Poesificando: Estações – De janeiro a janeiro vão passar
Erico Marcelino/ Unsplash

De janeiro a janeiro as estações irão passar

No outono era tarde, já entardecia ao mudar o clima,
Reduzindo a duração da luz, ventilou o tédio nos dias.
De mostarda tingiu folhas, amarelando também o céu,
Com os dedos manchados de laranjas e cerejas coloriu
Imaturidade nos tons presentes nas copas das árvores.
Em cada paleta, nova inspiração, que precipita versos,

Derramando fragilidade, as folhas sobrevoam no ar,
Enquanto seguem carregadas pelo vento, reclamam,
Sem compreender seu farfalhar, pra longe ele as leva.
Águas de março, fecham o verão, com fins e renovos,
Tempo de acaso e melancolia, de saudades a época é;
Do alto caiu o tempo, o ano, as folhas e a temperatura.

No inverno era noite, em escuridão as trevas chegaram,
Irrequieto, o vento começou a cantar sombrias canções.
Escorrendo veio a friagem da névoa, invadindo frestas,
Esfriando a morada, marcou ausência, saudade, solidão.
Pássaros e borboletas migrando, se esquivaram em fuga,
Animais hibernaram, se isolando pra não encarar o frio,

Até árvores adormeceram, na terra se ocultaram flores.
Com seu manto gélido adormece, a sonolência se abate,
A vontade é uma: correr pras cobertas e lá permanecer.
Mais longas se tornam as noites, o tempo esfria até gear,
Tempo do Sol se esconder e de tomar chocolate quente,
Quanto mais brilha o Sol, mais se intensifica a friagem.

A primavera chegou mais cedo
Marina Reich/ Unsplash

Na primavera era alvorecer, madrugou aos raios de Sol,
Sem esperar inverno partir, trouxe amenidade ao tempo,
Sua chegada se anunciou por magnólias e marmeleiros.
Inchando córregos e lagos, chegou escoando liquida vida,
Despertando cantos, perfumes, beleza, felicidade, paixão,
Equilibrou os dias e noites, até a escuridão ficar menor.

Ao seu toque se encheram copas, galhos e olhos de verdor,
Com o frescor no contato faz saltar plantas, frutas, riachos.
Tempo de flores, animais correndo, acontecimentos felizes.
De flor a cerejeira se encheu, despertando o ano em beleza,
Momento de sair com quem nos quer bem, fazer piquenique;
A terra escala as estrelas só pra de perto contemplar o Sol.

No verão já era dia, ao meio-dia o Sol começou a queimar,
Gelado surgiu o vento, refrescando o calor de seu toque.
Sob as copas das árvores é que estão os melhores abrigos,
Nas águas a gente se lança e mergulha, buscando refresco,
No frio da chuva, felicidade harmoniza à sete cores no céu.
Enquanto chega, encurta as noites, lotando os dias de luz,

O sol invadiu
Sara Kurfeß/ Unsplash

Sol que invade a noite, sem no horizonte querer se esconder.
Tão longo era que em dois se dividia, entre chuvas e o estio.
O Sol girou em flor, amarela ela brotou, buscando a sua luz;
Época de luzir a escuridão com fogos e brilhantes artifícios,
Estação de chuvas e água que em abundância vem derramar,
Da terra cheiro úmido subiu, das flores o perfume de verão.

Estações marcam tempos, trazendo novidades e renovação,
Vão surgindo enquanto a terra se afasta ou aproxima do Sol,
Mas sem respeitar ordem alguma, as quatro se entrelaçam,
Solstício e equinócio, dançam entre os polos boreal e austral.
Até os oceanos as vêm temperar, amenizando a primavera;
A figueira renova e frutifica, anunciando perto estar o verão,

Enquanto as rainhas ciclames, ao inverno vêm trazer perfume.
Sem importar tempo, sons de grilos, cigarras e coaxar de sapos,
Trazem tanta calmaria pra cultivar amores, amizades e sonhos.
Necessário seria separar as estações, números impares ou pares,
Quando se misturam sem depender de tempo, mudando os ares?
E sem importar o clima, em mim as águas se movem e inundam.


#papolivre

Estações que vão e que vêm, transbordando ribeiros, suas cheias movimentam as águas de março, fechando e iniciando ciclos. Elas fazem a vida girar numa dinâmica que se repete, mas traz renovo, enquanto carregam o tempo em seu fluxo, sem depender de licença vontade ou preparo algum.

Esteja o tempo calor ou frio, ameno ou congelante, as estações nos circundam. E nessa ciranda se vão dias, semanas, anos; quando a gente se dá conta, lá se foi uma vida inteira.

Ainda que sua influência se estenda pela temperatura, isso só ganha atenção na hora de carregar guarda-chuva pra evitar um banho inesperado, ou quando nos transformamos em cebola, com várias camadas de roupa, pra afugentar a friagem, embora não dê pra escapar do vento a queimar o rosto. Isso quando não é a ferocidade do Sol a surrar quem estiver sob seu reinado de calor – como mostra o conto “Cigarra e Formiga – Como você nunca viu“.

A cada estação surgem novidades que pedem atitudes e diferentes decisões, enquanto registram desejos, esperanças e saudades, condensando as interações em lembranças que irão retornar ante a retina [Eclesiastes 11.9]. Assim, seu compasso marca nossa passagem no tempo.

De todas, minha favorita é o outono, onde os excessos de frio e calor são raros. Acho uma delícia sair por aí, com o frescor do vento que se desprende do céu e árvores, enquanto o Sol tonaliza as paisagens de saudade.

Ósculos e amplexos,

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