Poesificando: A vida que a morte concedeu
Guillaume de Germain/ Unsplash

A vida que a morte concedeu

Quando decidi morrer
É que descobri a vida,
Ainda não experimentada.
Livre de minha vontade
Corro sem estorvos pra Ti.

Quando decidi morrer
Achei belo e aprazível dia
E cores que geram aliança,
Testemunhando verdade
Que jamais vai ter um fim.

Quando decidi morrer
Vi que a Luz segue a brilhar
Basta saber direcionar visão.
Que sombras não assustam,
Nem mesmo podem cegar.

Quando decidi morrer
Experimentei liberdade,
Que jamais poderia existir
Se não fosse pela morte.

Quando decidi morrer
No firmamento notei areia.
Na tempestade e tormenta
Vejo um caminho a se abrir.

Quando decidi morrer
Pude me reestabelecer,
Os pedaços se juntaram.
Moldado por fortes mãos,
Tornando-me completo.

Quando decidi morrer
Perdi o medo da morte,
Parei de estar perdido,
Reavi o que não tinha.

Morrer pra mim mesmo
nikko macaspac/ Unsplash

Quando decidi morrer
Vi que uma palavra altera
E, ainda que não haja, cria.
O invisível toma forma,
Frutifica o que se plantou.

Quando decidi morrer
Descobri o que é o novo,
Ao som das águas vivas
Os ramos se intensificam.

Quando decidi morrer
Exalei perfume agradável,
Cheiro suave de reanimo,
Singular e atraente olor.

Quando decidi morrer
Descobri estreito caminho
Onde passos seguem certos,
Levando a derradeiro triunfo.

Quando decidi morrer
Experimentei a paz que
Entendimento desconhece
E que dissipa toda confusão.

Quando decidi morrer
Mathias P.R. Reding/ Unsplash

Quando decidi morrer
Senti prazer nos espinhos,
O sofrimento tornou-se
Razão a de júbilo cantar.

Quando decidi morrer
Perdi o medo da noite.
A escura madrugada
Brilha como clara luz,
Se foi sono, opto vigilar.

Quando decidi morrer
Aprendi a ganhar,
Pois percas resultam em
Algo de peso ainda maior.

Quando decidi morrer
Perdi o medo de amar,
Aprendi que amor é prática
É braços abertos, é poder…

Só quando decidi morrer
Nasci uma nova criatura,
Sem vontades, sem querer,
Sem chance pra algum erro,
Alguém liberto de si mesmo.


#papolivre

O que possuímos de maior valor, sendo uma conquista irrevogável logo ao nascer é o direito a liberdade. O livre-arbítrio é o que concede o poder de se fazer escolhas, decidir o que é melhor pra si mesmo, mas como o temos feito, baseado no que é o mais correto ou apenas no mais prazeroso?

Independente do tamanho ou se a escolha é boa ou má, ao optar por algo somos responsabilizados por isso. Cada decisão resulta em algo, onde a única certeza é colhermos seus frutos [Gálatas 6.7] – a própria física atesta que cada ação resulta numa reação.

Sendo assim, abrir mão do livre-arbítrio não parece ser má ideia. Imagine como seria bom ser livre de si mesmo, poder passar por cima de própria vontade e desejos que às vezes podem ser tão opressores?

Fazer isso não significa se tornar um robô – destituído de qualquer personalidade – mas saber o que é realmente melhor pra nós, pois, apesar da aparente liberdade possibilitada por nossas escolhas, são elas que escravizam, nos tornando mesquinhos a ponto de ficar presos ao ego – isso se não nos levar a algo pior [Tiago 1.14-15].

A real liberdade só passa a existir quando sou capaz de negar a mim mesmo, suportando minhas deficiências e dor [Lucas 9.23-25], quando decido morrer e uso minha liberdade de escolha pra optar em não mais viver pelo que me é conveniente ou prazeroso, só aí é que passo experimentar a verdadeira vida [Gálatas 2.20].

Ósculos e amplexos,

Mishael Mendes Assinatura
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