ao lembrar do gosto das frutas. Aqueles tinham sido os melhores pêssegos que já provara.
— Que bom! Pra mim cê é fofo pique pêssego. Eles eram pra agradecer por sua amizade.
O comentário atingiu tão alto grau de fofura que Red chorou arco-íris. Contudo, o que ele queria mesmo era salada mista, não apenas pêssego – que na brincadeira só valia selinho.
Quando pivete, ele e os amigos viviam chamando as garotas pra jogo – inclusive foi assim que Red perdeu BV. Pra garantir que iam beijar as gatinhas, ele sugeriu um sinal, assim quando fosse dado, bastava dizer salada mista e tascar maior beijo. Isso aumentou a taxa de sucesso em pegar as cremosas, sem serem descobertos, pelo menos nenhuma garota reclamou, mesmo que os surtos de gripe, alergia ou engasgo entre os garotos aumentasse toda vez que jogavam. Rindo, ele deixou essas memórias no passado e se arrumou correndo pra chegar a tempo da monitoria.
— Zie, ajuda aqui! – Red pediu socorro.
— Que foi, garoto? – Ela se quer desviou a atenção da tela. – Que tá pegando aí?
— O Zack de novo!
— Eu nada, o vacilão do Red que começou…
— …
— …
— Cê tá escutando a gente? – Red surgiu na frente de Zie, o susto a fez minimizar a janela.
— Posso saber com quem cê anda falando pra ignorar a gente assim, garota? – Zack ergueu a sobrancelha.
— Sai fora, garoto. Cê não manda em mim! – Ela se indignou com tamanha ousadia. – Só tava assistindo vídeo de gatinhos! – Ela desconversou. – Cês quer ver?
— Aff! Como cê é podre, Zie! – Após ouvir tamanha desculpa esfarrapada, Zack se afastou.
— Hey! Volta aqui que a gente não resolveu aquele bang. – Red foi atrás do amigo e os dois continuaram discutindo, sem serem ouvidos por Zie. E enquanto os garotos brigavam ela ria a ponto de chorar.
No decorrer da semana, Red foi percebendo a amiga meio isolada, nos momentos de folga ela ficava metida no celular ou no computador e tão distraída que nem ligava quando ele falava de Emie ou mesmo quando se tratava de mais uma treta com Zack.
— Cê notou que a Zie anda meio pipa avoada? – Red quis saber do amigo quando o viu na monitoria de sua turma. Como Zack concordou, eles decidiram descobrir com quem ela tanto falava pra nem mais tempo ter pra eles, sendo que antes mal desgrudava, numa ciumeira só, agora os dois podiam se matar que ela nem ia perceber. Mesmo sem admitir, a real é que Red sentia falta da amiga mais presente, pegando no pé – ainda que antes isso irritasse, depois que ela parou com a atenção exagerada algo parecia faltar.
— Zie, que cê tá fazendo? – Red se aproximou, de repente.
— Nada de mais! – No pulo, ela minimizou a janela.
— Nos vídeos de gatinhos, outra vez?
— Acertou, miserável!
— Incrível como esses vídeos de gatinhos são infinitos, né!?
— Por quê? – Ela ergueu a sobrancelha.
— Cê não faz outra coisa, pique umas duas semanas já!
— Pois é, garoto! – Ela exibiu um sorriso cheio de covinhas.
— Num é não! Ela tá no WhatsApp Web e conversando com a…
— …Moranguete!? – Red e Zack disseram ao mesmo tempo, eles estavam passados e engomados, prontos pra serem guardados após uma descoberta daquelas.
Aproveitando Zie distraída com Red, Zack deu a volta na bancada, saindo por trás e maximizou a janela.
— Que abuso, garoto! – Ela começou a corar. – Não te ensinaram que é feio ver a conversa dos outros? – E finalizou a seção, fechando a janela.
— Bom, a mãe ensinou pique isso, mas a gente esquece de vez em quando. – Zack riu, na maior cara lisa.
— Aff! E se eu tivesse falando mal de você?
— Aí, eu ia ver que cê é maior falsiane.
— Me deixa, vai! Cês dois. – Zie tentou empurrar os garotos pra longe.
— Peraí, garota! Antes cê não tem que explicar algo?
— Explicar o quê? Não devo satisfação pra ninguém! – Ela encarou Zack.
— Que história é essa de amizade com a Emie?
— Ué… ela é legal… não posso mais ter amizade com quem eu quiser? – E deu aquele sorrisinho irônico.
— Poder, pode, né!? – Ele deu de ombros.
— Agradece a permissão, agora cês já pode ir.
— Calma, lá! – Red levantou a mão. – Desde quando cês são amigas? Porque umas semanas atrás cê queria que eu parasse de falar com ela de qualquer jeito.
— Pois é, a gente muda ao ver que as pessoas são legais, agora dá pra trocar o disco? Tá ficando repetitivo já esse assunto. – Zie ergueu a sobrancelha.
— Então, tá! – Depois dessa, Zack se deu por vencido e até se afastou.
— Poxa! Pelo menos deixa um tempinho pra gente. Vai? – Red suplicou com olhos pidões.
— Para de drama, garoto, tenho vários migos agora, se sobrar tempo, aviso. – Pra provocar, ela mostrou o celular lotado de notificações de mensagens. – Agora, vai caçar o que fazer, Red! – E aquelas covinhas de provocação se formaram no rosto dela.
Apesar de sair rindo, por provocar a amiga, Red achou chato constatar que não era mais exclusividade na vida dela. A sabedoria pop ensina que quando
não é possível vencer o inimigo, o que resta é se juntar a ele, algo que pode até não ser regra na maioria das vezes, mas no caso de Zie deu bom.
Após desistir de tentar afastar Red de Moranguete, Zie parou de se estressar com isso, foi aí que começou a criar empatia pela garota. Ela era legal, então, por que não a ter entre os contatos?
Assim elas acabaram se tornando amigas, só aí Zie se deu conta do quanto ambas se pareciam e uma ligação surgiu entre elas. Daí em diante, quando o Red e Zack brigavam pela atenção de Emie, ao invés de se chatear, Zie ria com a amiga, comentando o quanto os garotos eram bobos.
— Liga não, miga, eles só querem biscoito. – Ela aconselhava toda vez que eles começavam uma discussão pela atenção de Emie.
Foi chato pra Red, perceber que quando queria a atenção de Zie, ela estava ocupada conversando com outras pessoas – logo ela, que sempre esteve disponível. Não tendo o que fazer, o jeito foi se acostumar.
Se por um lado Zie ficava mais distante e foi fazendo outros amigos, por outro a intimidade entre Red e Emie só cresceu, a ponto de ficarem conversando até tarde da noite.
O problema – ou não – é que isso solidificou o desejo de maior contato e proximidade com Emie, e ele se deu conta que estar só era o mesmo que viver em vão, conforme confessou pra alegria de Iowa, a amiga ficou toda contente por vê-lo apaixonadinho.
— Que, vira essa boca pra lá! – Ele respondeu, com emojis suando frio.
— Mas é, migo! Tem nada melhor que se apaixonar por alguém que corresponde na mesma intensidade.
— Verdade, né? – Red refletiu.
— Cê merece, migo. Vai lá, se joga e seja feliz! – A palavra feliz ficou ecoando na mente de Red, enquanto ele ouvia a playlist Romancezinho, foi então que um anúncio o fez imaginar toda uma situação legal de viver.
— Só quero alguém pra fazer feliz e dividir um Spotify Duo. – Empolgado, ele postou no Stories, enquanto se imaginava compartilhando seu gosto musical com Emie.
#proximoepisodio
Chegando num ponto de felicidade que não dava pra mais guardar todo aquele sentimento bom apenas em si, Red se abre com Emie, mas as coisas não saem como o esperado.
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.