Poesificando: Disforme, não sei mais quem sou
Francisco Gonzalez/ Unsplash

Disforme, não sei mais quem sou

Quem sou eu? Quem posso realmente ser?
Questionamento que beira a simplicidade,
Mas que não sei onde começa a resposta.
Enquanto pareço, ainda, ser tão comum,

Vejo-me em práticas que jamais imaginei.
O que antes era ódio agora paixão se faz,
Aquilo que me agradava, causa-me furor.
O bem que desejo, exatamente não faço

E o mal que detesto a prática se tornou.
Já não sou o que um dia acreditava ser,
Pessoas me olham e unicamente veem,
Aquilo que os olhos as podem mostrar,

Sem enxergar complexidade do abstrato,
O universo de indagações dentro de mim.
Perdi a forma, o tom, a cor, o som partiu;
Disforme ser, multifacetado em sombras.

Cacos ao vento
Sander Weeteling/ Unsplash

Traído, quebrantado, caco do vaso de barro
Tornou-se pó, partículas sopradas, se foram;
Forma do impudico e palpável então tomei,
Do imaterial, alcancei imenso afastamento.

A forma que tomei ainda mais me deformou,
Perdi a essência, o perfume, deixei de exalar;
Sou apenas imagem de meus próprios medos,
Semelhança da dor que de constante aflige.

Quem sou e o que mais ainda posso desejar?
Penso dia algum será decifrado esse enigma.
Quanto mais tento ocultar, da visão, defeitos,
Mais evidentes e deformados eles se tornam.

O que desconfiam pode realmente ser o que é,
Já o que se aguarda, é aquilo que já nem sou.
Sigo em indagações que apenas embaraçam,
Enlaçam, fazendo me perder dentro de mim.

Percebo que dúvidas não fazem pensar mais,
Servem apenas pra anular certeza e propósito,
Mostrando a dimensão da ignorância minha,
A pequenez de uma disforme alma obstinada.


#papolivre

Existe em nós uma briga violenta entre o superego e o id, e no meio do fogo-cruzado se encontra o ego. Paulo definiu esse caos interno como a luta entre a carne (matéria deformada) e o espírito (o intangível que nos liga a D-s) pra gente não fazer nossa própria vontade [Gálatas 5.17] – algo melhor contextualizado no artigo “A falta de sentido e humor da vida“.

É provável que a carta aos Gálatas tenha sido escrita entre 49 e 55 d.C., já Sigmund Freud publicou a revisão final de “O Ego e o Id” (“Das Ich und das Es“) – livro que trouxe os três componentes estruturais da psique humana – em 1923, ou seja, quase 1900 anos depois. Quando se trata de mente (coração), a Bíblia destaca-se por ser a primeira a abordar o tema, além de trazer conceitos com mais profundidade que a própria ciência da alma, a psicologia, [Provérbios 27.19, Jeremias 17.9, Mateus 12.34, Provérbios 4.23].

Algumas vezes a gente acaba fazendo o que não queria [Romanos 7.15,21] e sofre as consequências [Gálatas 6.7], ou o arrependimento por não fazer o certo; ou o planejado. Ainda que o erro aconteça – já que nossa humanidade é sujeita a falha – a gente não deve tomar a forma que nos deforma, mas mudar tendo novas atitudes através da renovação da mente [Romanos 12.2]. Ou seja, não podemos deixar que uma falta defina o nosso caráter, mudando a mente e o que ocupa os nossos pensamentos [Jeremias 29.11], focando nas coisas eternas [Colossenses 3.2] que trazem esperança [Lamentações 3.21-24].

Ósculos e amplexos,

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