Quantas vezes se pode tropeçar,
Tentando encontrar o caminho?
Em que quantidade se apagará
A lâmpada, candeia da vereda?
Como resseca a erva embebida,
Sem corte ou mesmo arranhão?
Qual o caminho feito pelo vento
E de onde vem ressoar sua voz?
Seria 490 só extensão numérica
Ou contém relatividade infinita,
Levando ao ato que aperfeiçoa?
De tanto contar se perdeu conta,
Os contos, os cantos e encantos.
Poderia constante sobreposição
Frutificar unidades a conformar
Em reais círculos concêntricos,
Repor o ar de águas tranquilas,
Ao que as profundezas sondou?
A vida, o universo e tudo o mais
Também o mover da eternidade,
Imensidão de tempo a se esticar
Na grandeza de um verso único,
Que desembala a forma da luz,
Corporifica estrelas em sombra.
Encontraria, ao soar dos lábios,
O fim do existir nessa realidade?
Sexto dia posto a frente de sétimo,
42 é resultado de extensa espera.
Em translúcido tear se contrapõe
Anelo contra intempéries celestes,
Segue voando, se desfaz plenitude,
Vapor ao meio-dia, soprado no ar.
A longa espera se torna em fardo,
Se esgotando vai-se a esperança,
Partindo em desesperança, trança
Fraqueza e enfermidade no peito.
O universo presente numa casca
Esconde no grão um peso mortal,
Força a arrastar pras profundezas.
A hora da manhã desperta ao Sol,
Seu erguer lança nobreza e poder,
Luz da aurora, pare o dia perfeito.
Em fuga busco sombra de nuvens,
Volteando, sigo a correr em círculo,
Em voltas e volteios, busco sossego.
Por que busco negror, se luz anelo?
Estaria a buscar a sombra das asas
Ou refúgio sob a árvore ignorada?
No alto do monte, extremos do mar,
Montes e outeiros, a ocultar trevas,
Poderia eu também me esconder?
Percebo noite o Sol resplandecer.
Corro às águas pra colher os frutos,
Amoreira plantada no meio do mar,
Grão a mover montes daqui pra lá.
Escolho prosseguir na caminhada,
E a aflição berra: direção perdida.
O norte desnorteou, sem direção
Descubro necessidade de centrar,
Não dá mais pra ficar na periferia.
Sobre a terra, pés descalços pulam,
Passadas cada vez maiores, saltos,
Agora são voos, forças recompostas,
Renovo de águia permite asas abrir,
Planar a imensidão, liberdade azul.
Testemunhei: liberdade não é viver
Todas minhas vontades ou desejos,
É escolher dizer não ao que quero…
Livre, é quem vive não apenas pra si,
E se negando se doa por bem maior.
É mudar o fado pelo peso de glória,
A resultar em julgo suave, leve fardo,
Recompensa que só é vista pela fé,
Assegura estabilidade aos montes
Que sem estremecer proclamam
Certeza que prova o que não se vê.
Em voo alço distância rumo ao Sol,
Que pela noite brilha intensidade,
Maior visão ao hastear no deserto,
Fixar o olhar é que desfaz cegueira.
Só entende o preço da eternidade
O que percebe a beleza do instante.
Colhe o dia, sem confiar no amanhã;
Nem em fração te pertence o tempo,
Mal te cabe o presente hoje recebido.
Vapor que surge, ao Sol logo desfaz,
Árvore, que na viração do dia secou.
Ergue os olhos pro campo sem fim,
Os lírios crescentes já despontam,
Dando renovo ao brilho do orvalho,
Sua honra não vem da dor ou tear.
Erva que secou, flor murcha a cair,
Ao soprar do vento e arder do Sol;
A flamejar, apatia engole verdejar,
Dia subsequente exibe o teu pesar.
Árvore cortada, se renovam ramos,
Raiz envelhecida, de tronco no pó,
Ao cheiro das águas torna a brotar,
Oliveira, se põe a colorir folhagens.
A terra seca desfaz em mananciais,
Água viva afoga a sede dos chacais,
Ervas e juncos brotam, a rocha flui.
A ardência do Sol, a abater no estio
É quem em esplendor vai te erguer.
Ouço promessa da doçura de dias,
Desde o princípio, sagradas letras,
Tragas pelo vento, de onde não sei,
Também desconheço o trajeto feito.
Descanso, sobre a terra lufa vento,
Sobre a várzea me dirijo as águas.
Eis o sol, em força brilhando mais,
Seu esplendor pesa no meu existir.
Quanto maior a labuta, mais suor,
Na dor aumenta anseio de luz ver,
Descendo do céu, o repouso vem.
Escuridão não é a falta de brilho,
Apenas pausa, até irradiar a luz.
Os obstáculos que fazem sombra,
Desfarão, deixando só restar luz.
Treva não é antônimo, é cárcere.
#papolivre
De todos os meus poemas, considero esse o mais enigmático. Fruto da inspiração de quase 50 versículos da Bíblia – o livro mais profundo que conheço, com poesias a cada verso – ele ainda traz em torno de dez etimologias, músicas, poemas, influência da cultura pop, além de crenças. Apesar de não recordar quando foi escrito, ele surgiu num momento de melancolia, sendo finalizado um bom tempo depois, o que levou três dias, entre pesquisas e diversas revisões ao ser publicado em 2011. A versão de 2018 trouxe outras revisões e adequação pra deixá-lo menos complexo, até a edição de 2024 lhe dar mais ritmo e estrutura – que espero ser suficiente pra permitir às suas nuances serem extraídas pela luz que ilumina os passos [Salmos 119.105] e pode esclarecer [Efésios 5.14] a diferença entre Sombra e Luz.
Apesar de ser difícil imaginar isso do ponto que estamos no tempo, antes do Big Bang eclodir – numa constante expansão – o universo poderia ocupar com facilidade a casca de uma nós, até uma voz ecoar, chamando a dimensão temporal a existência – algo detalhado no poema “A canção do universo“. Onde a queda da humanidade trouxe a acusação – que precisa ser evitada a todo custo, como recorda o poema “Humanidade, em divergência similar” – e a mágoa que deve ser perdoada 70×7 [Mateus 18.21-22], ou seja, quantas vezes for preciso, até porque isso é necessário pra nos garantir perdão [Mateus 6.12, Lucas 11.4], ou ficamos presos ao peso gerado por sua retenção – a crônica “O peso de não perdoar” explica melhor isso. E quanto mais exercemos essa ação, significa que fomos mais absolvidos de nossas culpas [Lucas 7.47].
No hebraico, números representam palavras, conceitos e até letras, assim a ordem de perdoar 70×7, “shiv’im sheva”, cujo significado “até que tudo esteja completo”, resulta no valor 490, representado pela palavra tamim, cujo sentido “perfeito, sem defeitos, terminado, perfeição”, nos recorda o poder que o perdão – como um ato de amor – tem de cobrir uma multidão de erros [1 Pedro 4.8] e nos aperfeiçoar pra vivermos em estado de completa perfeição [Deuteronômio 18.13].
Por falar em números, outro que se destaca graças à cultura pop, é o 42. Esse se tornou conhecido como resposta à vida, o universo e tudo mais, no livro “O guia do mochileiro das galáxias” (“The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy“, de 1979), parte da trilogia de cinco livros, que possui seis volumes, da série escrita pelo britânico Douglas Adams. Ele surge após o supercomputador, Pensador Profundo, realizar um cálculo de 7,5 milhões de anos, deixando geral desconsertada, ainda mais após o Pensador dizer que a culpa estava na formulação da pergunta. Além da demora na resposta enfraquecer o coração [Provérbios 13.12], pode resultar em morte, já que o número 42, no japonês, soa como a pronúncia de mal agouro “vai morrer” – e pode dar ruim pra quem o ignora. Sem falar, que aos 42 se atinge a crise da meia-idade, e até descobertas recentes, ele era um dos dois que não podia ser representado pela soma de três cubos, desde a década de 1950.
Apesar de Adams dizer que o número foi escolhido por acaso, parece que foi inspirado – ainda que de forma inconsciente – por Lewis Carroll, que menciona a regra 42, em “Alice no País das Maravilhas” (“Alice’s Adventures in Wonderland“, de 1865), além de 42 caixas, no poema que dá título ao livro “A caça ao Snark” (“The Hunting of the Snark“, de 1876). Já Carroll pode ter bebido da Bíblia, onde o número significa metade, já que representa 42 meses, ou 3 anos e meio, que é o tempo onde o governo maligno terá poder sobre o mundo [Apocalipse 13.5] e onde as nações encontrarão refúgio [Apocalipse 11.2], significando zombaria e escárnio, além de refúgio.
Ainda que não seja consenso, os números regem o universo, ajudam na lei do menor esforço e têm muito a dizer, seja utilizando a numerologia ou a gematria – que atribui valor as letras hebraicas. Se tratando de significado, a melhor forma de extrair a direção em que apontam é encontrar a raiz digital – algo que chamo de simplificação numérica – que consiste em somar os números expressos num grupo até obter apenas um dígito. Assim, 490 daria 4, apontando que a lei do perdão deve ser exercida na dimensão do tempo, a quarta dimensão – onde o amor que excede todo conhecimento revela plenitude [Efésios 3.18-19]. Enquanto isso, o número 42, que resulta em 6, aponta pra humanidade, já que fomos criados no 6 dia [Gênesis 1.26-31], recordando de nossa mortalidade [Hebreus 9.27].
Ósculos e amplexos,
Autor de Interrompido – A curva no vale da sombra da morte, é um cara apaixonado total por música, se deixar não faz nada sem uma boa trilha sonora. Bota em suas histórias um pouco de seus amores e do que sua visão inversível o permite enxergar da vida.