Moranguete – Xadrez não sai de moda (Episódio 7)
Mishael Mendes/ Inversível

Moranguete – Xadrez não sai de moda (Episódio 07)

#episodioanterior

Um momento descontraído, regado a carinho, faz Red externar a imensidão de sentimentos por Emie. Não sendo isso suficiente, ele precisa treinar pro maior desafio de sua vida e isso só o estressa mais.

Acompanhe a minissérie » EP 01 • EP 02 • EP 03 • EP 04 • EP 05 • EP 06 • EP 07


Red finalizou a última conversa com Emie decidido a não ter mais contato com ela, mas uma reflexão o fez deixar o orgulho de lado: antes ter apenas sua amizade que perdê-la de vez – algo que acabaria custando mais.

O fato dela ligar o deixou balançado, assim a pedra que se formou em seu peito se desfez jorrando por seu rosto e ele se desculpou por um áudio, reconhecendo que ela era importante demais pra ser esquecida e as pazes foram refeitas.

— Poxa, migo, té que fim! – Iowa sorriu aliviada. – Já tava desesperada aqui.

— Perdão! É que vim pela rota que conheço, mas tava maior trânsito, daí o motorista teve que fazer uns desvios.

— Bom, pelo menos agora cê tá aqui! – Ela lhe apertou entre os braços, como se isso pudesse afastar o nervosismo que tentava tomá-la.

— Calma, miga, cê tá derretendo.

— Verdade! ‘Té te sujei. – Sem graça, ela pegou um lenço pra limpar o smoking dele.

— ‘Xá comigo! – Red tomou o lenço. – Agora a gente precisa focar em você. Como tão as coisas aí, nesse coraçãozinho?

“É difícil fazer as pessoas sorrir na mesma intensidade que a gente, mas plantar felicidade pode resultar em algo bom.”

Iowa disse que tudo certo, mais ou menos, quando Red a questionou o motivo dessa resposta, ela confessou que apesar de tudo estar decorado de sonhos e brilhos de felicidade, estava apreensiva porque mesmo a família apoiando, eles não pareciam tão felizes naquele momento tão especial pra ela.

— Sabe, Iowa, é difícil fazer as pessoas sorrir na mesma intensidade que a gente, mas plantar felicidade pode resultar em algo bom. Só dá um tempo pra eles.

— Migo, cê é mesmo incrível! – Dessa vez o sorriso de Iowa refletia tranquilidade.

— Que isso! – Ele lhe acariciou o rosto. – Boba, para de chorar, cê vai estragar a maquiagem. – Red ofereceu o lenço.

— Pega nada! O make é a prova d’água. – Ela riu do espanto dele. – Cê sempre sabe o que dizer nos momentos exatos, migo. – Mais algumas lágrimas teimosas escorreram. Ela não costumava ser assim, porém, a ocasião a deixou sensível e qualquer demonstração de carinho era suficiente pras emoções transbordarem pelos olhos.

— Tá bom! Vem cá! – Ante os olhos pidões e marejados da amiga, ele estendeu os braços.

Apesar de estar tão emocionado quanto Iowa, Red se conteve. Embora tivesse desistido de contar a verdade sobre o noivo da amiga, não aceitara total a ideia dela se unir a um perva – não a ponto de dar aquele tipo de conselho, por isso quando se ouviu dizê-lo ficou surpreso.

Após Iowa se acalmar, Red reparou que o sítio da mãe da amiga estava um espetáculo de luzes e flores a contrastar com seu verde natural, que se encheu de beleza com a entrada da noiva. Todos se colocaram em pé pra acompanhar seus passos até o altar, o sol a se pôr detrás dela, deu tons de amor as nuvens, destacando sua silhueta num vestido imaculado, cravejado de swarovskis. A intensidade do sorriso de Iowa, dificultou saber quem brilhava mais: ela ou o astro.

Após uma chuva de pétalas, ela começou a cantar, fazendo os olhos dos convidados brilhar em ondas marinhas. Mesmo a música sendo tocante – a mais bela que Iowa já ouvira – o que emocionou, enquanto a calda de tule rendada deslizava pelo chão, foi sua voz a imprimir profundidade a cada verso entoado, harmonizando com os instrumentos cuja afinação tocava a alma enquanto ela entoava a própria verdade. Tamanha entrega tornou a música melhor que a versão original – assim como ocorreu com o cover que Whitney Houston fez de “I Will Always Love You”, música da Dolly Parton.

“O tempo para, deixa de existir, quando se está com quem controla as batidas de nosso coração.”

— É, migo, parece que cê é o próximo da lista! – Se antes Iowa estava contente, depois que a cerimônia terminou o sorriso não descolava de seu rosto.

— Sei nem do que cê tá falando! – Red ergueu uma das sobrancelhas, só aí recordou que pegara o buquê, então o escondeu nas costas.

— Destino que fala, né!? – Ela piscou. – Bora dançar! – E saltou, com os olhos a brilhar.

— Pode ir. Tô indo já! – Ele tentou se livrar do convite.

— Não mesmo, bora! – Ela saiu empurrando o amigo. Sem alternativa, Red se jogou na pista, logo o espaço encheu e geral balançou o esqueleto.

— Migo, cê pode té não acreditar nessa parada de destino e tals, mas se não casar, não vai ser por falta de opção. Dá só um ligo. – Ela apontou com a cabeça as garotas tomando a pista. Bastou olhar de relance pra verificar as opções e Red encontrou os olhos de Marcie em busca dos seus; na hora as bochechas dele ganharam um colorido diferente das luzes a iluminar a pista.

— Parece que cê nem vai esperar tanto assim. – Iowa cochichou no ouvido dele, bancando o cupido. – Anda, vai lá! Tá esperando o quê? – Vendo o amigo, sem jeito, o encorajou.

Bastou Red se aproximar pra começar a tocar uma música lenta e arrastada de romance, automaticamente ele ergueu a mão, aceita por Marcie com um risinho tímido. Agarradinhos, os dois lembraram como fazia tempo desde que se viram pela última vez até o papo se estender sobre as coisas da vida.

— Nossa! Meia-noite já? – Red se espantou com a hora exibida no smartwatch. – A hora passou tão rápido que nem percebi.

— Normal. – Marcie falou de forma natural.

— Mesmo? – A espontaneidade dela o fez duvidar se sua percepção é que estava errada.

— Sim! Isso é comum de acontecer. O tempo para, deixa de existir, quando se está com quem controla as batidas de nosso coração. – A facilidade em que ela disse aquilo, sob o brilho do luar com o mirante diante deles, o fez projetar o corpo pra frente, só pra ver o sorriso dela ficar mais lindo e seus olhos fechar, aí o beijo rolou; depois outro e mais outros.

“Engraçado como as amizades mais improváveis são as que valem a pena conservar.”

— Péra! – Marcie segurou a mão de Red enquanto ele se afastava pra partir, fazendo-o olhar pra si. – Cê não tá esquecendo nada?

— De você!? – Ele sorriu, todo conquistador. – Bom que decidiu ir comigo. – E piscou.

— Bobo! – Marcie sorriu, desconcertada. – O buquê. – Ela o ergueu com ambas as mãos.

— Fica! Uma flor sabe cuidar melhor de outras flores. – Com esse veco à queima-roupa, ela não resistiu e eles deram um último beijo. Assim, Red saiu de posse do número dela, com um sorriso que só fazia aumentar. Ele se quer reparou na distância do caminho mal-iluminado enquanto retornava pra casa tarde da noite.

Como Iowa previu, o lance dos amigos se tornou algo sério. A amizade entre Red e Emie continuou, eles conversavam quase todo dia, não na mesma proporção de antes. O papo foi se reduzindo a cumprimentos intervalados que diminuíram até o contato entre eles se perder de vez.

O que restou pra ambos foram as palavras de carinho e a música Apologize. Toda vez que tocava a canção, eles eram conectados não importa onde estivessem. Pra Emie, o motivo que tornou a canção especial era lembrar do garoto mimado e inconsequente que a amou mesmo sem conhecê-la na real, algo que a fazia sorrir – conforme lhe confessou antes de pararem de se falar.

Diferentemente de Red, a amizade de Zie com Moranguete seguiu firme, o que só mostrava o tamanho da ironia nisso tudo. Logo ela, que não a suportava por roubá-lo e tanto tentou afastar o amigo de Emie, foi quem manteve contato – engraçado como as amizades mais improváveis são as que valem a pena conservar.

Dar uma sumida

Zie só chegou a dar uma sumida quando rolou aquela treta nas redes sociais – até porque ficou sem reação, afinal, as duas ainda não se conheciam tão bem assim – mas passado isso, acabaram ficando íntimas, conforme Zie via o quanto ambas se pareciam.

Emie foi quem a ensinou poder ter vários amigos. Quando Zie reclamou que os garotos mal lhe davam atenção, lhe disse que não precisava ser tão apegada, que isso só servia pra sufocar mais ela que aos outros. Desapegar de Red foi a melhor coisa que aprendeu, afinal, após terminada a monitoria, se afastaram até o amigo se tornar uma boa lembrança, com quem conversava às vezes.

— A gente pode trocar uma ideia, Red?

— Claro! – Ele se mostrou prestativo.

— Me acompanha até minha sala, então! – Ele assentiu, mas bastou Kerr Lauren lhe dar as costas, pra Red revirar os olhos enquanto o acompanhava.

Por se destacar durante a monitoria e também enquanto estudava, Red recebeu de Luigi Castelli, coordenador pedagógico, a proposta de se tornar instrutor ao concluir o curso.

Mesmo fora da casinha, Luigi era motivador e otimista, ou seja, a melhor pessoa pra se conhecer. Assim foi uma perda sem tamanho quando ele deixou a instituição pra trabalhar de gerente numa instituição financeira pra ganhar o triplo – embora há algum tempo a gerente financeira tentasse tirá-lo de lá, mas a competência dele e a incapacidade dela não permitiram isso. E se o acontecido entristeceu o garoto, saber que o lugar dele seria ocupado pelo babaca do Kerr Lauren, tornou a situação tragicômica.

O perva mal o esperou fechar a porta, foi logo reclamando dele estar de gracinha com as alunas, que era bom parar porque a escola tinha câmera e isso podia dar ruim grandão.

— Mas elas que ficam de graça. – Red tentou justificar.

— Também, com os pornôs que cê posta!

— Ah! Para! Meus nudes são artísticos. – O conteúdo adulto ao qual eles se referiam envolvia fotos dos pés de Red com meia, de seu braço e mão mostrando as veias, da tatuagem no pulso ou de parte do ombro e pescoço, entre outras fotografias que mais exibiam experimentações artísticas conceituais que nudez real.

“A conquista de algo custoso faz a gente enxergar que o tempo perdido e as dificuldades enfrentadas são necessárias quando se deseja um novo patamar.”

— Independentemente! Cê devia ter mais postura, como tá em destaque os alunos te veem como exemplo. De qualquer forma, dê um jeito nisso.

Red assentiu e se retirou, era tenso ouvir isso de alguém perva como Kerr Lauren, ele vivia de graça com as alunas, pegando na cintura delas – fora os clipes de funk que deixava rolar antes do início das aulas. Agora pagava de moralista pra cima de Red com papinho mole que ele precisava ser exemplo? Era mesmo o cubo da hipocrisia!

Red não ia deixar um cara daqueles se intrometer em sua vida pessoal – até porque a grana que recebia não era suficiente pra lhe tomar tamanha liberdade, nem seu contrato dava direito à isso. Sem falar que as fotos eram mais pra celebrar o quanto estava confortável com o próprio corpo.

As postagens começaram como um exercício de aprendizagem pra gostar do próprio corpo e a se aceitar, algo que foi dando resultado conforme passou a moldá-lo através a malhação. Até as postagens receberem inúmeras curtidas devido aos ângulos, filtros e iluminação utilizados – se isso servia pra atrair as garotas, era uma consequência bem-vinda. Mas a intromissão de Kerr Lauren lhe fez ter uma ótima ideia: usar o Twitter pra anunciar estar oficialmente em busca de um novo amor.

motivos pra me namorar:
– cozinho (especialidade: mousse de maracujá);
– sou cheirosin;
– carinhoso e atencioso;
– inteligente e esforçado;
– arrumo teu iPhone;
– gosto de um bom sertanejin;
– faço massagem boa;
– te desenho;
– adoro xadrez (porque xadrez não sai de moda!).

No mesmo tuíte, anexou uma foto de camisa xadrez e outra de um de seus desenhos, daí fixou pra ter mais visualizações. Nem precisava, rapidamente recebeu uma chuva de curtidas, fora as respostas – uma mais hilária que a outra.

Uma garota disse que desse jeito ia querer é casar de vez, então ele a convidou pra comprarem as alianças. Outra mais espertinha escreveu que arrumar o iPhone era fácil, ela queria mesmo é ver ele dar um novo, ao que Red respondeu que nesse caso ela procurava um Sugar Daddy, não um namorado e colocou risadinhas.

Após uma boa seção risos, percebendo ser impossível dar atenção a tanta mensagem, tuítou algumas respostas pra esclarecer a geral. Pra quem duvidava de tantas qualidades numa só pessoa, afirmou ser tudo verdade: amava cozinhar, sabia fazer tudo em casa; era bom com tecnologia e estava estudando engenharia robótica, ou seja, ainda ficaria rico – pelo menos é o que esperava – e adorava novas amizades, assim, estava na pista pros mais diferentes tipos de negócios.

Já pros que questionaram o motivo de ainda estar solteiro, disse que suas tentativas não vingaram, mesmo fazendo desenho, cartinha, não rolou e as ex acabaram terminando com ele.

acho que as pessoas não curtem quem é atencioso e carinhoso, daí dá ruim pra mim. As garotas gostam mesmo é de joguinho, de fazer doce, e isso não cola comigo.

quando gosto, demonstro, me importo, sou carinhoso e procuro agradar à garota que tô. Talvez eu não seja a pessoa mais interessante do rolê, mas tamo aí na pista… kkkkk

minha primeira “ex” foi a garota que mais gostei. Tava sendo bom demais ficar com ela, daí preparei tudo pra pedir ela em namoro. Comprei o que ela gostava, fiz desenho dela e escrevi uma cartinha.

ia pedir ela na segunda, daí ele terminou comigo um dia antes kkkkk chorei muito. A segunda parecia tá maior a fim de mim e eu também, já tava preparado pra engatar namoro, daí a gente foi no Lollapalooza de casal e quando voltou ela terminou comigo.

porque não tava preparada pra assumir relacionamento, mas um mês depois lá tava ela, namorando outro… kkkkkk

sem falar das ficadas, só porque tratei bem, fui fofo, já pensavam que eu morria de amores e planejava casório. Mas só fui legal porque gosto de proporcionar um date legal. Ninguém precisa ser escroto só porque não quer compromisso, ok?

e, sim, ainda acredito na felicidade! Só não sei porque ainda não deu certo pra mim, falta de tentativa não é. Se a @GretchenCantora ainda acredita no amor, após 17 casamentos dar ruim, não sou eu que vou desistir no 2.º projeto de namoro, né não?

a quem interessar, segue meu mapa astral:
– Signo: Aries;
– Lua: Aquário;
– Ascendente: Gêmeos;
– Vênus: Aquário;
– Marte: Virgem retrógrado;
Só não sei o que isso significa, se alguém quiser explicar, fica à vontade, porque não entendo nada mesmo… kkkkkk

Terminada a interação, Red deu uma pausa no Twitter, até porque falar de Marcie o fez recordar o tanto que ainda gostava dela. O tempo passados juntos foi tão bom, mas o “ex” dela ficou em cima e eles acabaram transando, daí ela achou melhor terminar com Red antes dele se apegar e acabar se machucando – o que ela nunca soube é que era tarde demais pra tentar evitar isso.

Então veio a segunda e quando ele começou a se apaixonar, ela deu um pé na bunda dele, depois disso Red conheceu outras garotas, sendo maior fofo e atencioso pra proporcionar a melhor experiência possível. Na tentativa de alguma se convencer do cara legal que ele era e ficar de vez em sua vida; algo que ainda não funcionara – talvez se ele fosse moleque piranha evitaria dor de cabeça e de ter o coração partido, mas ele não sabia ser assim, então, paciência pra continuar até a pessoa certa vir ao seu encontro, porque os seus passos só serviram pra levá-lo na direção errada.

Foi aí que uma luzinha acendeu em sua cabeça e ele percebeu que o lance com Marcie não aconteceu por acaso, Iowa dera um empurrãozinho pro destino. A amiga comentara com ele que Marcie estava solteira em busca de alguém, tão legal quanto ele, pra parar de dar moral pro “ex” e ser feliz; mas encantado com Emie, ele acabou não dando moral, embora tivesse pagado maior madeirinha pra ela.

No casamento, Iowa viu exatamente onde Red estava posicionado antes de jogar o buquê, como ela aprendeu a ter uma ótima mira no handebol, não foi difícil fazer o arranjo passar por cima das mãos desejosas por agarrá-lo, indo parar no colo de quem ria da fúria das garotas a se empurrar. Tentar passar o buquê não funcionou, a amiga disse que isso dava azar, depois ela o arrastou pra pista, na mesma direção de Marcie – todo resto aconteceu como planejado.

— Aquela Iowa tem jeito mesmo não! – Ele riu ao se dar conta de tudo que a amiga arquitetou. – Pena que não deu certo, porque ela é ótima de cupido.

O que também não durou foi o casamento da amiga, que se separou após descobrir o quanto o marido era infiel. Apesar da curta duração do casamento, a experiência transformou o mundo de Iowa por completo ao conceber um filho – a coisinha mais linda e fofinha do babão do titio Red. O pequeno é quem lhe deu força pra acreditar no mulherão que era, e ver que não dependia de ninguém pra ser completa ou conquistar o que quer que fosse – ainda mais um macho feio e escroto, como seu ex.

— DING! – O barulhinho agudo soou, indicando a chegada de notificação. Ao olhar a tela, Red viu haverem lhe enviado uma DM, quando abriu a mensagem era Zie, perguntando se ele ainda aceitava currículo.

Achando graça, ele entrou na brincadeira, dizendo ainda estar disponível pra negociações, mas conforme a conversa seguiu, percebeu que ela falava sério. Zie revelou gostar dele e isso já tinha um bom tempo; no começo achou que era só amizade, daí o sentimento aumentou e mesmo eles se afastando a necessidade de tê-lo por perto não diminuiu.

— Cada dia longe de você, faz eu sentir que falta algo e esse espaço só pode ser preenchido por você, Red. – Após ler isso, foi até difícil engolir a própria saliva. Red foi cuidadoso com a escolha de palavras pra deixar claro o quanto Zie era especial, não de uma forma romântica, pois não a via assim. Sem nem saber como, ele conseguiu cumprir a tarefa, não sem a alma pesar, os pulmões funcionarem com dificuldade e os dedos se perderem pelo teclado, enquanto enviava respostas pra cada questionamento ou afirmação de Zie.

Levou um fora

Após entender os sentimentos dele por si e que, apesar da postagem, Red queria mesmo é continuar na pista, aproveitando o sucesso pra pegar geral e ganhar biscoito, Zie pausou o papo, mas se expor doeu menos que pareceu e a aliviou.

Já Red, encarnou a dificuldade de Emie ao dispensar alguém a quem só desejava a amizade – parece que o jogo virou, não é mesmo? – isso lhe deu maior compreensão e o fez ver o quanto a amiga fora decente com ele.

Na vida de Red, havia ainda apenas uma coisa inacabada, mesmo passados meses, então resolveu varar a madrugada e só sair da frente do console quando completasse “Sekiro: Shadows Die Twice”. Mesmo passando raiva, continuou até pegar as manhas.

Foi preciso morrer muito e voltar várias vezes, mas a cada derrota surgiam novas descobertas, assim já entrava nas batalhas calculando o número de mortes necessárias pra derrotar os chefes, terminando cada vitória com a sensação que fora a melhor luta.

Diversas áreas podiam ser desbravadas, apenas correndo e se esquivando. Fazendo isso descobriu que bastava se afastar e ficar escondido pros adversários esquecê-lo. A não ser quando o mini-chefe estava protegido, tentar atacá-lo, mesmo surgindo oportunidade, só servia pra fazer o bichão ficar doido, querendo vingança.

Ele percebeu que a melhor forma de derrotar um mini-chefe protegido era eliminar os inimigos um a um, deixando-o por último e caso fosse descoberto, bastava se esconder. Já quando o mini-chefe estava sozinho era só atacá-lo de forma sorrateira, algo que já tirava 50% de vitalidade.

O que dificultava é que o poder de ataque só aumentava após derrotar determinados chefes, assim como a barra de vida e o nível de defesa, após pegar itens que apareciam de maneira restrita – tornando a evolução limitada.

O jeito mais eficiente de derrotar inimigos era com mikiri, stealth e parry – diferente de outros jogos da From Software, nesse a técnica deixou de ser um extra pra se tornar parte da mecânica do jogo e necessária pra superar os adversários. Assim, se defender antes de sofrer um golpe, prejudicava a postura adversária, deixando-o vulnerável.

Como cada adversário possuía um ponto fraco diferente, as formas de vencer divergiam. A parte mais treta foi enfrentar os últimos bosses, o clã Ashina, a partida era dividida em quatro fases, a primeira com Genichiro e as três últimas com Isshin. Cada uma tinha padrões de ataques, um mais complexo que o outro, mas em todas, o segredo era vencer reduzindo a barra de postura, o que exigia proximidade pra usar parry.

Desse jeito ele conseguiu zerar o jogo, não sem passar maior raiva, mas no final toda intensidade de sentimentos acabou sendo boa e o levou a atingir seu objetivo. Pra comemorar, Red fez Boomerang dançando, com a #almalavada e escreveu que a conquista de algo custoso faz a gente enxergar que o tempo perdido e as dificuldades enfrentadas são necessárias quando se deseja um novo patamar.

Empolgado, resolveu jogar novamente, dessa vez aumentou o nível de dificuldade invocando uma maldição, ainda assim não levou mais de uma hora pra completar tudo. Por finalizar o jogo pela segunda vez, além da maldição, ele ainda podia renunciar um item de proteção, tornando tudo duplamente difícil, daí fez selfie, com a TV de fundo, e a tuítou com a legenda “agora a coisa fica impossível #nivelhard”. Se no âmbito do coração as coisas eram complicadas por mais que tentasse, no jogo sua dedicação trazia vitória e talvez fosse esse o problema, já que tinha sorte no jogo, seu desempenho ruim no amor só podia ser consequência disso – pena ele não ter tido paciência com joguinhos antes, se não teria evitado várias bads.


#proximaminisserie

O que uma mãe estaria disposta a doar pelo filho? Em meio ao caos da pandemia de COVID-19, você conhecerá a dimensão do amor de uma mãe. Interrompido é uma minissérie pra falar de sentimentos, entrega, limites e o que é possível, mesmo quando tudo parece acabado.

Ósculos e amplexos,

Mishael Mendes Assinatura
Receba histórias fresquinhas
Inscreva-se pra receber novas postagens assim que saírem do forno