Poesificando: Sombra e luz num conflito sem fim
Mario Azzi/ Unsplash

Sombra e luz num conflito sem fim

Quantas vezes se pode errar, tentando encontrar o caminho?
Em que quantidade se apagará a lâmpada, luz da vereda?
Como seca a erva ensopada, sem corte ou escoriação?
Qual o caminho do vento e de onde soa sua voz?
Será 490 extenso número ou apenas relatividade do infinito?

Conteria o fruto do contínuo acréscimo,
De unidades conformadas a círculos verdadeiros,
Restabelecer o sopro de águas tranquilas,
À quem, ao passear ali, profundezas sondou?

Universo, vida, tudo mais e a eternidade,
Imenso tempo que se arrasta por um verso único,
Encontraria, ao soar dos lábios, o fim da vida?
Sexto dia colocado a frente do sétimo,
Quarenta e dois se te dá, após longa espera.

Translúcido tear, resistente as intempéries celestes,
Segue voando, desfaz-se a plenitude, vapor ao meio-dia,
Longa espera se torna em fardo, vai-se a esperança
Enquanto enfraquece e adoece o coração,
Grãos de peso mortal, levam as profundeza das águas.

A glória do amanhecer despertará com o sol,
Ao erguer-se cálido, incandescente, em majestade e poder,
Luz da aurora, nascendo até ser o dia perfeito.
Fujo à sombra de nuvens, volteando, corro em círculo,
Em voltas e meia voltas, buscando algum descanso.

O que faço escuridão buscar, se ardente luz desejo?
Estaria em busca da sombra das asas
Ou refúgio sob desconhecida árvore?

No mais alto monte, extremos do mar,
Montes e outeiros, a ocultar densas trevas,
Poderia ali também me esconder?
Sinto noite resplandecer o sol.

Corro às águas pra colher o fruto,
Amoreira plantada no meio do mar,
Grão que move montanhas, daqui pra lá.

Resoluto avanço, prosseguindo a caminhada,
Então, desespero, sem ter onde ir, direção perdi.
O norte me desnorteou, descubro precisar centrar,
Não mais há, como permanecer à periferia.

Pulando descalço
Eddie Kopp/ Unsplash

Pés descalços, sobre a terra, me pego pulando,
Passos cada vez maiores, saltos,
Agora são voos, forças restabelecidas,
Renovo de águia, abro as asas,
Planando pela imensidão, liberdade azul.

Descobri que liberdade não é viver vontades ou desejos,
É escolher dizer não ao que mais quero…
Livre, é quem vive não apenas pra si,
Mas o que se doa por bem maior.

Trocar fado por peso de glória, julgo suave, leve fardo,
Recompensas pelo invisível, visto somente por olhos de fé,
Montes que não abalam, indiscutível prova do que se não vê.

Assim voo, alcanço altura maior, rumo ao sol
Que mesmo a noite brilha sem fim, luz intensa,
Maior visão ao se erguer, serpente no deserto,
Olhar fixo, escamas caindo, cegueira desfaz.

Só compreende o valor da eternidade
O que percebe a beleza do instante.
Colhe o dia, ainda menos fiado no amanhã,
Já que te não pertence, a indomável fração de tempo,
Mal te cabe o presente que hoje recebes.

Vapor que surge, logo desfaz,
Árvore, que na viração do dia feneceu.
Levanta os olhos, vês campos sem fim,
Os lírios crescentes despontam,
Dando renovo ao brilho do orvalho,
Sua honra não vem da dor ou tear.

Erva que secou, flor murcha a cair,
Ao soprar do impetuoso vento e arder do sol,
Apatia flamejante, devora pastos verdejantes,
Dia subsequente de teu pesar.

Árvore cortada, seus ramos renovam,
A raiz envelhecida, de morto tronco no pó,
Ao cheiro das águas torna a brotar,
Oliveira, com folhagens, se põe a colorir.

Terra se desfaz em lago
Kristopher Roller/ Unsplash

Terra seca desfaz, em lagos e mananciais,
Águas vivas afogam dos chacais a sede,
Ervas e juncos brotam, da mais dura rocha água saiu.
O ardente sol, que abate no estio
É o mesmo que, em esplendor, te há de erguer.

Ouço de longos dias, afáveis palavras,
Desde o princípio, sagradas letras, áureo reluzir,
Tragas pelo vento, de onde não sei dizer,
Desconheço, no céu sem fim, o trajeto feito.

Descanso, sobre a terra sopra o vento,
Caminho sobre a várzea, espelho-me na água.
Eis o sol, brilhando mais,
Pesa seu brilho sobre meu existir.

Quanto maior a labuta, mais suor escorre,
Na intensa dor, aumenta o prazer a luz se ver,
Sim, descendo do céu, o repouso vem.

Escuridão não é ausência de luz, apenas pausa,
Até raiar a verdadeira e incandescente luz.
Só existe sombra pelos obstáculos frente ao sol,
Desfazendo-os, resta apenas, da luz, os raios.
Treva não é antônimo, ainda assim é cárcere.


#papolivre

Esse foi um dos poemas que mais demorou pra ser escrito, gastei três pra isso, a maior parte em pesquisas, revisão em cima de revisão, agora, anos depois, após tantas outras revisões e adequações pra o deixar menos complexo, fico feliz em apresentar o resultado final.

Ele foi o produto resultante da inspiração de quase 50 versículos da Bíblia – o maior livro lírico que conheço, com poesias a cada verso – mais ou menos dez etimologias, músicas, poemas e poesias, cultura popular e também algumas crenças. O tempo em que o concebi perdeu-se, mas isso não incomoda – não me prendo mais a datas como antes – mas o iniciei num momento de imensa melancolia, voltando a reescrevê-lo um bom tempo depois.

Que o Eterno ilumine seus passos [Salmos 119.105] e que essas palavras possam te guiar. Como elas tratam de coisas profundas, releia quantas várias vezes julgar necessário, até você despertar, aí sim, tudo vai se esclarecer [Efésios 5.14] e você entenderá a verdadeira diferença entre a Sombra e Luz.

Ósculos e amplexos,

Mishael Mendes Assinatura
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